São Paulo, sábado, 17 de março de 2007 |
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Livros Sherlock dá uma força em romance de Barnes
Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, é um dos personagens de "Arthur & George"
MARCOS STRECKER DA REPORTAGEM LOCAL Elementar, meu caro Watson. O mais francês dos escritores ingleses queria escrever sobre culpa, inocência e justiça e deduziu que uma das grandes instituições inglesas seria a chave: Arthur Conan Doyle (1859-1930), o pai de Sherlock Holmes. O resultado é "Arthur & George", romance ambicioso de Julian Barnes, uma das estrelas da literatura britânica. O livro cruza a biografia de dois personagens: George, vítima de um caso de preconceito racial na Inglaterra vitoriana; e Arthur, o famoso escritor, às voltas com suas próprias culpas (matrimoniais) e fantasmas. Ainda que tenha escrito policiais no início da carreira usando o pseudônimo Dan Kavanagh, não se deve esperar de Barnes tramas intrincadas, humor farsesco e personagens espirituosos como Sherlock. Admirador de Gustave Flaubert, Barnes escreveu um grande romance. Não é grande fã de Holmes, como mostra na entrevista abaixo. Mas acha que os dois personagens têm muito a dizer sobre justiça, consciência e virtudes públicas, o mistério que procura desvendar. FOLHA - Você já declarou que se inspirou no caso Dreyfus para escrever "Arthur & George"... Como Reino Unido e França tratam do debate público e do papel do intelectual? JULIAN BARNES - O caso Dreyfus foi obviamente mais importante do que o caso Edalji, pois envolvia alta traição, e não mutilação animal. É uma das razões pelas quais continuou a ecoar na história francesa, dividindo e definindo a nação por cem anos. O caso britânico teve repercussão por cinco ou seis anos, então foi esquecido. Mas isso aconteceu em parte por causa da forma como os britânicos se comportam quando algo está errado: você conserta e então deixa para lá. Os franceses, por outro lado, adoram celebrar suas discordâncias e brigas públicas, bem depois de terem sido resolvidas. FOLHA - Como surgiu a idéia de
unir a biografia de Conan Doyle com
o caso de George Edalji?
FOLHA - Sherlock Holmes representa a capacidade de investigação,
valores racionais em uma sociedade
que celebrava o progresso. Você utiliza em seu livro o envolvimento de
Conan Doyle com o espiritismo,
menciona o ilusionista Houdini...
FOLHA - Prêmios como o Booker
Prize, do qual "Arthur & George" foi
finalista, tendem a celebrar escritores de países que compunham o Império Britânico. A herança imperial
ainda é forte?
FOLHA - O Reino Unido e a França
abordam a questão dos imigrantes
de maneira diferente, celebrando as
diferentes culturas (Reino Unido) ou
considerando que todos devem se
integrar à cultura local (França). O
preconceito racial, que está na base
do caso abordado em "Arthur &
George", permanece?
FOLHA - Honra e tradição são valores importantes para os personagens... O que você acha que mudou
no sentido de justiça desde a época
de Conan Doyle?
FOLHA - Você é fã de Sherlock Holmes? Por que a fama do detetive
não pára de crescer?
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