São Paulo, segunda-feira, 17 de junho de 2002

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CINEMA
Cineastas e produtores não se entendem quanto à transferência do acervo de matrizes da Cinemateca do MAM carioca
Negativos de filmes causam "guerra" Rio-SP

PEDRO BUTCHER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em breve o Rio de Janeiro poderá perder um de seu tesouros culturais, o acervo de matrizes (negativos de filmes) da Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM). No museu, já é certeza, essas matrizes não ficarão mais, por decisão irrevogável da atual diretoria.
Desde que o caso veio à tona, a comunidade cinematográfica carioca rachou ao meio. A maior parte dos cineastas e produtores defende a transferência desse acervo, pelo menos provisoriamente, para o local com melhores condições de preservá-lo hoje (a Cinemateca Brasileira, em São Paulo). Já professores, críticos, estudantes e um número menor de cineastas iniciaram grande campanha para impedir o desmembramento e a viagem do acervo, exigindo do poder público uma solução. Entre acusações de bairrismo e sabotagem, reuniões às pencas, propostas estapafúrdias e outras sérias, instalou-se o caos.
A polêmica começou quando Maria Regina do Nascimento Brito, atual diretora do MAM, determinou o prazo de 31 de julho para que as matrizes fossem retiradas por seus proprietários. A Cinemateca do MAM guarda 10 mil títulos em 40 mil estojos, que incluem os acervos da Atlântida, do Canal 100, de parte do Cinema Novo, de Julio Bressane, Rogério Sganzerla, Domingos Oliveira e vários outros cineastas, além de filmes institucionais do Exército, do DNER e da Vale do Rio Doce. Aos proprietários foram oferecidas duas alternativas: transferir suas matrizes para a Cinemateca de São Paulo ou para o Arquivo Nacional, no Rio, que tem espaço disponível mas ainda não tem condições ideais para o armazenamento de negativos, necessitando de obras.
Segundo a diretoria do MAM, da proximidade do mar (e o consequente excesso de umidade) à ameaça a outras obras de arte (as pinturas seriam sensíveis a partículas ácidas desprendidas pelos negativos em decomposição), vários fatores conspirariam para que os negativos saíssem do museu. Há, ainda, a questão mais importante: os custos de manutenção desse acervo, altíssimos. Seriam necessários R$ 3 milhões para construir um depósito adequado e R$ 100 mil mensais para mantê-lo.
Há três meses a diretoria do MAM comunicou aos cineastas que não seria mais depositária dos filmes. A questão, na verdade, vinha sendo discutida há um ano e meio, sem que soluções fossem encontradas. Maria Regina Brito assegurou que a cinemateca continuaria existindo, com uma sala de projeção nova a ser inaugurada em julho próximo. O museu também manteria as cópias de filmes nacionais e estrangeiros, que representam apenas 5% do acervo. Não se chegou a uma conclusão quanto ao precioso conjunto de papel (fotografias, recortes de jornal, cartazes etc). Mesmo quando a polêmica veio à tona e o secretário da Cultura do Rio, Ricardo Macieira, ofereceu recursos para a construção do depósito de negativos e sua manutenção, a diretoria do MAM recusou.
No final de maio, várias entidades assinaram documentos contra a saída desse material do Rio e iniciou-se um movimento pela internet (S.O.S. Cinemateca) que colheu mais de 5.000 assinaturas. O prazo para a retirada das matrizes foi prorrogado pelo MAM até o final de setembro. "Muita coisa vem acontecendo sem a articulação necessária", diz Carlos Brandão, do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro.
Enquanto isso, surgiram propostas que deixaram os produtores apavorados, como o projeto de lei que transforma os negativos em patrimônio cultural do Rio. Se aprovada, a lei multiplicaria a burocracia em torno da movimentação desse material e diminuiria a autonomia dos proprietários dos filmes, que ainda usam os negativos para fazer novas cópias e matrizes para TV, vídeo e DVD.
Ricardo Macieira afirma que a questão virou prioridade máxima para o município. "A prefeitura do Rio não vai medir esforços para viabilizar que o acervo de matrizes do MAM fique no Rio de Janeiro. A cidade terá uma Cinemateca Carioca. Estamos procurando um espaço físico para a construção de um depósito e orçando os custos para disponibilizar essa área. Há grande possibilidade desse depósito ser no Riocentro."



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