São Paulo, domingo, 17 de junho de 2007

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"Não tenho nenhum pudor", diz Claudia Raia

Como vilã da novela "Sete Pecados", atriz promete temperar personagem com humor

Claudia relembra, com vergonha, de cenas de sexo que fez no início da carreira, em filmes como "Matou a Família e Foi ao Cinema"

MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Engraçadinha, nome da personagem rodriguiana que mudou os rumos de sua carreira em 1995, não é um adjetivo que sirva para a atriz Claudia Raia, 40, cuja vida na televisão sempre foi pontuada pelo humor. Símbolo sexual dos anos 80, ela prefere se definir como despudorada, ousada e engraçadona. "Eu não tenho pudor nenhum, por isso faço humor", diz a atriz, que encara sua 12ª novela a partir de amanhã como a vilã Ágata, de "Sete Pecados", escrita por Walcyr Carrasco e dirigida por Jorge Fernando.
Recém-saída de uma bem-sucedida temporada do musical "Sweet Charity", onde foi vista por 136,5 mil pessoas, a campineira, casada com Edson Celulari, com quem tem dois filhos (Enzo e Sophia), analisa sua carreira: "Foram apenas alguns vôos sem dizer a que vieram, alguns personagens que passaram desapercebidos. Mas é assim." Leia a seguir trechos da entrevista.  

TEATRO
Minha vida se divide em a.C. e d.C., antes de Charity e depois de Charity. Foi uma luta como atriz para conseguir fazer esse personagem, porque eu não tenho "physique" (tipo) para isso. Ela é uma perdedora, e eu não posso usar minhas muletas na Charity, porque elas não servem. Ela é pequenininha, dentro de uma superprodução; são 74 pessoas. Acho que o público que não pode pagar R$ 120, meu público de TV, poderia me ver também. Luto para fazer uma temporada popular, mas preciso de um patrocínio de R$ 1 milhão e não consegui ainda. Se eu não tiver o patrocínio, não consigo me mexer nem abrir o pano. É muito difícil fazer esse tipo de produção. A gente tinha de descobrir algo para que o governo incentivasse esse tipo de projeto, para que houvesse maior empenho.

HUMOR
Não tenho pudor nenhum, por isso faço humor. É gostoso poder brincar com tudo isso. Ágata é uma vilã, mas ela é leve, e eu gosto de fazer vilãs. Essa leveza vem do humor, porque ninguém é totalmente mau nem totalmente bom. Ela pensa como ser humano e minha insistência é em humanizá-la. Tenho muita liberdade com o horário das sete e com esse tipo de humor, para esse público, que eu conheço. Minha carreira é muito apoiada no humor. "TV Pirata" foi um marco. Aquela turma cresceu, amadureceu, se emancipou, e cada um brilha hoje com sua própria estrela. Faz falta aquele tipo de humor.

CARREIRA
Eu tinha dois caminhos: ou me tornaria a bonitona e gostosona e chegaria um momento em que eu não seria nada mais disso, ou eu virava atriz e usava a beleza a meu favor. É um caminho árduo, mas eu não sofro para mostrar que não sou só um corpo bonito e que minha carreira não está apoiada somente nas minhas pernas. É preciso trabalhar muito e eu sempre usei isso [o corpo] a meu favor. Eu achava que era um "a mais" que eu tinha. Trabalhei muito e fui rejeitada para fazer "Engraçadinha". Fui escondida fazer e ganhei o papel na raça; fui com a Denise Saraceni. Eu amo o [Carlos] Manga, mas ele achava que eu não poderia fazer Nelson Rodrigues. Ele achava que eu não era uma atriz rodriguiana, que não era uma atriz dramática.

CINEMA E NUDEZ
Fiz uns três ou quatro filmes seguidos e depois nunca mais. "Boca de Ouro", "Kuarup", [a atriz abaixa a voz e sussurra] "Matou a Família e Foi ao Cinema"... [Interrompida pela Folha: Seu passado te condena?] Esse passado me condena. A hora em que me vi dentro de uma banheira com uma galinha viva, declamando poesias eróticas de James Joyce e com minha amiga da vida inteira Louise Cardoso virando canja, eu só pensava "Por que eu estou aqui?". Isso nos anos 80. Toda vez que eu vejo é uma facada para mim. Daí aparecem umas coisas na internet: "Claudia Raia fez isso na juventude"; sou eu e a Louise no filme; as pessoas vêm me contar, e eu não tenho o que fazer. Daí, falam: "mas você tem um filho de dez anos", e o que eu vou fazer? Vou explicar para que é um filme? Não me arrependo de nada. Fiz cinco "Playboy". Se eu me arrependesse, estava morta. Acho difícil fazer isso de novo. Mas, se aparecer um personagem que apareça nu, se valer a pena, eu faço. Mas ensaio fotográfico, agora que estou com dois filhos, acho que não é o que eu queira mais da vida. Tenho vontade de voltar a fazer cinema e fazer uma personagem linda, porque exercitei muito pouco. Se meu ídolo, Almodóvar, me chamasse para limpar o chão do set, eu iria, até porque falo espanhol bem. É um sonho.

BELEZA
Faço exercícios físicos não para continuar um mulherão, mas porque sou bailarina. No que me é dado um personagem, tento extrair dali o máximo de complexidade. É difícil ter coragem de dar o pulo do gato e até errar. Como eu sou uma mulher de 1,80 m e que todo mundo conhece, vira um puta erro, um errão. Graças a Deus, nunca tive um errão, algo que pudesse dar uma borrada na minha carreira.


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