São Paulo, sábado, 17 de abril de 2010 |
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RODAPÉ LITERÁRIO Poesia dissidente
MANUEL DA COSTA PINTO COLUNISTA DA FOLHA "SERIA TÃO sábio jogar uma violeta em um caldeirão para que se pudesse descobrir o princípio formal de sua cor e de seu perfume como fazer uma transfusão das criações de um poeta de uma língua para outra". Essas palavras de Shelley (1792-1822) deveriam desencorajar qualquer tradutor do poeta romântico inglês. Mas como o próprio Shelley tratou de verter Homero e Platão, Virgílio e Dante para sua língua, o poeta e músico Alberto Marsicano e o professor de literatura inglesa John Milton resolveram desafiar seu duro veredicto sobre a "vanidade da tradução". O resultado é "Sementes Aladas - Antologia Poética de Percy Bysshe Shelley". O volume vem anunciado como "primeiro livro de traduções de Shelley em língua portuguesa", o que é uma inverdade. Estão disponíveis nas melhores casas do ramo uma edição de "O Triunfo da Vida" (Rocco), com tradução de Leonardo Fróes para o longo e inacabado poema em que Shelley replica o "Triunfo da Morte" ,de Petrarca, e uma outra antologia bilíngue, bem mais alentada, organizada pelo poeta e tradutor Péricles Eugênio da Silva Ramos: "Ode ao Vento Oeste e Outros Poemas" (Hedra). Esta "Ode", aliás, está incluída no livro de Marsicano e Milton, com a vantagem, sobre a versão de Silva Ramos, de recuperar a "terza rima" incorporada por Shelley a partir de Petrarca e Dante, durante suas deambulações pela Itália (onde viveu como um abastado dissidente do conservadorismo britânico, morrendo após o naufrágio de sua escuna). O volume traz ainda alguns sonetos (como o célebre tributo "A Wordsworth"), versos de lírica pura (como "A Uma Cotovia", expressão da confiança na "luz do intelecto" de que o poeta se faz portador) e, sobretudo, "Adonais: Uma Elegia sobre a Morte de John Keats". O sobrenome Shelley acabou se tornando mais conhecido graças a sua segunda mulher, Mary Shelley, autora do romance fantástico "Frankenstein". "Sementes Aladas" ajuda a restituir ao poeta seu lugar no panteão romântico. Um romantismo, no seu caso, em que confluem a "comunhão com a natureza idílica" (expressão de Fróes) e poemas de conteúdo político (como o soneto "Inglaterra 1819", denúncia das "leis douradas e sanguinárias que matam e seduzem"). Essas duas vertentes atingem sua síntese sublime em "Adonais", na qual Shelley insere seu credo filosófico, idealização quase religiosa do espírito "uno" do intelecto, que resiste à mutabilidade e à corrupção do mundo, desafiando a própria morte como um fogo que "consome as derradeiras nuvens do gélido findar". SEMENTES ALADAS Autor: Percy Bysshe Shelley Editora: Ateliê Tradução: Alberto Marsicano e John Milton Quanto: R$ 42 (162 págs.) Avaliação: bom Lançamento: 23 de abril, às 18h30, na Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho, 915, São Paulo, tel. 0/ xx/11/3814-5811) Texto Anterior: Vitrine Próximo Texto: Rebeldia em quadrinhos Índice |
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