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COLEÇÃO
Caixa resume a sutil história do choro
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Além de grandes músicos, os
irmãos paulistas Izaías e Israel Bueno de Almeida são dedicados memorialistas do choro:
colecionam partituras e gravações
raras, conhecem todos os meandros da história do gênero. Um
pouco desse conhecimento está
em "O Choro e Sua História
- Izaías e Israel entre Amigos",
caixa de três CDs lançada agora.
"[A caixa] mostra alguma coisa
do muito que teríamos para mostrar. Daria para fazer mais uns 30
CDs com o repertório do choro",
avalia Izaías, 68, que diz ter o
maior acervo de partituras de
choros em São Paulo.
O primeiro disco da caixa recupera o tempo em que o choro era
um "como" (uma forma de tocar), ainda não um "quê" (um gênero), como explica no encarte o
diretor artístico da gravadora
CPC-Umes, Marcus Vinícius de
Andrade.
São quadrilhas, polcas, tangos e
outros estilos que foram sendo
adaptados a um modo brasileiro
de interpretação. Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e Joaquim
Callado são nomes representativos desse período, que compreende a segunda metade do século 19
e o início do século 20.
"Procuramos tocar as melodias
como foram feitas, mas o estilo é
diferente, é outro sotaque. Tivemos de fazer uma harmonia para
a maioria das músicas, já que não
havia nas partituras", explica
Izaías.
Os três CDs têm essa característica: procuram ser fiéis às composições, mas com uma linguagem
criada especificamente para a caixa. Izaías, por exemplo, adaptou
várias peças para o seu instrumento, o bandolim. Israel cuidou
dos violões e do cavaquinho.
"Convidamos amigos para encher um pouco os arranjos, senão
as pessoas cansam de ouvir bandolim e violão. Mas evitamos usar
instrumentos demais, para não
descaracterizar [as músicas]",
conta Izaías.
O segundo CD tem composições do maior nome do choro, Pixinguinha, e de outros mestres,
como Radamés Gnattali e Jacob
do Bandolim. A famosa "Doce de
Coco", de Jacob, é uma exceção
na caixa, formada quase integralmente por peças inéditas ou pouco conhecidas.
Esse é um dos charmes do projeto. Outro são as "choradinhas":
no final de cada CD, há três gravações originais, como uma de 1906
de "Primeiro Amor" (Patápio Silva), a "Rosa" original de Pixinguinha e as duas faixas do único disco feito por Nazareth em vida.
No último CD, há composições
de Paulinho da Viola, Garoto e
dos insuspeitos Johnny Alf e Tom
Jobim. "A bossa nova acabou
com o choro na época, porque os
músicos foram todos para a bossa
nova. Mas, na verdade, há fragmentos de choro nela, e ela contribuiu harmonicamente para o
choro", diz Izaías.
Se não bastasse a importância
do projeto, os CDs têm o cuidado
e a delicadeza que pede o choro e
conseguem ser, ao mesmo tempo,
tradicionais e originais.
O Choro e Sua História - Izaías e Israel entre Amigos
Gravadora: CPC-Umes
Quanto: R$ 50, em média (três CDs)
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