São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

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CDS

METAL


Menos world, ex-vocalista do Sepultura apresenta o álbum "Dark Ages"

No Soulfly, Max Cavalera faz seu melhor álbum desde "Roots"

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Haverá vida após o metal? Essa pergunta Max Cavalera, ex-vocalista e guitarrista do Sepultura desde 1996 e cérebro do Soulfly, deve se fazer dia e noite.
Com o lançamento de "Dark Ages", quinto disco desde que se separou da banda que fez "Roots Bloody Roots", essa percepção se torna ainda mais nítida.
Primeiro, isso não deveria ser surpresa. O metal é talvez o único gênero que trata o tema da morte com naturalidade freqüente. E Max coleciona mortos, sejam ídolos ou entes queridos.
Desde o primeiro disco do Soulfy, de 1997, há uma dedicatória para seu enteado Dana Wells, assassinado por uma gangue. Em "Dark Ages", a lembrança "in memoriam" prossegue, intocada.
A essa recordação, é acrescentada a perda de Moses, neto de sua mulher, Gloria, e outros 18 nomes a quem Max pede a Deus que descansem em paz, entre eles Chico Science e Dimebag Darrell, do Pantera. E o Soulfly sempre foi a terapia de Max para as perdas.
Tudo isso faz com que se entenda melhor cada minuto de exorcismo de "Dark Ages", que começa com uma breve introdução até que "Babylon" baixe a porrada.
A grande sacada de Max neste CD é ter equilibrado melhor as influências de world music, que deixavam a sonoridade da banda meio desfocada do metal tribal que estava em seu início.
Menos xavante, menos candomblaico -sem perder essas influências-, a química com Marc Rizzo (guitarras), Bobby Burns (baixo) e Joe Nunez (bateria) devolve aos urros irascíveis de Max sua melhor plataforma.
Tem berimbau? Tem. Tem inclusive cítara e balalaica, instrumento russo parecido com um alaúde. Mas esses elementos apenas somam, sem serem protagonistas, e dão jogo de cintura ao som que é puro expurgo.
Num mundo em que o punk rock ficou pop e se esqueceu das lições de que "não há futuro" e o nu-metal é apenas um bando de dúvidas adolescentes, Max entrega sua contribuição de desespero, niilismo e fúria.
Na cena heavy que consegue sair do gueto, o Soulfly só tem comparação com o excelente System of a Down, que, por mesclar elementos de música folclórica com protesto inteligente, obtém êxito e revitaliza o som das camisas pretas.
Em termos de letras, que nunca foram o seu forte, Max mantém a característica telegráfica que funciona desde o Sepultura. Frases curtas, expressões propícias para o grito e autocitações freqüentes -"Riotstarter", por exemplo, relembra o título de "The Song Remains Insane", do primeiro álbum, e a expressão "Fuel the Hate" batiza uma música mas também é verso de outra.
Nos arranjos, a banda ficou mais direta -até óbvia-, mas surpreende quando entra a parte lenta em "Innerspirit". Os detratores dirão que Max copia o nu-metal, mas isso seria bobo.
No fim, o saldo de "Dark Ages", com toda a sua escuridão, é positivo. Melhor trabalho de qualquer um que tenha tocado em "Roots Bloody Roots", será insuficiente para provocar a mesma revolução no metal que o Sepultura cometeu nos anos 90. Mas prova que ainda existe relevância animalesca em algum lugar do rock.


Dark Ages
   
Artista: Soulfly
Lançamento: Sum Records
Quanto: R$ 30, em média


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