São Paulo, terça-feira, 17 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/cinema/"Grindhouse"

Tarantino faz bom tributo a filmes B

"Prova de Morte", que estreou nos EUA, é um dos episódios de "Grindhouse", que tem trabalho insosso de Robert Rodriguez

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O problema de "Grindhouse", novo filme da dupla Quentin Tarantino-Robert Rodriguez, é o mesmo dos parques temáticos da Flórida ou das réplicas de monumentos históricos de Las Vegas: a falsa noção norte-americana de que a reprodução pela reprodução já é homenagem suficiente e se basta como valor artístico.
No caso de "Grindhouse", que chega ao Brasil no semestre que vem, o foco da homenagem é o gênero que batiza o próprio filme, que teve seu auge nos anos 60 e 70, e cuja característica básica era baixo orçamento, muita violência, algum terror e algum sexo.
Rouba seu nome das salas de cinema que mostravam duplas atrações ininterruptamente, as tais "grindhouses". "Grind" é "moer" ou "ranger" mas também uma dança do começo do século. Quando os teatros em que essa dança tinha lugar viraram salas exibidoras de filmes B, ganharam o nome. Pois um dos freqüentadores das sessões duplas era Tarantino, que baseou sua carreira em homenagear gêneros que marcaram sua juventude. Às vezes, faz obras-primas ("Cães de Aluguel" e "Pulp Fiction"), às vezes, filmes só acima da média ("Jackie Brown" e "Kill Bill").
"Grindhouse" não é uma coisa nem outra. Lembra os barzinhos paulistanos que tentam reproduzir o "boteco carioca" ou o "boteco antigão do Centro": como a "Torre de Pisa" de Las Vegas, quase chegam lá, mas lhes falta em alma o que sobra em plástico, limpeza e ambiente controlado.
Além disso, os filmes B eram B porque custavam pouco. "Grindhouse" levou US$ 60 milhões dos irmãos Weinstein.
O público não apareceu; deu US$ 11 milhões de bilheteria na estréia, outros US$ 9 milhões no último fim de semana.
Parte do problema, disseram os analistas, seria a duração: três horas e 11 minutos. Pode ser, mas esse crítico acha que é o que é mostrado nesse tempo todo que afugentou o público. A começar pela desigualdade na qualidade dos dois filmes.
O primeiro, "Planeta Terror", de Rodriguez, é vários pontos abaixo do de Tarantino, "Prova de Morte" (referência a um carro que é "à prova de morte"), e a justaposição dos dois filmes deixa isso evidente.
Deixa evidente também como esse é um verdadeiro cineasta, enquanto aquele é só um competente fazedor de filmes.
Em "Planeta Terror", Rodriguez recria sem muita imaginação "A Noite dos Mortos Vivos", de George Romero, com algumas mudanças no roteiro e muitas citações aos filmes que vieram depois do clássico de 1969. O destaque é o personagem de Rose McGowan, que ganha uma metralhadora como prótese depois de sua perna direita ser devorada por um dos zumbis. Bizarro, e só.
Já "Prova de Morte" usa um psicopata que é motorista dublê de filmes (Kurt Russell) como desculpa para Tarantino fazer o que faz melhor: diálogos recheados de citações à cultura pop que roubam a atenção do público para uma história que, de outra maneira, seria boba.
Há conversas sobre um possível "desmembramento" dos filmes, que teriam a duração aumentada e seriam relançados separadamente. Pode ser que cheguem nesse formato ao Brasil. Ganhará o espectador.


PLANETA TERROR
Direção:
Robert Rodriguez
Com: Naveen Andrews, Josh Brolin, Rose McGowan e outros
Avaliação: ruim

PROVA DE MORTE
Direção:
Quentin Tarantino
Com: Rosario Dawson, Zoe Bell, Michael Bacall e outros
Avaliação: bom


Texto Anterior: Cecilia Giannetti: Eu reportava ao sr. Nakamura
Próximo Texto: Diretores vêm ao Brasil para lançar filmes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.