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CDS
METAL
Menos world, ex-vocalista do Sepultura apresenta o álbum "Dark Ages"
No Soulfly, Max Cavalera faz seu melhor álbum desde "Roots"
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Haverá vida após o metal?
Essa pergunta Max Cavalera, ex-vocalista e guitarrista do Sepultura desde 1996 e cérebro do
Soulfly, deve se fazer dia e noite.
Com o lançamento de "Dark
Ages", quinto disco desde que se
separou da banda que fez "Roots
Bloody Roots", essa percepção se
torna ainda mais nítida.
Primeiro, isso não deveria ser
surpresa. O metal é talvez o único
gênero que trata o tema da morte
com naturalidade freqüente. E
Max coleciona mortos, sejam ídolos ou entes queridos.
Desde o primeiro disco do
Soulfy, de 1997, há uma dedicatória para seu enteado Dana Wells,
assassinado por uma gangue. Em
"Dark Ages", a lembrança "in memoriam" prossegue, intocada.
A essa recordação, é acrescentada a perda de Moses, neto de sua
mulher, Gloria, e outros 18 nomes
a quem Max pede a Deus que descansem em paz, entre eles Chico
Science e Dimebag Darrell, do
Pantera. E o Soulfly sempre foi a
terapia de Max para as perdas.
Tudo isso faz com que se entenda melhor cada minuto de exorcismo de "Dark Ages", que começa com uma breve introdução até
que "Babylon" baixe a porrada.
A grande sacada de Max neste
CD é ter equilibrado melhor as influências de world music, que deixavam a sonoridade da banda
meio desfocada do metal tribal
que estava em seu início.
Menos xavante, menos candomblaico -sem perder essas
influências-, a química com
Marc Rizzo (guitarras), Bobby
Burns (baixo) e Joe Nunez (bateria) devolve aos urros irascíveis de
Max sua melhor plataforma.
Tem berimbau? Tem. Tem inclusive cítara e balalaica, instrumento russo parecido com um
alaúde. Mas esses elementos apenas somam, sem serem protagonistas, e dão jogo de cintura ao
som que é puro expurgo.
Num mundo em que o punk
rock ficou pop e se esqueceu das
lições de que "não há futuro" e o
nu-metal é apenas um bando de
dúvidas adolescentes, Max entrega sua contribuição de desespero,
niilismo e fúria.
Na cena heavy que consegue
sair do gueto, o Soulfly só tem
comparação com o excelente
System of a Down, que, por mesclar elementos de música folclórica com protesto inteligente, obtém êxito e revitaliza o som das
camisas pretas.
Em termos de letras, que nunca
foram o seu forte, Max mantém a
característica telegráfica que funciona desde o Sepultura. Frases
curtas, expressões propícias para
o grito e autocitações freqüentes
-"Riotstarter", por exemplo, relembra o título de "The Song Remains Insane", do primeiro álbum, e a expressão "Fuel the Hate" batiza uma música mas também é verso de outra.
Nos arranjos, a banda ficou
mais direta -até óbvia-, mas
surpreende quando entra a parte
lenta em "Innerspirit". Os detratores dirão que Max copia o nu-metal, mas isso seria bobo.
No fim, o saldo de "Dark Ages",
com toda a sua escuridão, é positivo. Melhor trabalho de qualquer
um que tenha tocado em "Roots
Bloody Roots", será insuficiente
para provocar a mesma revolução
no metal que o Sepultura cometeu nos anos 90. Mas prova que
ainda existe relevância animalesca em algum lugar do rock.
Dark Ages
Artista: Soulfly
Lançamento: Sum Records
Quanto: R$ 30, em média
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