São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"A Bela e a Fera", montagem mais cara já produzida no país, estréia em São Paulo na próxima quinta

Espetáculo monstro

João Caldas/Divulgação
Os atores Kiara Sasso e Saulo Vasconcelos, nos papéis principais da versão brasileira do clássico "A Bela e a Fera"


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Encastelado em dados superlativos que o colocam entre as maiores produções do teatro brasileiro contemporâneo (R$ 8 milhões de largada, mais R$ 1 milhão por mês), o musical "A Bela e a Fera", que pré-estréia na próxima quarta-feira em São Paulo para convidados (a estréia para o público é na quinta), pretende-se o espetáculo mais complexo da Corporação Interamericana de Entretenimento (CIE), a multinacional mexicana que opera no país desde 1999.
"Rent", "O Beijo da Mulher Aranha", "Aí Vem o Dilúvio" e "Les Misérables" como que esquentaram o motor para uma realização de maior apelo.
Foi em nome dessa perspectiva que, 15 meses atrás, a CIE derrubou o teatro Paramount, o "palácio encantado" da avenida Brigadeiro Luís Antônio, na Bela Vista, e ergueu em seu lugar o teatro Abril, cuja estrutura e volume de palco correspondem aos recursos tecnológicos que caracterizam as produções à la Broadway, o distrito dos musicais em Nova York. São espetáculos que gostam de explorar efeitos aéreos.
Há 32 mudanças de cena em "A Bela e a Fera". Se "Les Misérables" usava estrutura mecânica para reproduzir uma barricada, aqui a automação se instaura.
Segundo o supervisor argentino Maximiliano Pastorelli, 26, que também trabalhou na montagem do espetáculo em Buenos Aires e Madri, os cenários são movimentados por 17 motores.
Em uma sala atrás do palco, os operadores acompanham as cenas em monitores que reproduzem imagens captadas por câmeras infravermelho.
Diante de qualquer manobra que implique risco para o elenco, o responsável pela automação aciona um botão de emergência que interrompe a engrenagem. Daí a necessidade de ensaios exaustivos para a marcação de palco, diz Pastorelli.
Uma visita aos bastidores dá a dimensão do espetáculo que a CIE realiza em parceria com as também internacionais Disney Theatrical Productions e Mat Theatrical & Entertainment S/A.
A fase de pré-montagem envolveu cerca de 500 profissionais, estima o diretor da divisão de teatro da CIE Brasil, Jorge Takla, o mesmo de "Vitor ou Vitória".
Tudo contrasta com os padrões do teatro brasileiro de até quatro anos atrás. São várias frentes de um único exército: a turma dos figurinos, outra das perucas, dos sapatos, dos adereços, da maquiagem, da música, da automação, enfim, tudo que ampare o desempenho artístico do elenco, que por sua vez demanda outras tantas equipes (coreografia, canto, interpretação etc).
Logo no primeiro corredor, um segurança de paletó preto empunha um walkie-talkie. Controle. Um circuito interno de som, tal qual aeroporto, comunica elenco e técnicos sobre isso e aquilo. Nos camarins, coletivos ou individuais, ouve-se tudo o que se fala no palco durante os ensaios.
Apesar do ambiente de concentração, costureiras e aderecistas parecem descontraídas. Zezé de Castro, 54, chefia 12 mulheres em suas máquinas de costuras. "Todas foram escolhidas por causa da experiência em espetáculos de teatro ou de ópera", afirma dona Zezé, que trabalhou em "Mãe Coragem e Seus Filhos", em cartaz no Sesc Anchieta. São cerca de 2.000 itens de figurino, entre vestidos, paletós, chapéus e outros. O vestido da personagem Sra. Potts (o bule, Ana Taglianetti) e a indumentária de Lumière (poste, Marcos Tumura) são dos mais difíceis, segundo a supervisora mexicana Geneviève Petitpierre, 42.
Na montagem original americana, o vestido da Sra. Potts carrega cerca de 5.000 pedras. A versão brasileira traz cerca de 3.000, "para dar mais leveza e sensibilidade" à personagem. "Os detalhes dos bordados e das pedras são fundamentais. São eles que garantem o brilho, o "glitter" do musical, que fala sobre castelo e riqueza", afirma Petitpierre.
O enredo de "A Bela e a Fera" é inspirado em conto homônimo da escritora francesa Jeanne-Marie Leprince de Beaumont (1711-80), cuja versão para desenho pelos estúdios Wald Disney estreou em 1991 e chegou aos palcos da Broadway três anos depois (atualmente, há 17 montagens do musical no mundo).
Conta-se a história da moça que, para salvar o pai, entrega-se a um monstro. Mas sucumbe à paixão e ajuda a desfazer o feitiço sobre o príncipe que virou Fera.
Apesar de captar parte dos recursos por meio de leis de incentivo à cultura -municipal e federal-, os ingressos custam de R$ 50 a R$ 150. "Eles têm que ser caros porque senão a produção, mesmo patrocinada, não tem retorno. E, mesmo assim, precisa de pelo menos um ano para gerar receita", afirma Jorge Takla, 50. "Não esqueça que a maioria do público vai pagar meia-entrada."



Texto Anterior: Filmes e TV paga
Próximo Texto: Elenco tem novos e conhecidos da "safra CIE"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.