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Crítica
"A Maçã" faz média com governo do Irã
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Onde anda o cinema iraniano, que 12 ou 15 anos atrás maravilhava o mundo? Ouve-se
aqui e ali que nos anos mais recentes a censura apertou. E é
muito difícil resistir, por um
período prolongado, aos efeitos
de uma censura feroz, sobretudo quando tem por trás uma
crença religiosa.
Há também algumas derrotas a contabilizar, do ponto de
vista da distribuição. O "Five"
de Abbas Kiarostami, que é um
monumento, só nos chegou na
Mostra Internacional de Cinema. Admitamos que é um filme
radical: eis outro motivo para
que chegue ao menos em DVD.
O desgaste do cinema iraniano revela-se sobretudo numa
certa insistência temática, na
presença quase obrigatória de
crianças e adolescentes nos filmes (o que já é, em parte, um
resultado da censura).
E mais afetados são cineastas
como Samira Makhmalbaf, a filha de Mohsen Makhmalbaf,
que, em 1998, quase adolescente, realizou "A Maçã" (Canal
Futura, às 22h; classificação indicativa: livre).
Um filme não original, mas
promissor, tratando de duas
crianças que permaneceram
aprisionadas pelos pais por
anos e anos, antes de serem libertadas por assistentes sociais. Já daí se percebe a média
que se faz com o governo. E como um cinema vai perdendo a
vitalidade quase sem que ninguém note ou reclame por efeito da censura. Samira, hoje
com pouco mais de 30 anos, terá vida difícil pela frente.
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