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CINEMA
Diretor e roteirista norte-americano fala sobre o processo de filmagem de "A Lula e a Baleia", produção em cartaz em SP
Baumbach lembra experiência da separação
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Filho do escritor Jonathan
Baumbach e de Georgia Brown,
ex-crítica de cinema do jornal nova-iorquino "The Village Voice",
o diretor e roteirista Noah Baumbach, 36, levou quatro anos para
viabilizar sua quarta comédia
dramática. Baseado em argumento de caráter autobiográfico (que
tem como ponto de partida a separação dos pais), "A Lula e a Baleia", em cartaz em SP, foi rodada
em apenas 23 dias, custou US$ 1,5
milhão e arrecadou cinco vezes
mais apenas nos EUA e no Canadá. Baumbach falou à Folha.
Folha - O projeto de "A Lula e a
Baleia" é antigo?
Noah Baumbach - Comecei a escrevê-lo provavelmente em 2000.
Terminei a primeira versão no
início de 2001. Como demorou até
que o filme pudesse ser feito, voltei ao roteiro para reescrever algumas coisas. Desde o início, queria
dirigi-lo também.
Folha - Jeff Daniels e Laura Linney foram as primeiras escolhas
para os papéis?
Baumbach - Laura recebeu o roteiro muito cedo. Foi a minha escolha inicial. Não pensava em Jeff
Daniels para interpretar o pai,
mas, assim que o conheci e conversei com ele sobre o papel, vi
que era a escolha certa.
Folha - Em quem você pensava?
Baumbach - Não gosto de falar
sobre isso. Para mim, Jeff inventou o personagem.
Folha - E os garotos?
Baumbach - Foi um longo processo de seleção. Fiz muitos testes,
inclusive com os escolhidos, Jesse
Eisenberg (que havia feito "A Vila") e Owen Kline (que havia trabalhado com a mulher de Baumbach, a atriz Jennifer Jason Leigh,
em "Aniversário de Casamento").
Folha - Como suas experiências
com a separação de seus pais foram
parar no filme?
Baumbach - Pus um pouco nos
dois irmãos. Na vida real, eu era o
menino mais velho, mas há coisas
minhas em ambos, e traços que
reconheci em outras pessoas que
passaram pela mesma situação.
Folha - Foi difícil recriar o
Brooklyn dos anos 80?
Baumbach - Em alguns casos,
sim. Nas cenas em que se caminha
pelas ruas, por exemplo. Tentamos não nos preocupar com isso.
Tudo o que podíamos controlar,
controlamos. Mas um bocado do
Brooklyn ainda parece o mesmo.
Folha - Você escalou o cineasta
Peter Bogdanovich para o elenco
de "A Vida É uma Festa" e "Louco
de Ciúmes". Foi homenagem?
Baumbach - Sim. Estive com Peter na noite passada e o considero
um cineasta maravilhoso.
Folha - Quais cineastas admira?
Baumbach - O quão longe vamos
[risos]? Na geração de Peter, amo
[Martin] Scorsese, [Robert] Altman, [Francis] Coppola, Woody
Allen, Hal Ashby, Mike Nichols,
Arthur Penn. É uma geração extraordinária. Amo também
[John] Cassavetes. Em uma geração posterior, admiro os [irmãos]
Coen, Mike Leigh, Jim Jarmusch,
Jonathan Demme. Sou um grande fã dos irmãos Dardenne. Gosto
de Benoît Jacquot e Agnès Jaoui.
Sou um grande fã da nouvelle vague. Gosto muito de Wong Kar-wai. Sou freqüentemente mais
atraído pelo cinema estrangeiro
do que pelo americano.
Folha - E Hollywood?
Baumbach - Tenho prazer em fazer parte da indústria. A minha situação é a melhor de todas. Vivo
em Nova York, onde me sinto em
casa, mas gosto de ir até Los Angeles. A indústria cinematográfica
exerce papel importante na cultura do país. E minha mulher tem
uma casa lá também.
Folha - Você planeja trabalhar
com Jennifer?
Baumbach - Estou rodando um
filme com ela e Nicole Kidman.
Folha - Qual é o argumento?
Baumbach - Não gosto de falar
sobre isso, mas elas interpretam
irmãs. A história se ambienta no
campo, na Costa Leste.
Folha - Comédia ou drama?
Baumbach - Ambos, como "A
Lula e a Baleia".
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