São Paulo, domingo, 17 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

Filipe Redondo/Folha Imagem
Camarão-carabineiro, que é vendido a ¢100 o quilo


A queda do dólar fez com que os preços dos importados baixassem. Mas não em todos os lugares: os cardápios dos restaurantes luxuosos, por exemplo, continuam os mesmos -e os preços também

Xepa chique (e não é promoção)

No mercado de luxo, em que boa parte dos produtos são importados e os preços, exibidos com uma fila de zeros no final, a queda do dólar está deixando o consumidor um tanto perplexo. É que muitos dos produtos -como roupas e sapatos -ficaram mais baratos. Já as guloseimas... A coluna bateu perna por lojas, shoppings e restaurantes para verificar o que subiu e o que desceu nesses tempos de dólar baratinho.

 

A preocupação de quem baixou o preço é que seu produto não fique tão barato a ponto de ser considerado "popular". Por isso, ninguém alardeia as remarcações. "Eu nem podia dizer isso", confidencia a vendedora da Louis Vuitton do shopping Iguatemi. "Mas essa bolsa, que custava R$ 2.390, agora sai por R$ 1.970."
 

Na Ermenegildo Zegna, o terno de R$ 4.690 custa agora R$ 3.890; a camisa de R$ 1.380 baixou para R$ 990. A gravata de R$ 890 caiu para R$ 680. Emporio Armani, Giorgio Armani e Armani Exchange reduziram os valores em 15% para a coleção primavera-verão 2007. Nada a ver com a xepa que a grife estava sendo acusada de fazer na Daslu, onde os preços eram baixos porque eram de coleções passadas.
 

"É importante deixar claro que não estamos fazendo promoção, e sim realinhamento de preços", diz Esber Hajli, representante da Diesel no Brasil. Nos últimos 18 meses, os preços da loja baixaram em média 35%. A calça modelo Vicker, por exemplo, caiu de R$ 1.272 para R$ 1.027. "Não baseamos a venda em preço. Mas o consumidor não aceita ser desrespeitado", diz Esber. "Nosso cliente é antenado. Viaja, circula em lojas do mundo inteiro, olha na internet. Sabe o que está acontecendo", diz Rosângela Lyra, diretora da Dior no Brasil. Na grife francesa, as bolsas caíram de R$ 5.000, em média, para R$ 3.000; os sapatos, de R$ 2.000 para R$ 1.200.
 

A valorização do real faz com que a diferença de preços entre os importados e nacionais diminua. Um jeans da italiana D&G sai por R$ 770. O jeans Gliter da brasileira Carmin custa R$ 624. Na nacional Huis Clos, um vestido igual ao que Angélica usou no casamento de Wanessa Camargo custa R$ 2.462. Na Clube Chocolate, um vestido Marc Jacobs, de algodão, é vendido por R$ 1.898. Modelo similar de Jacobs custava R$ 2.200 em 2006. Já grifes como Cavalli, Versace, Baccarat e Montblanc fogem à regra. Dizem importar em euro. Como o preço da moeda não caiu, seus preços não foram alterados.
 

No caso dos carros importados, em que um Porsche 911 Turbo custa US$ 358 mil, a oscilação da moeda americana pode significar uma grande diferença em poucas semanas. Os vendedores festejam: em 2003, foram vendidos 73 Porsches no país. No ano passado, 438.
Já os gourmands têm pouco a comemorar: os preços dos restaurantes permanecem salgados. Os donos das casas dizem que os produtos importados pesam pouco no orçamento. "Em uma casa de 70 lugares, tenho 30 cozinheiros, 16 garçons, dois mâitres, sommelier e assistente de sommelier", diz Alex Atala, do D.O.M. E ingredientes como o camarão-carabineiro, pescado no Brasil, são exportados e têm preço cotado em euros. "Coloco dois carabineiros por prato, que custam uns 25 euros, pouco mais de R$ 75", afirma Atala. Já o preço dos vinhos mais caros continua igual porque as safras são negociadas com grande antecedência, muitas vezes em euro. É o caso, por exemplo, do La Tache Monopole 2002 (R$ 3.400,00), produzido pela Domaine de la Romanée-Conti e importado pela Expand. Giancarlo Bolla, do La Tambouille, afirma que os preços só baixariam em restaurantes de alto luxo se custos fixos como aluguel, água, luz e impostos caíssem também.
 

No setor de serviços, o fenômeno é parecido. No MG Hair, de Marco Antônio Di Biaggi, por exemplo, 90% dos produtos são importados. "Até meu colorista é importado [Juha Antero é da Finlândia], diz Marco. Mas os preços não baixaram: a tintura custa R$ 180; o reflexo, R$ 400. "Os salários dos funcionários não caíram. Só de aluguel, pago R$ 60 mil. E aqui não é como em Nova York, onde as pessoas se servem em máquina de café. Minhas clientes são luxuosíssimas. Tenho dois garçons, e um já foi do Fasano. São quatro seguranças. E oito manobristas. São clientes AA, que não esperam nem cinco minutos", diz Marco.


Texto Anterior: Diretor contrata produtora O2 para mostrar São Paulo
Próximo Texto: Al Pacino abre seu "baú do tesouro"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.