São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica

"A Maçã" faz média com governo do Irã

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Onde anda o cinema iraniano, que 12 ou 15 anos atrás maravilhava o mundo? Ouve-se aqui e ali que nos anos mais recentes a censura apertou. E é muito difícil resistir, por um período prolongado, aos efeitos de uma censura feroz, sobretudo quando tem por trás uma crença religiosa.
Há também algumas derrotas a contabilizar, do ponto de vista da distribuição. O "Five" de Abbas Kiarostami, que é um monumento, só nos chegou na Mostra Internacional de Cinema. Admitamos que é um filme radical: eis outro motivo para que chegue ao menos em DVD.
O desgaste do cinema iraniano revela-se sobretudo numa certa insistência temática, na presença quase obrigatória de crianças e adolescentes nos filmes (o que já é, em parte, um resultado da censura).
E mais afetados são cineastas como Samira Makhmalbaf, a filha de Mohsen Makhmalbaf, que, em 1998, quase adolescente, realizou "A Maçã" (Canal Futura, às 22h; classificação indicativa: livre).
Um filme não original, mas promissor, tratando de duas crianças que permaneceram aprisionadas pelos pais por anos e anos, antes de serem libertadas por assistentes sociais. Já daí se percebe a média que se faz com o governo. E como um cinema vai perdendo a vitalidade quase sem que ninguém note ou reclame por efeito da censura. Samira, hoje com pouco mais de 30 anos, terá vida difícil pela frente.


Texto Anterior: Bia Abramo: A menina, o monstro e o medo
Próximo Texto: Ferreira Gullar: Os inumeráveis estados do ser
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.