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DANÇA
Contra a lei da gravidade
Em temporada brasileira, grupo canadense utiliza câmeras, lentes e microfones no espetáculo "Luna"
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INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Sete anos depois de sua primeira temporada brasileira, a companhia canadense O Vertigo volta ao
país com uma dança onde a imaginação insólita e o uso de tecnologia criam novas visões sobre o
corpo. Reconhecida no seu país
como renovadora, a coreógrafa (e
fundadora do grupo) Ginette
Laurin explora a teatralidade e os
movimentos radicais, inspirados
na sua formação de ginasta. Em
cena, surgem lentes de aumento,
microcâmeras e microfones, que
dão "uma visão diferente dos corpos em movimento".
A temporada inicia a Série Antares Dança, que acontece em São
Paulo e no Rio de Janeiro. Do México, Ginette Laurin conversou
com a Folha, por telefone, sobre
suas pesquisas e sobre a peça que
traz ao Brasil. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Imagens reais e transformadas
do corpo
"Em "Luna" tentei mostrar o lado
oculto da coreografia. Para isso,
usei lentes de aumento e pequenas câmeras escondidas nos figurinos. Procuro expor alguns movimentos que esconderíamos. Foi
uma maneira de provocar novas
percepções do corpo em movimento, seja pelo detalhamento,
seja pela ampliação dos gestos. Há
também microfones que ampliam a respiração, e nos levam,
de algum modo, ao interior dos
corpos. A tecnologia me ajudou a
escapar e a rever a realidade."
Ponto de partida
"Em cada peça o ponto de partida
é diferente. Em "Luna" me inspirei
no fotógrafo alemão Karl Blossfeldt (1865-1932), que fotografava
detalhes de flores e plantas.
Olhando suas fotografias, não reconhecemos as plantas, mas vê-se
algo muito interessante e simétrico. Isso me levou a mostrar o corpo em movimento de uma nova
perspectiva -para que se possa
ver a beleza do ser humano."
Cenários, figurinos, música
"Precisamos ter uma visão global
da cena; especialmente em "Luna",
onde usamos novas tecnologias.
Há algumas projeções sobre os figurinos, ou sobre o fundo do palco. Os diversos elementos ajudam
a criar uma atmosfera; são parte
da dança, como os bailarinos."
Gravidade
"Acho que os coreógrafos tentam
lutar contra a gravidade. Em "Luna", procuro chegar próxima à
gravidade da Lua; os bailarinos
flutuam. Há várias maneiras de
criar a ilusão de ausência de gravidade. Desde o balé clássico, com
sapatilha de pontas, procura-se
escapar dela. Uma maneira de
sentir que o corpo não está caindo
e sim se erguendo. Também me
interessam os movimentos que
vão em direção ao solo. Gosto de
jogar com a fragilidade e a vulnerabilidade do ser humano."
Dança e novas tecnologias
"Eu pesquiso o corpo humano.
Trabalho com dança há 30 anos e
as possibilidades que o corpo oferece ainda me fascinam. Uso as
tecnologias para ver através do
corpo. É importante não perder a
dimensão do ser humano."
LUNA. Com a companhia O Vertigo.
Onde: Teatro Municipal de SP (pça.
Ramos de Azevedo, s/nš, tel. 0/xx/ 11/
222-8698); Teatro Municipal do Rio (pça.
Floriano, s/nš, tel: 0/xx/21/2262-3935).
Quando: dias 23 e 24/4, às 21h (SP); 26/4,
às 21h, e 27/4, às 17h (RJ). Quanto: de R$
20 a R$ 80. Patrocínio: Embratel
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