São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

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Vale a pena ir ao cinema, mas sem mistificar

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em definitivo, não é a mesma coisa assistir a uma ópera numa das 3.800 poltronas do Met, em Nova York, ou acompanhá-la em São Paulo em projeção de cinema. A primeira experiência, anteontem, ofereceu um "Orfeu e Eurídice", do alemão Christoph Willibald Gluck. Uma produção incrivelmente bela. Mas que, para os paulistanos, foi apenas um filme em cinemascope e som estereofônico.
Qualquer grande teatro de ópera é um espaço em que reverberam as vozes dos cantores e as ênfases da orquestra. A mezzo-soprano americana Stephanie Blythe, 39, interpretou um Orfeu mais para "pesado", quase como uma das heroínas de Verdi. Tais efeitos não eram integralmente ouvidos. Eram apenas imaginados.
A encenação de Mark Morris é instigante. Orfeu é um personagem da mitologia grega. O apego à verossimilhança traria a cantora (é um papel travesti, desde a primeira versão de 1787) de bata branca. Mas a produção dá à ação uma concepção contemporânea. Orfeu veste um terno negro.
Os 90 cantores do coro permanecem em três andaimes ao fundo da cena. Cada um representava um personagem histórico já morto (a morte é fundamental, já que Eurídice morre, e Orfeu a traz de volta ao mundo dos vivos). Com a pouca iluminação, era impossível identificar os "mortos" em São Paulo, já que a alta definição não era lá tão alta assim.
Espetáculos são concebidos para quem os assistem da plateia. O Met tem uma longa e sólida experiência em transmissões (a de anteontem foi gravada em 24 de janeiro). As de TV começaram em 1948. A edição das imagens captadas é de uma precisão absoluta, sobretudo durante a abertura sinfônica.
Vale a pena assistir às próximas produções, com superlativas qualidades musicais e cênicas. Mas sem mistificar. São apenas filmes.


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