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LITERATURA
Ao se apropriar de símbolos do showbiz, Ademir Assunção reavalia contracultura
Deboche discute indústria pop
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REDAÇÃO
A contracultura cultivada pelo
escritor Ademir Assunção, 42, em
seu romance "Adorável Criatura
Frankenstein", parece assumir
uma conotação diferente daquela
explorada pelos seus autores inspiradores, entre eles José Agrippino de Paula e Paulo Leminski.
A diferença não se deve ao estilo, mas ao ambiente sociocultural
em que o texto é lido. Do ponto de
vista do leitor atual, o convívio intenso com as imagens que são colhidas pelo autor como que corroboram uma espécie de "naturalização" do virtual retratado.
O universo em que abandona
seu protagonista, batizado Eu, é
um labirinto de virtualidades onde se cruzam figuras da indústria
do showbiz, como bailarinas de
axé, artistas da MPB e políticos,
cercados por índices da cultura
pop cuidadosamente colocados.
"O que procurei foi trabalhar o
limite entre a ficção e a realidade
num mundo bombardeado pelo
excesso de informações. O único
que não sabe quem é e o que faz
na história é justamente o personagem central. Cercado de "celebridades", ele não distingue mais
se Caetano Veloso é ficção e Pernalonga um personagem real, ou
vice-versa. Tudo se mistura e ninguém mais sabe sua identidade".
Nesse quadro, nada mais real do
que o signo apresentado como índice de virtualidade num país que
se quer um "reality show". A pergunta que resta é se esse estado de
coisas representaria a esterilidade
definitiva da contracultura.
"É evidente que grande parte da
mídia, da indústria cultural e do
mundo acadêmico tem interesse
em esvaziar as posturas que as colocam em xeque. E muitos ditos
artistas também banalizam procedimentos que eram radicais. O
que era ousadia, vira repetição.
Mas o que é conhecimento, inquietação, inventividade, fica intacto; basta ir direto à fonte sem
perder tempo com diluições."
O instrumento que o autor utiliza para reavaliar a indústria cultural e reapropriá-la é o deboche.
"Dá para se divertir muito ridicularizando os símbolos da sociedade atual: o consumismo, o hedonismo das "celebridades", a burrice propagada pelas mídias eletrônicas, a vigarice publicitária."
Como matéria-prima, a "fábula
contemporânea" de "Criatura
Frankenstein" utiliza as palavras e
dobra-se sobre si mesma numa
revigoração da metalinguagem
tão abusada pela literatura atual.
Por isso, Eu quer acertar suas contas diretamente com o narrador, o
único responsável.
Nesse sentido, a criação de Assunção remete à sua produção
poética, particularmente ao livro
"Zona Branca" (Altana), cujo título define "uma área de deslocamento, em outra dimensão de espaço-tempo, onde os presidiários
são submetidos à incomunicabilidade total, embora possam ver
em detalhes tudo o que está acontecendo em torno deles, no chamado mundo real. Os que mantêm a lucidez assistem incrédulos
à degradação criada por poderes
nem sempre identificáveis".
Reunido entre os nomes que
compuseram a polêmica antologia "Geração 90", Assunção
-que é um dos editores da revista "Coyote"- não pestaneja ao
criticar a denominação.
"A desinformação e a arrogância da crítica e da imprensa acabaram contribuindo para o surgimento do rótulo. Nos últimos dez
anos cansamos de ler textos afirmando que nada é significativo na
cultura brasileira. Quem estava
informado sabia que era mentira.
Gostaria que o rótulo se dissolvesse logo. O que há são ótimos autores contemporâneos, na poesia,
na prosa, no teatro, na música."
ADORÁVEL CRIATURA
FRANKENSTEIN. De: Ademir Assunção.
Editora: Ateliê Editorial. Quanto: R$ 30
(228 págs.)
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