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Econômica, nova peça de Peter Brook vai da comédia ao luto
"Fragments", que reúne quatro textos curtos e um poema de Beckett, com três atores em cena, lota teatro em sua estréia, anteontem, no Festival de Londrina
LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A LONDRINA
É de uma economia absoluta
"Fragments" (fragmentos), espetáculo dirigido pelo inglês
Peter Brook que teve sua estréia brasileira anteontem à
noite, no Festival Internacional de Londrina (Filo).
Em cena, quatro peças curtas
e um poema de Samuel Beckett
(1906-1989) são apresentados
em enxutos 53 minutos por
três atores, num cenário em
que só se vêem os objetos usados em cada segmento (duas
banquetas, um violino, um banco de madeira e uma cadeira).
"Rough for Theatre 1" abre o
sexto trabalho de Brook a fazer
escala no país -o último foi
"Sizwe Banzi Est Mort" (Sizwe
Banzi está morto), em 2006. No
palco, um cadeirante ranzinza
(Marcello Magni) e um músico
cego (Khalifa Natour) descobrem afinidades (como a "queda" por carne em conserva e sopa de batatas) e ensaiam uma
relação simbiótica, ainda que
pontuada por rusgas.
Dezenove minutos depois,
vestida de preto da cabeça aos
pés, Hayley Carmichael inicia o
solo "Rockaby", narração objetiva, mas delicada, do fim de um
longo dia para uma mulher -a
vida. A estrutura circular desse
réquiem o faz soar como uma
releitura feminina de "Cotidiano", de Chico Buarque.
Humor
O luto passa longe de "Act
Without Words 2", em que
Magni e Natour (que, assim como Carmichael, faz no Brasil
sua estréia no espetáculo) abrigam-se em sacos brancos e, cutucados por aquilo que parece
ser um "dedo" celeste, criam tipos diametralmente opostos.
O primeiro, personificação
do mau humor, leva a vida à base de resmungos e pílulas -que
rendem grunhidos em cascata.
O segundo, de seu lado, entoa
"What a Wonderful World" enquanto faz sua higiene matinal
e veste um terno.
O segmento, ancorado em
mímica e lances clownescos, foi
o que mais agradou ao público
que lotou o Teatro Filo (com
capacidade para 323 pessoas).
Seguiu-se o poema "Neither"
(nenhum), com Carmichael
novamente só em cena, desta
vez a sondar (em não mais do
que dois minutos) as dúvidas e
hesitações universais.
A noite termina com "Come
and Go", em que o trio de atores
encarna igual número de senhoras candongueiras. Sentadas num banco de jardim, rememoram os velhos tempos.
Quando uma delas se ausenta,
as duas remanescentes imediatamente compartilham um segredo sobre aquela.
Com poucas palavras, mas
trocas de olhares e gestual expressivos, o grupo volta a seduzir a platéia paranaense.
À saída, o educador curitibano Bruno Mancuso, 27, elogiou
as atuações e o texto: "Gostei do
primeiro monólogo: achei bem
sutil a forma como se introduz
essa mulher depressiva".
A professora do curso de artes cênicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Heloisa Bauab, 53, disse que o espetáculo confirma a opção atual de Brook pelo palco nu:
"Ele já experimentou todos os
tipos de linguagem. Hoje, a
gente vê um teatro despojado,
que retorna à fonte primitiva
de texto e ator, após um período em que ele criou um teatro
visual ao extremo".
Ela também saudou a leveza
do espetáculo. "Beckett tem esse lado comunicativo; talvez alguns [encenadores] o tenham
tomado muito a sério."
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