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Crítica/""Rimbaud - A Vida Dupla de Um Rebelde"
Bom prosador, White descreve com paixão o gênio insolente do poeta
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA
Vista em plano geral, a
vida de Arthur Rimbaud é uma das mais
romanescas da literatura.
Quando criança foi um estudante aplicado e tímido, com
prodigioso talento para a poesia. Na adolescência, tornou-se
um rapaz intranquilo e insolente. Fugiu de casa várias vezes.
Foi preso. Mendigou nas ruas e
nas estradas. Viveu um tumultuado caso amoroso com um
dos maiores poetas da época,
Paul Verlaine.
Aos 19, decidiu abandonar a
poesia. Percorreu vários países
da Europa até partir para a
África, onde foi traficante de
armas. Morreu aos 37, ignorado pelo meio cultural francês.
Vista em plano de detalhe,
entretanto, a vida de Rimbaud
provoca outro tipo de excitação, ligada às peripécias da criação literária.
Ainda garoto, leu boa parte
da poesia do passado e do presente. A cada poema que fazia,
ele se colocava exigências cada
vez maiores.
A fim de realizar
seus principais livros, trancafiou-se durante meses na fazenda da família. Além de vagabundo das estradas, foi um trabalhador incansável, rigoroso e
irreverente do verso. Deixou
uma obra monumental, que
abriu uma infinidade de caminhos para a literatura.
Entrelaçar o plano geral e os
planos de detalhe dessa existência atribulada é justamente
o objetivo de "Rimbaud - A Vida
Dupla de um Rebelde", de Edmund White.
Um crítico austero diria que
White trabalha com material
de segunda mão, recontando as
informações apuradas pelos
maiores "investigadores" da vida de Rimbaud, como Graham
Robb. Diria também que White
não oferece nenhuma leitura
inédita a respeito da obra rimbaudiana.
Mas condenar seu ensaio
biográfico por esses motivos é
agir de má-fé. Antes de mais nada, o escritor americano se propôs fazer um livro de difusão,
ou seja, dirigido ao público em
geral, e não aos especialistas e
"scholars". Enquanto tal, ele é
muito bem-sucedido.
White coloca todo o seu arsenal de (bom) prosador à disposição da obra, transformando a
vida de Rimbaud numa narrativa vivaz e envolvente, rica em
detalhes e anedotas, mas sensível às aventuras espirituais e
criativas do poeta. É também
um crítico talentoso, além de
professor de literatura, e, graças a isso, consegue entremear,
com maestria e didatismo, análises das obras cruciais do autor
de "Uma Temporada no Inferno". Assim, seu ensaio biográfico acaba se tornando uma breve, mas intensa, introdução à
criação poética.
Outra qualidade do livro é
conseguir tirar de detrás da
sombra tirânica de Rimbaud
este poeta magnífico que é Paul
Verlaine, do qual White traça
um retrato comovente, sem nada ocultar: nem as fraquezas,
nem o gênio.
RIMBAUD - A VIDA DUPLA DE
UM REBELDE
Autor: Edmund White
Tradução: Marcos Bagno
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 35 (192 págs.)
Avaliação: ótimo
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