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O lado B da moda
Cinco estilistas conversam sobre a situação das pequenas grifes em meio aos grandes grupos de moda na SPFW; temporada outono-inverno 2010 do evento começa hoje
Filipe Redondo/Folha Imagem
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ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Começa hoje a SPFW e, com
ela, vem o foguetório fashion:
as modelos famosas, os desfiles
espetaculares, as estrelas nas
passarelas e as celebridades na
plateia. Tudo isso faz parte do
mundo da moda e também da
semana paulista.
Ao mesmo tempo, um bom
número de pequenas grifes se
apresenta sem muito burburinho, tentando cavar um lugar
ao sol da moda, em meio ao poderoso aparato acionado pelas
grandes marcas.
Essas grifes são o lado B da
SPFW: mostram suas coleções
nas menores salas do evento e
não têm verba para montar
grandes espetáculos nem para
castings de luxo. A elas, só resta
mostrar o que têm de melhor: a
sua moda criativa.
A Folha reuniu cinco estilistas, donos de grifes ainda pequenas, para conversar sobre a
sua situação na SPFW: o curitibano Jefferson Kulig e os paulistas Erika Ikezili, Priscilla Darolt, Simone Campos e Wilson
Ranieri. Os quatro últimos participaram do extinto evento de
moda jovem Amni Hot Spot.
A seguir, os estilistas apontam as limitações atuais da
SPFW na relação com as pequenas grifes e falam também
das vantagens de pertencer ao
cobiçado line-up da principal
semana de moda do país.
FOLHA - Depois de alguns anos na
SPFW, vocês acreditam que a visibilidade de suas grifes aumentou ou
vocês se sentem relegados a um segundo plano neste evento?
ERIKA IKEZILI - No começo, eles
cuidaram mais da gente. De repente, ficamos meio largados,
em salas pequenas, onde não
cabiam direito a imprensa, os
compradores e os patrocinadores. Mesmo assim, a visibilidade que o evento traz é verdadeira. E, quanto à exportação, tenho que dar o louvor à SPFW,
porque não tenho escritório fora do país, e os clientes me procuram porque viram as minhas
criações lá fora, em sites.
WILSON RANIERI - O evento me dá
uma grande parte da estrutura,
como a iluminação e o som do
desfile etc. Não preciso pagar
por isso. O fato de a sala ser pequena não me incomoda. Ela é
do tamanho que eu preciso.
Quanto aos grandes grupos,
penso que não são incompatíveis conosco. Cada grife tem
uma proposta diferente. Minhas vendas aumentaram desde que eu entrei no evento. Eu é
que não consigo atender a todo
mundo, por causa do tamanho
da minha empresa.
SIMONE NUNES - A diferença é
clara. Mesmo que um grande
grupo tenha problemas financeiros, isso não fica claro nos
desfiles. No nosso caso, esses
problemas aparecem de maneira muito nítida. Mas o fato de
eu desfilar na SPFW, é claro, dá
visibilidade à minha grife.
JEFFERSON KULIG - A SPFW sempre deu um bom suporte. Mas
acho que, em termos de administração, deveria separar os
criadores de moda dos grandes
grupos, dar um apoio diferenciado. Quando alguém trabalha
com criação autoral, é muito
mais difícil comercializar um
produto. Lá dentro a gente é
tratado com um todo. Eles não
têm culpa, mas o problema é
que a cliente muitas vezes não
sabe diferenciar uma marca
criadora das outras grifes. Ela
vê um desfile que é um supershow, com grandes modelos, e
isso vai influenciar na compra.
PRISCILLA DAROLT - O lugar que a
grife ocupa na SPFW não vai
definir o seu futuro, o que conta
é a capacidade de gestão. As
grandes marcas são muito calcadas em empresários, não em
estilistas. Agora, tenho me
preocupado menos com o desfile e mais com a realidade da
empresa. O importante é ter
um apoio para viabilizar a coleção comercialmente. Para o
desfile, sempre damor um jeito.
FOLHA - Vocês acham que a SPFW,
nos últimos tempos, está se voltando cada vez mais para as grandes
grifes e está menos preocupada em
revelar novos talentos?
JEFFERSON - Todo mundo faz
desfile para passar uma imagem de moda e para vender. A
moda só funciona porque existe consumo. Mas sinto que há
dez anos havia mais marcas
criadoras de moda. Hoje existem mais marcas de roupas do
que de moda.
SIMONE - As pessoas olham a
SPFW como se fosse um todo,
porque, ao contrário de outros
países, todos os desfiles são feitos num mesmo lugar. Mas não
é assim. O evento é muito heterogêneo, e a gente tem de olhar
cada grife conforme o seu histórico. E nós estamos lá, no
meio dos peixes grandes.
ERIKA - Isso é real, aconteceu:
diminuiu mesmo a quantidade
de criadores dentro do evento.
Foi um movimento de seleção
natural de empresas.
FOLHA - Seus negócios são muito
dependentes da imagem da SPFW?
Vocês existiriam no mercado se saíssem do evento?
PRISCILLA - A SPFW nos permite mostrar as nossas criações.
No conjunto, estar ali ajuda
bastante. As vendas da minha
grife são estáveis e só não cresceram porque não tenho estrutura empresarial para dar conta
de grandes encomendas.
JEFFERSON - Comercialmente,
vejo muita gente sobrevivendo
fora da SPFW, mas ela é importante para mim porque me leva
a um exercício de criatividade.
Sem ela, acho que eu iria exercitar menos a criação e ficar
mais comercial, deixando de fazer o que mais gosto. Mas, em
termos financeiros, a cliente
não compra apenas porque você está na SPFW. A sua roupa
tem de valer a pena.
WILSON - Acho que sou dependente, sim. Se não fosse a
SPFW, eu teria de inventar outra estratégia de marketing.
ERIKA - Vejo a minha marca
muito vinculada à SPFW, mas é
como o Wilson falou: sem o
evento, eu buscaria sobreviver
de outra forma.
FOLHA - Vocês têm feito um grande esforço para tornarem suas marcas conhecidas?
PRISCILLA - Pode não rolar do
jeito que eu imaginava, mas eu
me esforço bastante.
JEFFERSON - Com certeza, tenho
trabalhado muito. Para você
ser um criador de moda no Brasil, tem de acordar pensando
como vai sobreviver e o que
apresentará de novo. É uma luta constante.
WILSON - Acho que, sim, tenho
me esforçado bastante. Agora
preciso me virar para que as
pessoas tenham ainda mais
acesso ao meu trabalho.
ERIKA - Sim, me esforço demais. Mas sei que falta muito. É
isso que me faz continuar.
SIMONE - Eu me esforço tanto
que já ultrapassei todos os limites (risos). Nós temos um ponto positivo que é estarmos fazendo moda autoral. Com o
tempo, você descobre que desenvolveu uma identidade genuína para a grife e que o autoral pode funcionar comercialmente. Ou seja, temos de encontrar o público que quer consumir peças autorais.
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