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CRÍTICA
Inspirado nos europeus, filme escapa do sentimentalismo
THIAGO STIVALETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em uma cena de "A Lula e a
Baleia", Bernard Berkman, o
professor vivido por Jeff Daniels,
encena para a mulher, Joan (Laura Linney), o final trágico e inesperado de Jean-Paul Belmondo
em "Acossado" (1959), de Godard. Essa e outras referências indicam que estamos num tipo raro
de filme americano, de um diretor
que conhece a vanguarda do cinema europeu dos anos 60.
O diretor Noah Baumbach é co-roteirista de "A Vida Marinha de
Steve Zissou", de Wes Anderson,
e, como ele, investe numa abordagem original, num estranhamento que foge das regras convencionais do grande cinema para construir um drama familiar enriquecido com pitadas de sarcasmo.
Baumbach pega uma história
aparentemente banal, inspirada
em sua própria infância: um casal
decide se separar, e os dois filhos,
Walt, 16, e Frank, 12, tentam reconstruir suas identidades depois
que suas vidas são viradas de cabeça para baixo, com um revezamento frenético entre a casa do
pai e da mãe, confissões inesperadas dos motivos da separação e o
novo comportamento que os pais
adotam, namorando ou flertando
com pessoas mais jovens.
É aí que as referências ao cinema europeu mostram não ser gratuitas. Como Godard e os demais
cineastas da nouvelle vague,
Baumbach busca uma abordagem mais racional, despida de
sentimentalismos que aproximem seu filme do melodrama. Os
embates entre os integrantes da
família e aqueles que os circundam são inesperados e muitas vezes ríspidos. As coisas nunca terminam onde deveriam terminar.
Walt e Frank não são vítimas indefesas da crueldade e da indiferença de pais egocêntricos. Os
pais se importam, querem minimizar os problemas dos filhos,
mas eles vão se virar como podem
e reagir de maneiras inesperadas.
O desfecho aberto remete a "A
Doce Vida", de Fellini, e à incapacidade de seus personagens de se
compreender por completo e de
buscar um sentido lógico para vidas que transcorrem em meio ao
caos humano.
"A Lula e a Baleia" é um filme
que exige abertura de espírito e
uma disposição para brincar com
os gêneros. Ganhou três indicações ao Globo de Ouro: filme comédia, ator e atriz. O Oscar, afeito
ao conservadorismo e aos gêneros rígidos, só reservou-lhe uma
indicação a roteiro original.
A Lula e a Baleia
The Squid and the Whale
Direção: Noah Baumbach
Produção: EUA, 2005
Com: Jeff Daniels, Laura Linney
Onde: nos cines Bombril, Cineclube
Vitrine, Espaço Unibanco e Sala UOL
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