São Paulo, sábado, 17 de junho de 2000


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LITERATURA
Obra une fotos de Ernesto Baldan e texto de Hermano Vianna
"Música do Brasil" retrata som do país que brinca

Reprodução
Apolônio Melônio, de São Luís, MA



LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil que brinca, que ri, que toca, que canta, que dança e que se diverte. De maneira sagrada, para reverenciar santos e crenças, ou profana, pelo prazer da alegria.
É esse país alegre -que sobrevive, apesar da violência- que emerge do livro "Música do Brasil", união do trabalho do antropólogo Hermano Vianna ao do fotógrafo Ernesto Baldan.
A publicação é mais uma etapa de projeto da Abril Entretenimentos, que inclui programa na MTV, quatro CDs, um site na Internet e o livro agora lançado.
São 125 fotos intercaladas por textos que compõem um levantamento da produção musical brasileira ligada às manifestações populares "folclóricas".
Na verdade, trata-se de uma grande reportagem, com textos e imagens relatando o que foi encontrado pelo Brasil afora quando, por idéia de Vianna, se buscou a música popular brasileira feita de forma espontânea.
As manifestações musicais registradas são as mais diversas, mas de alguma maneira interligadas, como se fossem, nas palavras de Vianna, "nós de uma rede".
Há do Carnaval carioca ao rap da periferia de São Paulo, passando pelo maracatu, bumba-meu-boi, candomblé, pagode alagoano, tambor de crioula, samba-de-roda, entre outros, de um total de cem grupos musicais contatados ao longo de 80 mil quilômetros percorridos em dois anos.
A opção do fotógrafo Ernesto Baldan foi pelo registro em preto-e-branco. O que traz vantagens e desvantagens. Se por um lado a ausência de cor impede que se compartilhe do colorido das fantasias, por outro oferece a luminosidade e os contrastes peculiares do recurso preto-e-branco, com suas nuanças atendendo tanto à necessidade de imprimir realismo à cena como à de torná-la mais fluida e etérea.
Na sua condição de antropólogo-repórter, Hermano Vianna, em seus textos sempre curtos e precisos, exercita várias técnicas, no fundo comuns aos dois ramos de atividade: descrição de cenas, comentários, críticas, análises, entrevistas.
Há diversos trechos no formato pergunta/resposta, alguns divertidos, como o que trata do chefe do Batalhão de Bacamarteiros, brincadeira popular de Sergipe, que tem seis famílias, outros contundentes, como aquele em que uma garota negra de 11 anos discorre de forma madura sobre a questão do preconceito racial (do qual diz ser vítima) em Santa Catarina.
Ao contrário do que se poderia imaginar, as fotos não servem apenas para ilustrar os textos ou entrevistas. Têm vida própria e partem de um princípio bastante claro e definido: a fixação da alegria como opção de vida (ainda que temporária) daqueles personagens.
Defronta-se, portanto, com uma profusão de sorrisos e danças e movimentos em torno de uma alegria muitas vezes inexplicável.
O que pode ser percebido nas palavras de "seu" Anacleto, enfermeiro e participante das festas de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas: "É com muito orgulho que sou brasileiro. Eu não tenho mistura de branco, nem de espanhol , de italiano, de nada! Sou brasileiro nativo mesmo. Sou índio aqui do Alto Rio Negro. Eu não conheço o Brasil, só conheço o meu município. Mas estou muito feliz pelo meu esforço de ser brasileiro."


Música do Brasil     Autores: Hermano Vianna e Ernesto Baldan Editora: Abril Entretenimento Quanto: R$ 89 (224 págs.)



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