São Paulo, domingo, 17 de fevereiro de 2008

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"Sou pago para ter uma vida boa", diz Anthony Bourdain

Autor do best-seller "Cozinha Confidencial", chef norte-americano lança no Brasil a coletânea de artigos "Maus Bocados'

Apresentador do "Sem Reservas" afirma se sentir mal por críticas feitas ao colega Jamie Oliver: "Ele ficou chateado com o que eu disse"

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele é pago "para ter uma vida boa" e diz se sentir "culpado e envergonhado" por correr o mundo viajando e se hospedando de graça, enquanto seus velhos camaradas suam a camisa, de pé, o dia todo na cozinha.
Ouvir algo assim de alguém que trabalhou quase 30 anos como cozinheiro pode soar pura demagogia; não, porém, se a declaração vier de Anthony Bourdain, 51, o chef que ganhou fama, dinheiro e reconhecimento, não tanto pelo exercício de sua profissão, mas revelando (e descrevendo saborosamente) os meandros nada abonáveis das cozinhas profissionais.
Autor do best-seller "Cozinha Confidencial", Bourdain lança agora no Brasil "Maus Bocados", no qual compila, principalmente, artigos publicados em jornais e revistas. Lançado pela Companhia das Letras, chega às livrarias no dia 26 (R$ 49; 360 págs.).
Em entrevista à Folha, ele credita seu sucesso como escritor ao fato de nunca ter tido "absolutamente nenhuma expectativa". "Nunca penso no que as pessoas vão gostar ou no que esperam. Apenas conto a história da melhor maneira que eu posso", diz.

Curioso contumaz
Se, por um lado, ele tem uma vida capaz de despertar inveja até no mais virtuoso dos homens -afinal recebe um salário polpudo para viajar ao redor do mundo atrás de comidas e boas histórias-, por outro tem de abdicar de uma convivência mais próxima da família. Fica fora de casa de duas a três semanas por mês para gravar o programa "Sem Reservas", exibido no Discovery Travel & Living. "É muito tempo. Sou pai agora, está ficando difícil."
Viajar ainda é uma bênção ou já virou condenação? "Com certeza é uma bênção, eu tenho o melhor emprego do mundo. Sou incrivelmente sortudo. Não tem nenhuma parte ruim. Porém, sinto falta da minha mulher e da minha filha. E, ocasionalmente, experimento comida ruim, mas disso não reclamo", diz. "Por 28 anos, trabalhei de pé numa cozinha; então, para mim, isto, sim, parece trabalho. Qualquer coisa que eu fizer agora, vai parecer que estou ganhando dinheiro fácil."
Viciado em conhecer, o que imprime um ritmo ainda mais frenético à sua vida, Bourdain diz que ninguém pode dizer já ter visto o suficiente. "Sou sempre curioso, nunca paro e relaxo. Quanto mais viajo, menos sei. Você percebe quão grande é o mundo e quanto mais tem para aprender. Mesmo se eu tivesse dez vidas, ainda assim não seria suficiente."
O chef-escritor titubeia quando o assunto é o quanto de sua narrativa é real e o quanto é ficcional: "Não tenho idéia, escrevo da maneira como eu vejo. Gosto de hipérboles e recorro a elas, porque quero que o leitor sinta do jeito que eu senti".

"Magoei Jamie"
Por trás da pose de sarcástico, também há espaço para mudar de idéia e voltar atrás em comentários nem sempre elogiosos, como os que já fez sobre Jamie Oliver. Em um dos capítulos de "Maus Bocados", publicado nos EUA há quase dois anos, ele chama o apresentador britânico de petulante.
Na entrevista, relativiza: "Ele é um fã, gosta dos meus livros e ficou realmente chateado com o que eu disse. Honestamente, eu me sinto mal por isso, porque eu costumava odiar "The Naked Chef", mas, dos programas que vi recentemente, gostei. Está fazendo algumas coisas boas. Tenho um pouco de remorso por ter tirado sarro do Jamie. Aparentemente, magoei os sentimentos dele e me sinto mal por isso".


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