Diálogos espirituosos costuram história inspirada em roubo a banco em Londres

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

O ex-modelo inglês Jason Statham estreou no cinema em "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" (1998) e fez em seguida "Snatch - Porcos e Diamantes" (2000), ambos dirigidos por Guy Ritchie. Desde então, tornou-se quase sinônimo de comédia policial de humor negro.
Se ele está em "Efeito Dominó", é fácil supor que o universo seja o mesmo, requentado em chave britânica a partir dos primeiros filmes de Tarantino. Mas, embora se trate de outro policial com situações caricaturais e toques de humor, há uma novidade: é inspirado em fatos verídicos, ainda que incríveis.
Em setembro de 1971, os jornais ingleses noticiaram um mirabolante roubo a banco em Londres. Todos os cofres particulares guardados na agência foram levados. Transmissões de walkie-talkie entre dois ladrões, captadas por acidente, ajudaram a polícia a seguir o rastro da quadrilha.
Dias depois, porém, o episódio sumiu da imprensa. Os nomes dos presos nunca foram divulgados; o conteúdo dos cofres desapareceu. "Efeito Dominó" (boa solução para o título "The Bank Job") explica o motivo: os ladrões, desavisados, levaram com as caixas uma fortuna, mas também uma cadeia complexa de crimes e segredos que batiam à porta da família real, entre muitas outras portas.
Statham faz o principal laranja da história, convencido por uma mulher fatal (Saffron Burrows, de "Reine sobre Mim") a montar a quadrilha. O diretor australiano Roger Donaldson ("Sem Saída", "Treze Dias que Abalaram o Mundo") usa o ator como âncora da comédia de equívocos que, a certa altura, parece insolúvel.
Nas mãos dos veteranos roteiristas ingleses Dick Clement e Ian La Frenais ("The Commitments", "Across the Universe"), a história ganha diálogos espirituosos para acompanhar as reviravoltas -que, embora não alcancem o charme de "O Plano Perfeito" (2006), superam as surpresas de "Um Plano Brilhante" (2007), outro recente filme britânico de assalto que também se baseia em fatos verídicos.