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Crítica/cinema/"Grindhouse"
Tarantino faz bom tributo a filmes B
"Prova de Morte", que estreou nos EUA, é um dos episódios de "Grindhouse", que tem trabalho insosso de Robert Rodriguez
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O problema de "Grindhouse", novo filme da
dupla Quentin Tarantino-Robert Rodriguez, é o
mesmo dos parques temáticos
da Flórida ou das réplicas de
monumentos históricos de Las
Vegas: a falsa noção norte-americana de que a reprodução pela
reprodução já é homenagem
suficiente e se basta como valor
artístico.
No caso de "Grindhouse",
que chega ao Brasil no semestre que vem, o foco da homenagem é o gênero que batiza o
próprio filme, que teve seu auge
nos anos 60 e 70, e cuja característica básica era baixo orçamento, muita violência, algum
terror e algum sexo.
Rouba seu nome das salas de
cinema que mostravam duplas
atrações ininterruptamente, as
tais "grindhouses". "Grind" é
"moer" ou "ranger" mas também uma dança do começo do
século. Quando os teatros em
que essa dança tinha lugar viraram salas exibidoras de filmes
B, ganharam o nome. Pois um
dos freqüentadores das sessões
duplas era Tarantino, que baseou sua carreira em homenagear gêneros que marcaram sua
juventude. Às vezes, faz obras-primas ("Cães de Aluguel" e
"Pulp Fiction"), às vezes, filmes
só acima da média ("Jackie
Brown" e "Kill Bill").
"Grindhouse" não é uma coisa nem outra. Lembra os barzinhos paulistanos que tentam
reproduzir o "boteco carioca"
ou o "boteco antigão do Centro": como a "Torre de Pisa" de
Las Vegas, quase chegam lá,
mas lhes falta em alma o que
sobra em plástico, limpeza e
ambiente controlado.
Além disso, os filmes B eram
B porque custavam pouco.
"Grindhouse" levou US$ 60
milhões dos irmãos Weinstein.
O público não apareceu; deu
US$ 11 milhões de bilheteria na
estréia, outros US$ 9 milhões
no último fim de semana.
Parte do problema, disseram
os analistas, seria a duração:
três horas e 11 minutos. Pode
ser, mas esse crítico acha que é
o que é mostrado nesse tempo
todo que afugentou o público. A
começar pela desigualdade na
qualidade dos dois filmes.
O primeiro, "Planeta Terror", de Rodriguez, é vários
pontos abaixo do de Tarantino,
"Prova de Morte" (referência a
um carro que é "à prova de
morte"), e a justaposição dos
dois filmes deixa isso evidente.
Deixa evidente também como
esse é um verdadeiro cineasta,
enquanto aquele é só um competente fazedor de filmes.
Em "Planeta Terror", Rodriguez recria sem muita imaginação "A Noite dos Mortos Vivos", de George Romero, com algumas mudanças no roteiro e
muitas citações aos filmes que
vieram depois do clássico de
1969. O destaque é o personagem de Rose McGowan, que ganha uma metralhadora como
prótese depois de sua perna direita ser devorada por um dos
zumbis. Bizarro, e só.
Já "Prova de Morte" usa um
psicopata que é motorista dublê de filmes (Kurt Russell) como desculpa para Tarantino fazer o que faz melhor: diálogos
recheados de citações à cultura
pop que roubam a atenção do
público para uma história que,
de outra maneira, seria boba.
Há conversas sobre um possível "desmembramento" dos
filmes, que teriam a duração
aumentada e seriam relançados separadamente. Pode ser
que cheguem nesse formato ao
Brasil. Ganhará o espectador.
PLANETA TERROR
Direção: Robert Rodriguez
Com: Naveen Andrews, Josh Brolin,
Rose McGowan e outros
Avaliação: ruim
PROVA DE MORTE
Direção: Quentin Tarantino
Com: Rosario Dawson, Zoe Bell, Michael Bacall e outros
Avaliação: bom
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