São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 1998.



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TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
Instituição vai analisar tese que afirma ser do neto do poeta os restos mortais em Ouro Preto
Museu não garante autenticidade de ossada

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

Os restos mortais enterrados na sepultura do poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, em Ouro Preto, são "atribuídos" a ele, mas o Museu da Inconfidência não pode garantir que sejam realmente do poeta.
A afirmação foi feita pela historiadora Carmem Lemos, pesquisadora do museu, falando por telefone de Ouro Preto (98 km a sul de Belo Horizonte) à Agência Folha.
Ela disse que o museu vai analisar a tese defendida pelo jornalista Adelto Gonçalves, na USP, no final do ano passado. Segundo o trabalho, a ossada sepultada pertenceria ao neto de Gonzaga.
"Ele deve ter encontrado alguma coisa no Arquivo Ultramarino, em Lisboa, onde nós não temos condições de ir para pesquisar", afirmou. Ela disse não saber o que poderá acontecer se a direção do museu ficar convencida que os restos não são de Gonzaga.
A atual sepultura fica no panteão da Inconfidência, uma sala do museu que abriga os restos mortais de mais 12 inconfidentes e os da musa do poeta, Marília de Dirceu.
Toda documentação do museu relativa aos restos mortais de Gonzaga se resume a artigos de jornais da época da repatriação e entrevistas pessoais.
Segundo Lemos, o museu não pode comprovar a autenticidade das ossadas porque não possui sequer os autos de exumação feitos na África. Só se sabe da existência desses autos por meio do testemunho escrito do historiador Augusto de Lima Jr., morto em 1970.
Quanto a Marília de Dirceu, seus restos foram retirados de uma sepultura na matriz de Nossa Senhora da Conceição, a poucos quarteirões de distância do museu.
"Grande parte do acervo não tem registro de onde procede. Acredita-se que tudo foi organizado com seriedade por uma equipe responsável, chefiada por Rodrigo Melo Franco (de Andrade, jornalista)", disse a pesquisadora.
Além das ossadas, a forca que teria sido usada na execução de Tiradentes, no acervo do museu, não tem documentos que comprovem sua autenticidade.
Exames técnicos
Lemos afirmou que a direção atual do museu tem tido cuidado em incorporar ao seu acervo mais ossadas, também atribuídas a inconfidentes, que foram armazenadas pelo Ministério das Relações Exteriores desde a década de 30.
Elas pertenceriam a Domingos Vidal Lage, João Dias da Mota e José Resende Costa e foram repatriadas de Guiné-Bissau (África) por um diplomata brasileiro, em 1934.
"Se ficar provado que não são dos inconfidentes, vamos enterrá-las em algum cemitério. Caso contrário, serão enterradas no panteão da Inconfidência", disse.
Ela afirmou que não sabe se a ossada de Tomás Gonzaga também seria submetida ao mesmo exame. Isso é estranho porque o Ministério das Relações Exteriores possui, ao menos, o auto de exumação das três ossadas, documento que o Museu da Inconfidência não tem sobre os restos de Gonzaga.
Para Lemos, a melhor forma de comprovar a autenticidade dos restos mortais do poeta é aprofundar o estudo sobre o processo de repatriação, que continua obscuro, mais de 60 anos depois. "Foi muito confuso, com conotações políticas", disse.



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