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Barraco literário agita famílias de autores famosos
Mãe de Michel Houellebecq e irmã de Hanif Kureishi atacam escritores por retratarem parentes em suas obras
Em livro recém-lançado na França, mãe de Houellebecq chama o filho de mentiroso e parasita e diz que ele deveria pedir perdão
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
Parente é serpente, e isso vale também para o mundo das
letras. Dois casos recentes na
Europa mostram que usar a família como fonte de inspiração
pode dar boa literatura, mas
também muita confusão.
Um barraco é francês e envolve o polêmico Michel Houellebecq. Quem já leu o autor de
"Plataforma" (Record) conhece
sua prosa sofisticada, iconoclasta, hedonista e com gosto
pelo chocante. No best-seller
"Partículas Elementares" (Sulina), uma mãe hippie e egoísta
é negligente com o filho por
causa de uma vida errante em
comunidades bizarras e sexo livre com homens mais novos. É
um retrato que o autor faz da
própria mãe.
Agora, madame Lucie Ceccaldi, 83, resolveu se vingar.
Acaba de lançar o livro de memórias "L'Innocente" (a inocente, ed. Scali, 400 págs.,
19,90, R$ 52 mais frete), em
que parte para o contra-ataque.
A polêmica mobilizou a imprensa do país. "Meu filho que
vá se f. com quem ele quiser",
escreve madame. "Com Michel, pode-se voltar a conversar no dia em que ele vier a público com "Partículas Elementares" na mão e disser: "Sou um
mentiroso, impostor, fui um
parasita (...) e peço perdão'".
Ceccaldi nasceu na Argélia e
mora na ilha francesa Reunião,
no Oceano Índico, onde Houellebecq nasceu em... 1958. Errado. Nasceu em 1956, corrige a
mãe, que é anestesista de formação, foi militante comunista
e narra no livro suas viagens
pela África e Índia, entre outras
aventuras e problemas de saúde. E que, de fato, relegou o filho na infância para ser criado
pelas avós, como "Partículas..."
retrata (Houellebecq adotou o
sobrenome da avó paterna).
O "enfant terrible" da literatura gaulesa, que deixou o país
para fugir das polêmicas (uma
delas religiosa, que lhe valeu
um processo) e vive em local
incerto (ora diz que mora na Irlanda, ora na Espanha), por enquanto não se manifestou.
Hanif Kureishi
A outra confusão acontece do
outro lado do Canal da Mancha
e envolve Hanif Kureishi, que
esteve na Festa Literária Internacional de Parati de 2003. Sua
irmã Yasmin Kureishi aproveitou o lançamento do último livro do autor, "Something to
Tell You" (algo para te contar,
Faber and Faber, 352 págs.,
16,99 libras, R$ 55 mais frete),
que trata de um psicanalista e
suas memórias dos anos 70, para se queixar ao jornal "The Independent" de que o irmão estava se excedendo ao passar
uma imagem negativa da família, fartamente representada
em seus roteiros e livros.
Para Yasmin, os pais são retratados de forma caricata em
"O Buda do Subúrbio" (Cia. das
Letras), "para entretenimento
do público e lucro dele". Não é
só. Um bêbado no filme "Minha
Adorável Lavanderia" seria "tio
Omar", e a própria Yasmin seria a aspirante a escritora frustrada do filme "The Mother" (a
mãe, de 2003). "Minha vida foi
assassinada pela causa da arte",
diz Yasmin, que não conversa
mais com o irmão.
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