São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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Fim da censura motivou a arte pornográfica

DA REPORTAGEM LOCAL

Glauco Mattoso, 52, e Braulio Tavares, 53, são os únicos representantes vivos da "Antologia Pornográfica". Se a Tavares coube apenas um poema, Mattoso contribuiu com 18 sonetos.
"Eu diria que sou não só um dos mais ativos, como um dos mais passivos poetas pornôs", afirma o paulista, homossexual e podólatra assumido, que não se nega os rótulos de "maldito" e a herança de Bocage e Gregório de Matos.
Mattoso e Tavares já haviam sido publicados juntos em "Antolorgia", espécie de manifesto do Movimento da Arte Pornô, que surgiu na década de 80. Ligados às vanguardas dos anos 50 e à poesia marginal dos 70, o livro foi lançado em 84. O movimento se destacava por performances ousadas e, nos textos, pela temática sexual, pelos termos coloquiais e a intenção humorística. Mas, para Tavares, nada disso teria impacto hoje.
"Tinha mais sentido naquela época, pois era um sinal do espírito do tempo: fim da repressão, maior liberalismo político e comportamental. Hoje a permissividade está excessiva, foi encampada pelas TVs, pela publicidade, pela mídia popularesca. Virou ideologia dominante."
Foi justamente no auge da censura, em 1974, que Mattoso se interessou pela temática. "Naqueles anos publiquei marginalmente, como outros poetas dessa geração", lembra. "A censura me atiçou a curiosidade sobre os tais "autores proibidos", e, como fui bibliotecário, tive acesso a tudo."
Tavares reconhece os mestres do passado, mas vê na atuação de seus contemporâneos a principal motivação para exercer o gênero.
"Foram Leila Míccolis, Eduardo Kak, Cairo Trindade, Tanussi Cardoso, Cynthia Dornelles e Mano Melo, entre outros que admitiam publicamente fazer esse tipo de poesia, que me incentivaram a fazer o mesmo", diz ele.
Mas, se não funcionaria mais hoje, como deve ser encarada a "Antologia" atual? Para Tavares, o melhor dela é sua concentração na parte clássica do gênero.
"Os brasileiros sempre escreveram poemas sexualmente explícitos, mas esses foram omitidos nas "obras completas" dos autores por hipocrisia, medo de incomodar ou de se desvalorizar." (MDA)


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