São Paulo, sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

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COLEÇÃO

Caixa resume a sutil história do choro

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Além de grandes músicos, os irmãos paulistas Izaías e Israel Bueno de Almeida são dedicados memorialistas do choro: colecionam partituras e gravações raras, conhecem todos os meandros da história do gênero. Um pouco desse conhecimento está em "O Choro e Sua História - Izaías e Israel entre Amigos", caixa de três CDs lançada agora.
"[A caixa] mostra alguma coisa do muito que teríamos para mostrar. Daria para fazer mais uns 30 CDs com o repertório do choro", avalia Izaías, 68, que diz ter o maior acervo de partituras de choros em São Paulo.
O primeiro disco da caixa recupera o tempo em que o choro era um "como" (uma forma de tocar), ainda não um "quê" (um gênero), como explica no encarte o diretor artístico da gravadora CPC-Umes, Marcus Vinícius de Andrade.
São quadrilhas, polcas, tangos e outros estilos que foram sendo adaptados a um modo brasileiro de interpretação. Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Joaquim Callado são nomes representativos desse período, que compreende a segunda metade do século 19 e o início do século 20.
"Procuramos tocar as melodias como foram feitas, mas o estilo é diferente, é outro sotaque. Tivemos de fazer uma harmonia para a maioria das músicas, já que não havia nas partituras", explica Izaías.
Os três CDs têm essa característica: procuram ser fiéis às composições, mas com uma linguagem criada especificamente para a caixa. Izaías, por exemplo, adaptou várias peças para o seu instrumento, o bandolim. Israel cuidou dos violões e do cavaquinho.
"Convidamos amigos para encher um pouco os arranjos, senão as pessoas cansam de ouvir bandolim e violão. Mas evitamos usar instrumentos demais, para não descaracterizar [as músicas]", conta Izaías.
O segundo CD tem composições do maior nome do choro, Pixinguinha, e de outros mestres, como Radamés Gnattali e Jacob do Bandolim. A famosa "Doce de Coco", de Jacob, é uma exceção na caixa, formada quase integralmente por peças inéditas ou pouco conhecidas.
Esse é um dos charmes do projeto. Outro são as "choradinhas": no final de cada CD, há três gravações originais, como uma de 1906 de "Primeiro Amor" (Patápio Silva), a "Rosa" original de Pixinguinha e as duas faixas do único disco feito por Nazareth em vida.
No último CD, há composições de Paulinho da Viola, Garoto e dos insuspeitos Johnny Alf e Tom Jobim. "A bossa nova acabou com o choro na época, porque os músicos foram todos para a bossa nova. Mas, na verdade, há fragmentos de choro nela, e ela contribuiu harmonicamente para o choro", diz Izaías.
Se não bastasse a importância do projeto, os CDs têm o cuidado e a delicadeza que pede o choro e conseguem ser, ao mesmo tempo, tradicionais e originais.


O Choro e Sua História - Izaías e Israel entre Amigos
    
Gravadora: CPC-Umes
Quanto: R$ 50, em média (três CDs)


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