São Paulo, terça-feira, 17 de março de 2009

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Curitiba, 18, atravessa a "crise de maioridade"

Começa hoje, com escalação morna, um dos mais tradicionais festivais de teatro do país

Ex-curador diz que "falta ousadia e novidade" e que evento busca "teatro glamouroso'; para diretor, inovação ainda é critério

Divulgação
O ator Álamo Facó em cena de "Talvez", uma das "Autopeças"

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Festival de Curitiba, tradicionalmente um dos mais esperados no circuito das artes cênicas no Brasil por revelar talentos e servir de tubo de ensaio para experimentações, inicia hoje sua 18ª edição com uma programação morna.
É certo que, até 29/3, a capital paranaense verá espetáculos bem falados, como o paulista "Rainha[(s] - Duas Atrizes em Busca de Um Coração" ou o carioca "Inveja dos Anjos". Mas eles estão ao lado de trabalhos pouco representativos da investigação de forma e conteúdo que atualmente guia a produção mais provocativa do país.
"Tenho a sensação de que falta ousadia e novidade, apesar de se tratar de um painel consistente daquilo que a realidade teatral produz em determinado nível", diz o ator e dramaturgo Alberto Guzik, 65, cocurador das três primeiras edições.
Ele afirma compreender o que chama de "política do "vamos abrir o foco para ver se a gente mantém ar nos pulmões", que faz com que incluam uma personalidade, uma direção do Jô [Soares, em "A Cabra Ou Quem É Sylvia?']". Mas sugere que essa ampliação de escopo talvez busque levar a Curitiba um "teatro glamouroso":
"Acontece que o teatro brasileiro não está glamouroso. É claro que tem [o musical] "Noviça Rebelde", mas a realidade é de penúria e de grupos combativos. Não sei se o festival está espelhando isso. Não seria o caso de fazer uma edição voltada só para isso?", pergunta ele, reconhecendo que um cardápio desses talvez não atraísse o público que os patrocinadores demandam para destinar verba.

Menos dinheiro
Tradicional apoiadora do festival, a Petrobras não financia esta edição (segundo sua assessoria, por falta de tempo hábil para contratar o evento, após o adiamento do anúncio do plano estratégico). De acordo com o diretor-geral do festival, Leandro Knopfholz, 35, o desfalque fez com que o orçamento deste ano caísse para R$ 2,4 milhões -contra R$ 2,8 mi em 2008:
"A crise não atrapalha, é uma circunstância. Ela teve influência na divulgação e em algumas cerejas do bolo que pretendia trazer, como um ensaio aberto do novo espetáculo do Grupo Galpão e uma Mostra de Teatro Grotesco [vista em São Paulo]".
Quanto à opção da curadoria por incluir peças encabeçadas por nomes de forte apelo midiático, Knopfholz observa que a seleção busca conciliar expectativas do público ("que, em parte, quer ver atores conhecidos"), ao trio "qualidade, inovação e ineditismo em Curitiba".
"Mas não trazemos espetáculos gratuitamente. Estão todos afinados à curadoria. O festival se molda às expectativas do espectador, mas não se vende ao comercial fácil", frisa.
Ao ser lembrado da escalação estelar do primeiro festival, em 92, com José Celso Martinez, Antunes Filho, Gerald Thomas, Gabriel Villela e Enrique Diaz, Knopfholz pontua:
"Mas muitos desses nomes estavam surgindo naquela época, não eram consagrados, foram revelados com a ajuda do festival. Nesta edição, Felipe Vidal [diretor de "Rock'n'Roll", de Tom Stoppard] me parece alguém promissor."

"Heróis transgressivos"
Para a professora de teatro Tania Brandão, 56, cocuradora desta 18ª edição, falar em "teatro de apelo midiático é um raciocínio um pouco velho".
"Há heróis midiáticos transgressivos na seleção: o Zé Wilker [ator em "A Cabra"] tem uma trajetória na TV, mas não abdicou de sua irreverência. O Jô tem um programa de TV, mas tem inquietude. A mídia não é um monolito; existem fissuras, biografias, histórias pessoais. Essa forma sectária de pensar e julgar as coisas é muito anos 70, 80", afirma ela.
Na ala (pouco encorpada) das peças que estreiam no festival, há um trabalho de teatro-dança local, um monólogo de Elias Andreatto, e "Rock'n'Roll". "Você fica um pouco à mercê do que os grandes nomes estão fazendo. É uma questão circunstancial", justifica Brandão.


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