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"Nós sempre mantivemos o discurso punk"
COLUNISTA DA FOLHA
Punk, dinheiro e bactérias.
Leia entrevista com Dexter Holland, do Offspring.
(LR)
Folha - Como você descreveria
esse "Splinter"?
Dexter Holland - Uma mistura
de canções punk rápidas e grudentas, típicas do Offspring,
com músicas que vão a diferentes lugares, como o reggae, o
rock tradicional e hip hop.
Folha - Do que trata a música
"Hit That"?
Holland - "Hit That" tem corpo de hip hop e refrão punk. A
história da letra é sobre a desintegração da família. Todos os
pais e mães da banda são divorciados. Nossas famílias foram
divididas em duas partes. Hoje
todos os nossos pais têm quatro filhos com três pessoas diferentes. Nossa família é dividida
em cinco, seis partes. É uma bagunça. O conceito de família,
de laços, está desaparecendo.
Folha - O histórico terceiro álbum, "Smash", o mais vendido
disco independente da história,
completa dez anos neste ano...
Holland - É incrível ver que
"Smash" tem dez anos. Fico
muito feliz e orgulhoso que ele
tenha essa fama que dizem.
Quando o disco ficou pronto,
achei que ele iria ser significativo de alguma forma, mas não
dessa maneira. Por outro lado,
é esquisito perceber que estamos velhos. O Offspring tem 20
anos, "Smash" tem dez. Não faremos comemorações especiais. Talvez uma festa.
Folha - Como você vê o punk
rock atual, que virou trilha sonora favorita de seriado e está impregnado do desespero "emo"
[tipo de hardcore "sensível"]?
Holland - A música está sempre mudando. Hoje a garotada
acha que o punk rock é o que
bandas como Sum 41 e Good
Charlotte fazem. Mas, se essas
músicas são importantes para
eles de alguma forma, acho que
faz todo o sentido. É o jeito de a
música sobreviver diante das
expectativas que sua época exige. Mas o punk de hoje já não
tem mais a ver com o punk do
Offspring e já está muito distante do que fizeram os Pistols.
Aí você percebe que está velho.
Folha - Essa apareceu no site
do Offspring na internet, em um
bate-papo entre fãs e a banda:
vocês venderam milhões de discos, viajaram o mundo, ganharam bastante dinheiro e
têm jato particular.
Vocês ainda podem
ser chamados punks?
Holland - Respondo
muito essa pergunta. O que
quer que o punk seja considerado, acho que não tem nada a
ver com vender discos ou como
você consiga dinheiro através
dele. No caso do Offspring, é fazer músicas que representem
um olhar desconfiado de como
vemos o mundo. Um olhar juvenil, pessoal e incrédulo de como as coisas são conduzidas.
Isso é o punk do Offspring.
Nossas vendagens parecem
contradizer isso, mas sempre
mantivemos o discurso punk.
Folha - O que você se lembra
dos shows do Brasil, em 97 e 99?
Holland - A lembrança de fãs
completamente insanos. Tocar
na América do Sul é melhor do
que nos EUA. Precisamos de
uma reação do público que
muitas vezes só encontramos
aí, no Japão e na Inglaterra.
Folha - Quando o Offspring desaparece da cena, você vive
trancado em um laboratório, lidando com microbiologia, não?
Holland - Um pouco. Estudei
biomedicina por muito tempo,
mas essa vida fazendo shows,
estúdio me afasta de coisas como livros. De vez em quando
me pego trancado em casa durante dias, lendo sobre bactérias. Tenho um laboratório em
casa. Isso eu acho punk.
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