São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2010

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Dramaturgo inglês faz crítica mordaz ao cinema

Mark Ravenhill comenta "Produto", peça que satiriza as produções comerciais

Espetáculo será encenado no Festival de Curitiba; em Nova York, autor acaba de estrear obra que mistura teatro com documentário


GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O dramaturgo inglês Mark Ravenhill tem um pé atrás com o cinema. Já foi convidado para escrever roteiros de filmes, mas, diz, ficaria nervoso se tivesse que lidar com tanto dinheiro envolvido em uma só produção. "Teatro é mais barato", brinca, em entrevista à Folha por telefone, de Nova York, onde acaba de estrear "A Life in Three Acts".
Nos dias 21 e 22, o Festival de Curitiba apresenta um texto do autor escrito justamente como uma reflexão sobre a sétima arte, com o título provocativo de "Produto".
"A Life in Three Acts", a peça mais recente, foi premiada no Festival de Edimburgo em 2009. É uma espécie de documentário em cena, com o autor no palco entrevistando uma drag ativista gay de Londres chamada Bette Bourne.

 

FOLHA - Em algum momento há inclusão de fatos fictícios nessa peça-documentário?
MARK RAVENHILL
- Se considerarmos que nem tudo ali na peça é verdade porque a nossa memória nos trai o tempo todo, sim. Mas o texto também está o mais próximo da verdade que poderíamos chegar.

FOLHA - O uso da linguagem documental é reflexo de um teatro britânico mais politizado?
RAVENHILL
- Eu acho que artistas de teatro, em geral, são engajados. Mas tenho visto mais coisas sobre aspectos sociais da vida política no teatro. Acho que existe hoje um olhar para assuntos públicos, mais do que sobre a vida privada. As guerras no Iraque e no Afeganistão trouxeram reflexões e uma produção engajada e política.

FOLHA - Quantas vezes você foi chamado para fazer cinema e quantas vezes você aceitou?
RAVENHILL
- Fui convidado umas dez vezes, mas nunca aceitei. Eu realmente amo o teatro, e filmes levam muito tempo para serem feitos. A quantidade de dinheiro envolvido em cinema também me deixaria nervoso. Então eu prefiro a simplicidade de fazer teatro. Uma mídia barata (risos).

FOLHA - Porque decidiu falar sobre cinema em "Produto", e qual o significado desse título?
RAVENHILL
- Eu acho que muita gente, no mundo do cinema, realmente pensa em fazer um produto para ser vendido. Na peça, o protagonista está contando uma ideia que teve para um filme, mas está fazendo isso de um jeito... Parece estar vendendo sua história como se ela fosse um produto. Acho que o título vem desse contexto.

FOLHA - Na peça, a imagem do ataque às Torres Gêmeas também é citada de uma forma comercial...
RAVENHILL
- Acho que muita coisa no cinema representa a violência de uma forma antiga. Filmes ruins sempre correm o risco de fazer a violência parecer sexy e glamourosa, e meu texto usa a imagem das Torres Gêmeas para mostrar um extremo disso. A violência no palco, mesmo sendo também falsa, ou uma representação, é mais chocante, acho.

FOLHA - Que sensação você teve quando viu a imagem das torres caindo?
RAVENHILL
- Acho que, como muita gente, senti uma sensação de irrealidade, como num filme mesmo. Foi muito difícil perceber que aquilo era de verdade. Isso acontece, acho, porque nós somos rodeados de imagens, durante o dia inteiro, da televisão ou de publicidade, jornais, revistas. Esse excesso fez com que nos tornássemos alienados de quem nós somos.


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