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Vale a pena ir ao cinema, mas sem mistificar
JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em definitivo, não é a mesma coisa assistir a uma ópera
numa das 3.800 poltronas do
Met, em Nova York, ou
acompanhá-la em São Paulo
em projeção de cinema. A
primeira experiência, anteontem, ofereceu um "Orfeu e Eurídice", do alemão
Christoph Willibald Gluck.
Uma produção incrivelmente bela. Mas que, para os paulistanos, foi apenas um filme
em cinemascope e som
estereofônico.
Qualquer grande teatro de
ópera é um espaço em que
reverberam as vozes dos cantores e as ênfases da orquestra. A mezzo-soprano americana Stephanie Blythe, 39,
interpretou um Orfeu mais
para "pesado", quase como
uma das heroínas de Verdi.
Tais efeitos não eram integralmente ouvidos. Eram
apenas imaginados.
A encenação de Mark
Morris é instigante. Orfeu é
um personagem da mitologia
grega. O apego à verossimilhança traria a cantora (é um
papel travesti, desde a primeira versão de 1787) de bata
branca. Mas a produção dá à
ação uma concepção contemporânea. Orfeu veste um
terno negro.
Os 90 cantores do coro
permanecem em três andaimes ao fundo da cena. Cada
um representava um personagem histórico já morto (a
morte é fundamental, já que
Eurídice morre, e Orfeu a
traz de volta ao mundo dos
vivos). Com a pouca iluminação, era impossível identificar os "mortos" em São Paulo, já que a alta definição não
era lá tão alta assim.
Espetáculos são concebidos para quem os assistem
da plateia. O Met tem uma
longa e sólida experiência
em transmissões (a de anteontem foi gravada em 24
de janeiro). As de TV começaram em 1948. A edição das
imagens captadas é de uma
precisão absoluta, sobretudo
durante a abertura sinfônica.
Vale a pena assistir às próximas produções, com superlativas qualidades musicais e cênicas. Mas sem mistificar. São apenas filmes.
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