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Fim da censura motivou a arte pornográfica
DA REPORTAGEM LOCAL
Glauco Mattoso, 52, e Braulio
Tavares, 53, são os únicos representantes vivos da "Antologia
Pornográfica". Se a Tavares coube
apenas um poema, Mattoso contribuiu com 18 sonetos.
"Eu diria que sou não só um dos
mais ativos, como um dos mais
passivos poetas pornôs", afirma o
paulista, homossexual e podólatra assumido, que não se nega os
rótulos de "maldito" e a herança
de Bocage e Gregório de Matos.
Mattoso e Tavares já haviam sido publicados juntos em "Antolorgia", espécie de manifesto do
Movimento da Arte Pornô, que
surgiu na década de 80. Ligados às
vanguardas dos anos 50 e à poesia
marginal dos 70, o livro foi lançado em 84. O movimento se destacava por performances ousadas e,
nos textos, pela temática sexual,
pelos termos coloquiais e a intenção humorística. Mas, para Tavares, nada disso teria impacto hoje.
"Tinha mais sentido naquela
época, pois era um sinal do espírito do tempo: fim da repressão,
maior liberalismo político e comportamental. Hoje a permissividade está excessiva, foi encampada pelas TVs, pela publicidade,
pela mídia popularesca. Virou
ideologia dominante."
Foi justamente no auge da censura, em 1974, que Mattoso se interessou pela temática. "Naqueles
anos publiquei marginalmente,
como outros poetas dessa geração", lembra. "A censura me atiçou a curiosidade sobre os tais
"autores proibidos", e, como fui bibliotecário, tive acesso a tudo."
Tavares reconhece os mestres
do passado, mas vê na atuação de
seus contemporâneos a principal
motivação para exercer o gênero.
"Foram Leila Míccolis, Eduardo
Kak, Cairo Trindade, Tanussi
Cardoso, Cynthia Dornelles e Mano Melo, entre outros que admitiam publicamente fazer esse tipo
de poesia, que me incentivaram a
fazer o mesmo", diz ele.
Mas, se não funcionaria mais
hoje, como deve ser encarada a
"Antologia" atual? Para Tavares, o
melhor dela é sua concentração
na parte clássica do gênero.
"Os brasileiros sempre escreveram poemas sexualmente explícitos, mas esses foram omitidos nas
"obras completas" dos autores por
hipocrisia, medo de incomodar
ou de se desvalorizar."
(MDA)
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