|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CDS
MÚSICA
Na esteira do tecnobrega, guitarrada e outras vertentes ganham público
Três shows mostram em SP a pororoca musical do Pará
ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Prepare-se: vem do Pará, Estado
que fez o Brasil inteiro rebolar ao
som da lambada nos anos 80, e
que hoje reúne multidões ao som
do tecnobrega da banda Calypso,
outro estilo com potencial para
causar barulho: a guitarrada.
A invasão paraense já deu brechas de seu potencial em festivais
em Pernambuco e no Rio e agora
chega a São Paulo com o evento
Terruá Pará, shows que reúnem
expoentes dessas e de outras vertentes musicais de hoje a domingo, no auditório Ibirapuera.
Ainda não dá para comparar o
público fã de tecnobrega, cujas
festas mobilizam até 60 mil pessoas por fim de semana em Belém, com o da guitarrada, que lota
bares mais modestos. Mas, em
2005, o estilo reuniu cerca de 20
mil pessoas no festival de verão,
em Algodoal, ilha que fica a três
horas da capital.
Além disso, caiu no gosto de
pessoas como o antropólogo Hermano Vianna, que costuma defender a cena de Belém, e os produtores Carlos Eduardo Miranda
-um dos curadores do Terruá-
e Pena Schmidt, que, em entrevista à Folha, ressaltaram a criatividade dos músicos paraenses.
"Acho muito promissor. O interessante é que essa movimentação começa em uma região meio
esquecida", fala o produtor Gutie,
45, que há cinco anos inclui expoentes do Pará no festival pernambucano RecBeat. "Por ser
uma região remota, com influências indígenas, acho que podem
surgir coisas curiosas de lá."
Segundo o pesquisador e músico Pio Lobato, 34, um dos articuladores deste cenário, "a guitarrada é a lambada instrumental".
"Ela agrega vários ritmos, como
rock, jazz. É uma música que,
apesar de ser instrumental, é bastante popular", explica Lobato. É
por isso que, ao contrário do tecnobrega e da lambada, a guitarrada atrai um público diverso: universitários, fãs de rock independente, de MPB etc.
Surfe da pororoca
Lobato, integrante de um grupo
que mescla guitarrada e rock, o
Cravo Carbono, estará na banda
que acompanha os convidados do
minifestival Terruá Pará.
Entre eles, há representantes de
algumas dessas misturas, como a
banda La Pupuña, que faz um mix
com surf music batizado de "surfe
da pororoca".
"O andamento da surf music e
da guitarrada se encaixam muito
bem", afirma o percussionista e
guitarrista Luiz Félix, 23. "Não é
uma guitarrada tradicional, mas
não foge muito de seu sotaque."
O estilo puro e simples será
mostrado pelo trio Mestres da
Guitarrada, formado pelos músicos Curica, Aldo Sena e Vieira. A
este último, é creditada a invenção da guitarrada em 1977.
Outro destaque do evento é o
baixista MG Calibre, que tem influências de jazz e rap.
A movimentação de bandas que
acontece hoje na capital do Pará
lembra o burburinho que ocorreu
no início dos anos 90 no Recife,
que resultou no mangue beat.
"Belém estava numa situação
muito parecida, de não ter nada",
conta Pio Lobato. Apesar disso, o
músico acredita que as semelhanças param por aí. "Não há a articulação de produtores que tinha
em Recife", diz Lobato. "Belém é
cheio de conceito, mas é preciso
também saber vender."
Apoio oficial
Por enquanto, quem está "vendendo" os músicos aos outros Estados é a Fundação de Telecomunicações do Pará (Funtelpa). Segundo o presidente do órgão, Ney
Messias Jr., nos últimos três anos,
R$ 5 milhões foram investidos em
eventos como o Terruá Pará.
"Ao contrário do mangue
[beat], lá eles têm apoio oficial para que essa cena potencial aconteça", lembra Gutie.
Ainda que a moda sejam as guitarras, há no Terruá Pará gente
que nada tem a ver com elas, como o compositor Mestre Laurentino, 80. Ele pegou carona no bonde da guitarrada para mostrar
aqui sua "Lourinha Americana",
música famosa do repertório do
grupo Mundo Livre S/A.
Tradições do Norte, como o carimbó e o boi-bumbá, além da
MPB (música popular paraense),
serão representadas por atrações
como Boi Veludinho, Arraial da
Pavulagem e Nilson Chaves.
Por fim, não faria sentido um
festival dedicado ao Estado sem o
tecnobrega. Quem irá mostrar a
música eletrônica do Pará é o DJ
Iran, o cara que inventou o cibertecno, versão do brega feita somente no computador. Diversidade, realmente, não vai faltar.
OUÇA "SÃO DOMINGOS DO SURF", DO LA PUPUÑA
Texto Anterior: Eletrônica: Clarke tocará CDs para Lov.e dançar Próximo Texto: CD/Crítica: Jussara realça a nobreza da canção Índice
|