São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2010

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MÚSICA

Novo disco traz João Donato "muito à vontade"

Aos 75 anos, músico acriano forma trio com Luiz Alves e Robertinho Silva

As 12 composições de "Sambolero" relembram o início da carreira do compositor; "prefiro o bonito ao difícil", diz ele


RONALDO EVANGELISTA

"Por que não faço tudo outra vez?", pensou João Donato um dia em 2009. Tinha em mente o som do seu trio, centro de ebulição da sua música. Nos últimos anos gravou com Raul de Souza, Bud Shank, Paulo Moura, piano solo, com convidados, mas e com o trio em primeiro plano? É a chave do recém-lançado "Sambolero", disco novo, 12 composições, Robertinho Silva na bateria, Luiz Alves no baixo, uma flauta aqui, um quarteto de cordas ali, um Zeca Pagodinho na participação de improviso.
"O disco começou com essa ideia, pensando que eu nunca tinha gravado só com Robertinho e Luiz", ele conta. "Todo show que faço vamos pelo menos nós três, tocamos juntos há tanto tempo e nunca tinha gravado o trio. Fomos para o estúdio com essa ideia e incluímos o Sidinho na percussão, para lembrar o "Muito à Vontade'".
Foi em 1962, quase como uma nota de rodapé, que Donato gravou seus primeiros pequenos grandes clássicos nesse formato. Desde 1959 ele já andava longe do Brasil, atrás de seu caminho, do acordeão para o trombone para o piano, do cool jazz na Califórnia às orquestras latinas em Nova York. Aí foi um mês no Brasil, alguns dias no estúdio registrando temas, ideias, improvisos e o nascimento de "Muito à Vontade" e "A Bossa Muito Moderna de Donato e seu Trio".
Seus dois primeiros álbuns, com suas primeiras composições, na época acompanhado dos pilares bossanovísticos Milton Banana e Tião Neto, mais o percussionista Amaury Rodrigues. No novo "Sambolero", nenhuma inédita, mas muitas surpresas.
"Milton tinha um jeito, Tião tinha um jeito, Robertinho tem outro, Luiz tem outro", observa o pianista. "É como jogador de futebol, não dá pra comparar estilo. Se gravássemos com Tião e Milton hoje também seria diferente. Eu também, é como se fosse outra pessoa tocando, já não sou mais o mesmo." Com suas composições melódicas e seu piano fluido, Donato é hoje ainda mais Donato. Nisso, Robertinho e Luiz são perfeitos, com aquela intimidade de quem lê a mente do outro.
Os três se encontraram em meados dos 80, quando Donato tocava toda segunda na boate carioca People e começou a convidar os músicos amigos a participar. "De repente a gente se entrosou, eles começaram a vir sempre e todo mundo começou a dizer, "esse trio é que é o bom'", lembra Donato.
Em comum com 20 ou 50 anos atrás, a qualidade que já ilustrava o nome do primeiro disco e sempre foi da sua música: muito à vontade. "Gostei que esse disco novo é mais lento, mais cadenciado", se satisfaz. "A ideia era essa, tocar sem quebrar tudo, fazer música que leve a uma emoção agradável. Prefiro o bonito ao difícil, prefiro escolher as palavras do que falar muito."


SAMBOLERO

Artista: João Donato Trio
Gravadora: Dubas/Universal
Quanto: R$ 26,40




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