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"Sou pago para ter uma vida boa", diz Anthony Bourdain
Autor do best-seller "Cozinha Confidencial", chef norte-americano lança no Brasil a coletânea de artigos "Maus Bocados'
Apresentador do "Sem Reservas" afirma se sentir mal por críticas feitas ao colega Jamie Oliver: "Ele ficou chateado com o que eu disse"
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele é pago "para ter uma vida
boa" e diz se sentir "culpado e
envergonhado" por correr o
mundo viajando e se hospedando de graça, enquanto seus velhos camaradas suam a camisa,
de pé, o dia todo na cozinha.
Ouvir algo assim de alguém
que trabalhou quase 30 anos
como cozinheiro pode soar pura demagogia; não, porém, se a
declaração vier de Anthony
Bourdain, 51, o chef que ganhou
fama, dinheiro e reconhecimento, não tanto pelo exercício
de sua profissão, mas revelando
(e descrevendo saborosamente) os meandros nada abonáveis das cozinhas profissionais.
Autor do best-seller "Cozinha Confidencial", Bourdain
lança agora no Brasil "Maus
Bocados", no qual compila,
principalmente, artigos publicados em jornais e revistas.
Lançado pela Companhia das
Letras, chega às livrarias no dia
26 (R$ 49; 360 págs.).
Em entrevista à Folha, ele
credita seu sucesso como escritor ao fato de nunca ter tido
"absolutamente nenhuma expectativa". "Nunca penso no
que as pessoas vão gostar ou no
que esperam. Apenas conto a
história da melhor maneira
que eu posso", diz.
Curioso contumaz
Se, por um lado, ele tem uma
vida capaz de despertar inveja
até no mais virtuoso dos homens -afinal recebe um salário polpudo para viajar ao redor
do mundo atrás de comidas e
boas histórias-, por outro tem
de abdicar de uma convivência
mais próxima da família. Fica
fora de casa de duas a três semanas por mês para gravar o
programa "Sem Reservas", exibido no Discovery Travel & Living. "É muito tempo. Sou pai
agora, está ficando difícil."
Viajar ainda é uma bênção ou
já virou condenação? "Com
certeza é uma bênção, eu tenho
o melhor emprego do mundo.
Sou incrivelmente sortudo.
Não tem nenhuma parte ruim.
Porém, sinto falta da minha
mulher e da minha filha. E, ocasionalmente, experimento comida ruim, mas disso não reclamo", diz. "Por 28 anos, trabalhei de pé numa cozinha; então,
para mim, isto, sim, parece trabalho. Qualquer coisa que eu fizer agora, vai parecer que estou
ganhando dinheiro fácil."
Viciado em conhecer, o que
imprime um ritmo ainda mais
frenético à sua vida, Bourdain
diz que ninguém pode dizer já
ter visto o suficiente. "Sou sempre curioso, nunca paro e relaxo. Quanto mais viajo, menos
sei. Você percebe quão grande é
o mundo e quanto mais tem para aprender. Mesmo se eu tivesse dez vidas, ainda assim
não seria suficiente."
O chef-escritor titubeia
quando o assunto é o quanto de
sua narrativa é real e o quanto é
ficcional: "Não tenho idéia, escrevo da maneira como eu vejo.
Gosto de hipérboles e recorro a
elas, porque quero que o leitor
sinta do jeito que eu senti".
"Magoei Jamie"
Por trás da pose de sarcástico, também há espaço para mudar de idéia e voltar atrás em
comentários nem sempre elogiosos, como os que já fez sobre
Jamie Oliver. Em um dos capítulos de "Maus Bocados", publicado nos EUA há quase dois
anos, ele chama o apresentador
britânico de petulante.
Na entrevista, relativiza: "Ele
é um fã, gosta dos meus livros e
ficou realmente chateado com
o que eu disse. Honestamente,
eu me sinto mal por isso, porque eu costumava odiar "The
Naked Chef", mas, dos programas que vi recentemente, gostei. Está fazendo algumas coisas boas. Tenho um pouco de remorso por ter tirado sarro do
Jamie. Aparentemente, magoei
os sentimentos dele e me sinto
mal por isso".
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