Mais rigoroso arquivo on-line do teatro brasileiro, Enciclopédia Itaú Cultural cresce

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A considerável fatia de história do teatro brasileiro da qual programas avulsos de peças, sites de grupos e publicações especializadas de periodicidade irregular não dão conta está mapeada on-line na Enciclopédia Itaú Cultural de Teatro.
Desdobramento de uma idéia do crítico polonês radicado no Brasil Yan Michalski (1932-1990), que pretendia publicar um "quem é quem" da cena nacional, o site entrou no ar em 2001 -ainda sob o nome de Panorama do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Antes disso, a pesquisadora Johana Albuquerque fizera uma primeira triagem e atualização das anotações de Michalski.
A matéria-prima para os 726 verbetes atualmente abertos a consulta são críticas, reportagens, dissertações e artigos acadêmicos garimpados nos arquivos da Funarte e do Centro Cultural São Paulo e nas bibliotecas Jenny Klabin Segall, da UNI-Rio e da ECA/USP.
A ferramenta de busca permite pesquisas nas categorias "personalidades" (aqui compreendidos dramaturgos, diretores, atores etc.), "companhias e grupos" ou "espetáculos". No total, há fichas resumidas de 10 mil profissionais e 6.000 peças -elaboradas por uma equipe de 15 pessoas.
O marco inicial do banco de dados da enciclopédia é o fim da década de 1930, quando surgem duas das companhias que irão inaugurar o teatro brasileiro moderno: Os Comediantes e Teatro do Estudante.
A primeira se opunha ao modelo do teatro de revista e dos atores-empresários em montagens como a histórica "Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues, dirigida por Ziembinski. A segunda, fundada por Paschoal Carlos Magno, investiu na formação de atores e ficou marcada pelo Hamlet encarnado em 1948 por Sergio Cardoso.
Concentrada na produção do eixo Rio-São Paulo, a enciclopédia cobrirá novos circuitos a partir de fevereiro de 2009. É quando sobe o pano para uma leva de verbetes sobre o teatro de Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

Quem entra
Os dramaturgos Qorpo Santo (1829-1883) e Ivo Bender e a companhia Ói Nóis Aqui Traveiz (que recebeu dois prêmios Shell-SP neste ano) lideram o front gaúcho. De Minas, entra uma combinação de grupos que se afirmaram nesta década, como Espanca! e Luna Lunera, e coletivos veteranos, como o Giramundo. Pernambuco comparece com Osman Lins (1924-1978) e o Teatro de Amadores, uma das mais antigas companhias de atores não-profissionais do Brasil.
Mais dois ou três Estados podem ser catalogados em 2010, de acordo com a gerente do núcleo de artes cênicas do Itaú Cultural, Sonia Sobral. Para ela, ainda é preciso evidenciar a amplitude do acervo virtual para parte dos internautas (mais de 1,6 milhão acessaram o site, entre junho de 2002 e novembro passado):
"Tem muita gente que se relaciona com a enciclopédia on-line como se ela fosse de papel. A riqueza dela são justamente as relações que se pode estabelecer; mas você tem de ter uma pergunta para fazer um cruzamento de dados."

Newton Moreno inédito
Para divulgar a expansão da enciclopédia, estão previstas apresentações de um espetáculo inédito do dramaturgo e diretor pernambucano Newton Moreno (duas vezes premiado com o Shell) e de uma produção do Giramundo a partir do texto "Relações Naturais", de Qorpo Santo. Ambas devem acontecer em fevereiro, em São Paulo.
O baú teatral on-line do Itaú Cultural deve ganhar companhia em breve: estão em desenvolvimento enciclopédias de dança, música e cinema e vídeo. No ar, há compêndios de literatura, arte e tecnologia e artes visuais.

HIPERLINK

Trecho do verbete "Um Molière Imaginário" (no ar em 2009):
"[...] Montagem do Grupo Galpão, é uma adaptação do clássico "O Doente Imaginário", de Molière, com direção de Eduardo Moreira e dramaturgia de Cacá Brandão, realizada depois do ciclo Gabriel Villela [...]
A dramaturgia incorpora ao texto referências a "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, utilizando-as para encontrar o tom sarcástico da peça. Figurinos e movimentos são inspirados no clima onírico e na leveza das pinturas de Marc Chagall, com predomínio da cor lilás. A atmosfera de sonho está presente também nos adereços e na cenografia, que remete a obras do pintor Piero della Francesca, representante do quatroccento italiano."

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