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São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2003

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DANÇA

Contra a lei da gravidade


Em temporada brasileira, grupo canadense utiliza câmeras, lentes e microfones no espetáculo "Luna"


INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Sete anos depois de sua primeira temporada brasileira, a companhia canadense O Vertigo volta ao país com uma dança onde a imaginação insólita e o uso de tecnologia criam novas visões sobre o corpo. Reconhecida no seu país como renovadora, a coreógrafa (e fundadora do grupo) Ginette Laurin explora a teatralidade e os movimentos radicais, inspirados na sua formação de ginasta. Em cena, surgem lentes de aumento, microcâmeras e microfones, que dão "uma visão diferente dos corpos em movimento".
A temporada inicia a Série Antares Dança, que acontece em São Paulo e no Rio de Janeiro. Do México, Ginette Laurin conversou com a Folha, por telefone, sobre suas pesquisas e sobre a peça que traz ao Brasil. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
 

Imagens reais e transformadas do corpo
"Em "Luna" tentei mostrar o lado oculto da coreografia. Para isso, usei lentes de aumento e pequenas câmeras escondidas nos figurinos. Procuro expor alguns movimentos que esconderíamos. Foi uma maneira de provocar novas percepções do corpo em movimento, seja pelo detalhamento, seja pela ampliação dos gestos. Há também microfones que ampliam a respiração, e nos levam, de algum modo, ao interior dos corpos. A tecnologia me ajudou a escapar e a rever a realidade."

Ponto de partida
"Em cada peça o ponto de partida é diferente. Em "Luna" me inspirei no fotógrafo alemão Karl Blossfeldt (1865-1932), que fotografava detalhes de flores e plantas. Olhando suas fotografias, não reconhecemos as plantas, mas vê-se algo muito interessante e simétrico. Isso me levou a mostrar o corpo em movimento de uma nova perspectiva -para que se possa ver a beleza do ser humano."

Cenários, figurinos, música
"Precisamos ter uma visão global da cena; especialmente em "Luna", onde usamos novas tecnologias. Há algumas projeções sobre os figurinos, ou sobre o fundo do palco. Os diversos elementos ajudam a criar uma atmosfera; são parte da dança, como os bailarinos."

Gravidade
"Acho que os coreógrafos tentam lutar contra a gravidade. Em "Luna", procuro chegar próxima à gravidade da Lua; os bailarinos flutuam. Há várias maneiras de criar a ilusão de ausência de gravidade. Desde o balé clássico, com sapatilha de pontas, procura-se escapar dela. Uma maneira de sentir que o corpo não está caindo e sim se erguendo. Também me interessam os movimentos que vão em direção ao solo. Gosto de jogar com a fragilidade e a vulnerabilidade do ser humano."

Dança e novas tecnologias
"Eu pesquiso o corpo humano. Trabalho com dança há 30 anos e as possibilidades que o corpo oferece ainda me fascinam. Uso as tecnologias para ver através do corpo. É importante não perder a dimensão do ser humano."


LUNA. Com a companhia O Vertigo. Onde: Teatro Municipal de SP (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, tel. 0/xx/ 11/ 222-8698); Teatro Municipal do Rio (pça. Floriano, s/nš, tel: 0/xx/21/2262-3935). Quando: dias 23 e 24/4, às 21h (SP); 26/4, às 21h, e 27/4, às 17h (RJ). Quanto: de R$ 20 a R$ 80. Patrocínio: Embratel


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