São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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ENTRELINHAS

O bolo da Flip

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem todos ficaram contentes com a Festa. Apagadas as últimas velas da segunda edição da Flip, Sérgio Machado, dono do gigante Grupo Editorial Record, distribuiu uma carta a amigos propondo mudanças drásticas na divisão do bolo.
O editor diz que o festival de Parati foi sucesso "incontestável", mas "repete" o que disse uma revista, segundo a qual a Flip "é um evento percebido como sendo da Cia. das Letras e que recebeu apoio de dinheiro público, que, talvez, estaria melhor empregado na Bienal".
Machado estabelece uma série de relações entre a Cia. das Letras e o Unibanco, entre esse e a Biblioteca Nacional (patrocinadores da Flip), e diz: "Se o evento é democrático e aberto como alegam seus organizadores, aproveito para sugerir três providências: Nenhuma editora terá mais que 10% dos autores em cada edição da festa. A comissão organizadora será transparente e haverá um rodízio de seus membros a cada ano, devendo fazer parte dela pelo menos um membro indicado pelo Snel. Todas as despesas com os autores convidados correrão por conta do evento". Termina com um "foi um sucesso o Festival Bloomsbury/Cia das Letras" e com a "hipótese" de que a fórmula da Bienal ("o "budget" de Parati é quase o mesmo do da Bienal, com a diferença que a Bienal recebe de 200 a 300 mil visitantes de todas as camadas sociais") possa estar "superada".

FLIPADOS
Cinco mais vendidos da Livraria da Vila instalada na Flip: "Nação Crioula", "O Dia em que Zumbi Tomou o Rio" e "Vendedor de Passado" (os três do enfant terrible do evento, o angolano José Eduardo Agualusa, publicados pela Gryphus), "Noite do Oráculo", de Paul Auster, e "Budapeste", de Chico Buarque (ambos da Companhia das Letras).

DÉJÀ VU
Maior prêmio de ficção do país, o Portugal Telecom de Literatura Brasileira deve anunciar na segunda os 30 livros mais votados por seu júri inicial. Dalton Trevisan e Bernardo Carvalho, ganhadores da 1ª edição, no ano passado, estão entre eles. João Gilberto Noll e Luzilá Gonçalves, finalistas em 2003, também. Os dez concorrentes "para valer" aos R$ 150 mil saem em 10 de agosto.

ESQUINDÔ LELÊ
Capa do "The Times Literary Supplement", prestigiado caderno cultural do jornal inglês "The Times", que vai às bancas de Londres hoje: uma mulata de biquíni branco e a frase "Brazil Now". Trata-se de resenha do livro "A Death in Brazil", do australiano Peter Robb.

PRIMAVERA A CAVALO
Foram fechados data e local da próxima edição carioca da Primavera do Livro, evento de editoras da Libre. Será de 16 a 19 de setembro no Jóquei Clube. A edição de São Paulo do evento anual ainda é mistério.

AUTO-ANÁLISE
A Câmara Brasileira do Livro finaliza o projeto de uma revista mensal sobre o mercado editorial no país. "Panorama Editorial", prevista para setembro, terá 5.000 exemplares.

TREM DE POUSO
Herói de boa parte da intelectualidade francesa, Jacques Derrida, 74, está com bilhete marcado para o Brasil. Ele virá em agosto, para o Colóquio Internacional Derrida, organizado no Rio pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Vai fazer a conferência "O Perdão, a Verdade, a Reconciliação: Qual Gênero?".

@ - elek@folhasp.com.br

FORA DA ESTANTE

Não bastassem as pinturas, desenhos e esculturas, que já o afixariam a superbonder na história da arte brasileira, Flavio de Carvalho (1899-1973) quis fazer arte também com a atitude. Esse pioneiro do happening tapuia, é sabido, vestiu seu saiote no Viaduto do Chá e, entre outras, caminhou contra uma procissão de Corpus Christi, em 1931, o que relatou em "Experiência nº 2" (que a pequena editora Nau resgatou às prateleiras em 2001). Outro livro esquecido do supermodernista, porém, escafedeu-se das livrarias há décadas. É o ensaio "A Origem Animal de Deus", que começa com a pancada "é no aparelho digestivo onde nascem os deuses do mundo". O volume, publicado pela velha Difel no ano da morte de 1973, tem ainda a peça "O Bailado do Deus Morto", de 1933, entre outros acepipes, soterrados nos melhores sebos.


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