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CINEMA
Cineastas e produtores não se entendem quanto à transferência do acervo de matrizes da Cinemateca do MAM carioca
Negativos de filmes causam "guerra" Rio-SP
PEDRO BUTCHER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Em breve o Rio de Janeiro poderá perder um de seu tesouros culturais, o acervo de matrizes (negativos de filmes) da Cinemateca do
Museu de Arte Moderna (MAM).
No museu, já é certeza, essas matrizes não ficarão mais, por decisão irrevogável da atual diretoria.
Desde que o caso veio à tona, a
comunidade cinematográfica carioca rachou ao meio. A maior
parte dos cineastas e produtores
defende a transferência desse
acervo, pelo menos provisoriamente, para o local com melhores
condições de preservá-lo hoje (a
Cinemateca Brasileira, em São
Paulo). Já professores, críticos, estudantes e um número menor de
cineastas iniciaram grande campanha para impedir o desmembramento e a viagem do acervo,
exigindo do poder público uma
solução. Entre acusações de bairrismo e sabotagem, reuniões às
pencas, propostas estapafúrdias e
outras sérias, instalou-se o caos.
A polêmica começou quando
Maria Regina do Nascimento Brito, atual diretora do MAM, determinou o prazo de 31 de julho para
que as matrizes fossem retiradas
por seus proprietários. A Cinemateca do MAM guarda 10 mil títulos em 40 mil estojos, que incluem
os acervos da Atlântida, do Canal
100, de parte do Cinema Novo, de
Julio Bressane, Rogério Sganzerla,
Domingos Oliveira e vários outros cineastas, além de filmes institucionais do Exército, do DNER
e da Vale do Rio Doce. Aos proprietários foram oferecidas duas
alternativas: transferir suas matrizes para a Cinemateca de São Paulo ou para o Arquivo Nacional, no
Rio, que tem espaço disponível
mas ainda não tem condições
ideais para o armazenamento de
negativos, necessitando de obras.
Segundo a diretoria do MAM,
da proximidade do mar (e o consequente excesso de umidade) à
ameaça a outras obras de arte (as
pinturas seriam sensíveis a partículas ácidas desprendidas pelos
negativos em decomposição), vários fatores conspirariam para
que os negativos saíssem do museu. Há, ainda, a questão mais importante: os custos de manutenção desse acervo, altíssimos. Seriam necessários R$ 3 milhões para construir um depósito adequado e R$ 100 mil mensais para
mantê-lo.
Há três meses a diretoria do
MAM comunicou aos cineastas
que não seria mais depositária
dos filmes. A questão, na verdade,
vinha sendo discutida há um ano
e meio, sem que soluções fossem
encontradas. Maria Regina Brito
assegurou que a cinemateca continuaria existindo, com uma sala
de projeção nova a ser inaugurada
em julho próximo. O museu também manteria as cópias de filmes
nacionais e estrangeiros, que representam apenas 5% do acervo.
Não se chegou a uma conclusão
quanto ao precioso conjunto de
papel (fotografias, recortes de jornal, cartazes etc). Mesmo quando
a polêmica veio à tona e o secretário da Cultura do Rio, Ricardo
Macieira, ofereceu recursos para a
construção do depósito de negativos e sua manutenção, a diretoria
do MAM recusou.
No final de maio, várias entidades assinaram documentos contra a saída desse material do Rio e
iniciou-se um movimento pela
internet (S.O.S. Cinemateca) que
colheu mais de 5.000 assinaturas.
O prazo para a retirada das matrizes foi prorrogado pelo MAM até
o final de setembro. "Muita coisa
vem acontecendo sem a articulação necessária", diz Carlos Brandão, do Centro de Pesquisadores
do Cinema Brasileiro.
Enquanto isso, surgiram propostas que deixaram os produtores apavorados, como o projeto
de lei que transforma os negativos
em patrimônio cultural do Rio. Se
aprovada, a lei multiplicaria a burocracia em torno da movimentação desse material e diminuiria a
autonomia dos proprietários dos
filmes, que ainda usam os negativos para fazer novas cópias e matrizes para TV, vídeo e DVD.
Ricardo Macieira afirma que a
questão virou prioridade máxima
para o município. "A prefeitura
do Rio não vai medir esforços para viabilizar que o acervo de matrizes do MAM fique no Rio de Janeiro. A cidade terá uma Cinemateca Carioca. Estamos procurando um espaço físico para a construção de um depósito e orçando
os custos para disponibilizar essa
área. Há grande possibilidade
desse depósito ser no Riocentro."
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