São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 2011

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CRÍTICA RESTAURANTE

Rosa Maria resgata cozinha familiar

Casa mira pratos triviais e urbanos e propõe um serviço "à antiga", com travessas para dividir

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Rosa Maria é um restaurante que se propõe olhar para o passado, recuperando pratos -e até o serviço- da cozinha familiar.
Na verdade, acho que, fora os almoços comerciais (onde as pessoas, por ser impossível almoçar em casa, tentam comer algo parecido), um bom restaurante é aquele que justamente NÃO serve a cozinha que já comemos em casa todo dia... Mesmo uma simples pizzaria.
Dele espera-se uma cozinha mais elaborada, mais sofisticada, frequentemente mais trabalhosa e inventiva do que a do dia a dia, que nos tire do trivial e nos convide a conhecer sabores e a usar a inteligência para assimilar a emoção de novos prazeres.
Se serve pratos iguais ao da mãe, não é um crime; mas é comum que se espere algo mais. E, curiosamente, o Rosa Maria traz algo diferente, porque olha para trás. Mira uma cozinha trivial urbana com pratos que às vezes já saíram do cardápio caseiro, e viram "novidades" redivivas. Também propõe um serviço "à antiga": no lugar de pratos individuais, travessas para dividir. O que é desconfortável: e se um quer peixe e o outro carne? Se um quer uma massa e outro só salada?
Fora casos pontuais, em que por motivos culinários seja difícil fazer porções pequenas, não há vantagem nas megaporções -aliás, o próprio restaurante anuncia com orgulho que os pratos são para dois, mas avisa que pode fazer porção individual.
O cardápio tem pratos que se acomodaram ao gosto brasileiro por décadas, com uma ponta ibérica mais saliente, mas também de outras origens, ainda que muitas vezes trazidas pelos portugueses.
Entradas como as alheiras fatiadas e fritas (deliciosas), salada de polvo à galega (bem sem graça, temperos tímidos), e a costelinha suína caramelizada (com molho denso, embora salgado, e carne derretendo na boca) nos lembram Portugal.
O mesmo acontece com os arrozes de polvo e de pato (que prefiro mais molhado). E com a paleta de porco à Torremocha (embora seja uma localidade espanhola), servida um pouco seca, com farofa de ovo, banana e cebola.
Carne assada ao molho ferrugem com suflê de queijo (como suflê já foi chique e indispensável!) tem ou não o gosto de um dia de especial empenho da mãe? Aqui ele acerta no ponto.
O rosbife de filé à mostarda com purê de batata e mandioquinha tem também um gosto bom de domingo (embora molho de soja no tempero não creio que fosse preconizado no livro "Rosa Maria").
E a torta de chocolate e banana com especiarias até parece receita moderna.
São cinco os donos do Rosa Maria, três deles antigos sócios de um bufê, inclusive o chef Rodrigo Santos, 36, que estudou hotelaria na Suíça e trabalhou em Londres nos restaurantes de Joel Robuchon e Alain Ducasse.
Numa coisa a turma acerta ao imitar a cozinha caseira: é prazerosa mesmo sem ser impecável. Como a cozinha do dia a dia de casa, tão familiar e reconfortante que, ao ter pequenos defeitos, todos se recusam sequer a perceber.

josimar@basilico.com.br

ROSA MARIA

ENDEREÇO r. Purpurina, 107, Vila Madalena, tel. 0/xx/11 3062-1790
FUNCIONAMENTO de ter. a qui., das 12h às 14h30 e das 19h30 às 23h; sex., das 12h às 14h30 e das 19h30 à 0h; sáb., das 12h30 à 0h; dom., das 12h30 às 17h
AMBIENTE numa esquina, o térreo é mais luminoso, o andar de cima, mais acanhado (embora maior)
SERVIÇO corre bem, mesmo com o movimento
VINHOS a pequena oferta poderia ser mais ambiciosa
CARTÕES A, D, M e V
PREÇOS entradas, de R$ 8 a R$ 30; pratos, de R$ 40 a R$ 110; sobremesas, de R$ 10 a R$ 20


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