São Paulo, sábado, 17 de abril de 2010

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Crítica/""Rimbaud - A Vida Dupla de Um Rebelde"

Bom prosador, White descreve com paixão o gênio insolente do poeta

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA

Vista em plano geral, a vida de Arthur Rimbaud é uma das mais romanescas da literatura. Quando criança foi um estudante aplicado e tímido, com prodigioso talento para a poesia. Na adolescência, tornou-se um rapaz intranquilo e insolente. Fugiu de casa várias vezes. Foi preso. Mendigou nas ruas e nas estradas. Viveu um tumultuado caso amoroso com um dos maiores poetas da época, Paul Verlaine.
Aos 19, decidiu abandonar a poesia. Percorreu vários países da Europa até partir para a África, onde foi traficante de armas. Morreu aos 37, ignorado pelo meio cultural francês.
Vista em plano de detalhe, entretanto, a vida de Rimbaud provoca outro tipo de excitação, ligada às peripécias da criação literária. Ainda garoto, leu boa parte da poesia do passado e do presente. A cada poema que fazia, ele se colocava exigências cada vez maiores.
A fim de realizar seus principais livros, trancafiou-se durante meses na fazenda da família. Além de vagabundo das estradas, foi um trabalhador incansável, rigoroso e irreverente do verso. Deixou uma obra monumental, que abriu uma infinidade de caminhos para a literatura.
Entrelaçar o plano geral e os planos de detalhe dessa existência atribulada é justamente o objetivo de "Rimbaud - A Vida Dupla de um Rebelde", de Edmund White.
Um crítico austero diria que White trabalha com material de segunda mão, recontando as informações apuradas pelos maiores "investigadores" da vida de Rimbaud, como Graham Robb. Diria também que White não oferece nenhuma leitura inédita a respeito da obra rimbaudiana.
Mas condenar seu ensaio biográfico por esses motivos é agir de má-fé. Antes de mais nada, o escritor americano se propôs fazer um livro de difusão, ou seja, dirigido ao público em geral, e não aos especialistas e "scholars". Enquanto tal, ele é muito bem-sucedido.
White coloca todo o seu arsenal de (bom) prosador à disposição da obra, transformando a vida de Rimbaud numa narrativa vivaz e envolvente, rica em detalhes e anedotas, mas sensível às aventuras espirituais e criativas do poeta. É também um crítico talentoso, além de professor de literatura, e, graças a isso, consegue entremear, com maestria e didatismo, análises das obras cruciais do autor de "Uma Temporada no Inferno". Assim, seu ensaio biográfico acaba se tornando uma breve, mas intensa, introdução à criação poética.
Outra qualidade do livro é conseguir tirar de detrás da sombra tirânica de Rimbaud este poeta magnífico que é Paul Verlaine, do qual White traça um retrato comovente, sem nada ocultar: nem as fraquezas, nem o gênio.


RIMBAUD - A VIDA DUPLA DE UM REBELDE

Autor: Edmund White
Tradução: Marcos Bagno
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 35 (192 págs.)
Avaliação: ótimo




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