São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2008

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Comentário

Enciclopédia foge do modelo interativo

NELSON DE SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

A Enciclopédia de Teatro, junto às outras do Instituto Cultural Itaú, de artes e literatura, levou à internet um modelo que vem do papel. Poderia ter aprendido nela mesma, internet, um modelo mais apropriado ao novo meio.
Como está, de qualquer maneira, é um instrumento que conforta toda uma comunidade teatral, aquela do eixo Rio-São Paulo, sedenta por registro histórico, como é próprio da criação efêmera do palco.
O site espelha a cena contemporânea, de maior diversificação, como os cadernos "Dyonisos" retrataram e até ajudaram a estabelecer o teatro brasileiro moderno, com suas edições voltadas aos Comediantes, ao TBC, Arena, Oficina.
O que aquelas publicações traziam de revelação e extensa informação esta enciclopédia traz de diversidade, ainda que nem tanto de profundidade.
Retrata companhias e personalidades do passado, mas é no relato contemporâneo que se apresenta mais valiosa, por ser tão fragmentada a produção atual -e tão estilhaçado seu registro.
Mas a enciclopédia não espelha a contemporaneidade em sua própria forma. Não aprendeu com Wikipedia e outros mecanismos de interação que permitiriam aos criadores ajudar a escrever sua história.
Até nos links, que mais parecem um desenvolvimento de índice onomástico, a enciclopédia é voltada para si mesma, desconfiada da contribuição externa. Acaba por se fechar nesta ou naquela filiação, como é próprio do modelo em papel. Pode-se até imaginar que, cedo ou tarde, vai acabar em livro.
Não deixa de ser curioso que tome por ponto de partida o ano de 1938, quando se abre o teatro brasileiro moderno, segundo a história oficial. Está aí um preceito que não resistiria a um mínimo de interação mais agressiva.
E que não acompanha sequer os estudos enciclopédicos mais complexos, recentes, como o "Dicionário de Teatro Brasileiro" coordenado por Jacó Guinsburg, na editora Perspectiva.


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