SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A rigor, um documentário, em oposição a um filme, é produzido para retratar a realidade. Mas há uma zona cinzenta. "Missão Espacial", por exemplo, que vai ao ar pelo Discovery Channel na próxima quarta-feira, é um documentário de ficção científica. E mais: é quase um experimento.
Imagine que seja possível enviar uma avançada sonda não-tripulada até um planeta fora do Sistema Solar que tenha sinais sugestivos da presença de vida. Agora pense que, no futuro, teremos máquinas com inteligência suficientemente alta para conduzir uma missão de exploração em busca de vida nesse planeta, sem precisar de instruções da Terra.
Se você consegue aceitar essas condições, "Missão Espacial" é para você. A idéia, na verdade, é explorar as conseqüências de uma excursão desse tipo, caso seja possível.
O resultado é, no mínimo, interessante. O que os produtores fizeram, liderados por John Copeland, foi criar um mundo alienígena cheio de criaturas bizarras, simulado a partir de gráficos de computador que representariam as informações e imagens coletadas pelas sondas. Depois -e aí é que a coisa realmente rompe a barreira da ficção- colocaram vários cientistas (paleontólogos, biólogos etc.) para analisar os "dados" e ver que teorias eles conseguiam formular sobre as criaturas descobertas naquele mundo alienígena fictício.
É um esforço interessante em exobiologia (estudo de formas de vida que não sejam terrestres), e o único possível nas atuais circunstâncias. Mas resta saber se há como conceber animais alienígenas sem ter visto algum antes. Sem dúvida, o pessoal de "Missão Espacial" fez o melhor que pôde. Além de ser baseado num livro, ele contou com supervisão e consultoria do pessoal de astrobiologia da Nasa.
Os entrevistados para o programa também são do mais alto calibre. James Garvin, cientista-chefe da Nasa, Stephen Hawking, o famoso físico britânico, Craig Venter, um dos decifradores do genoma humano, e, pasme (!), George Lucas, criador de "Star Wars", estão entre os nomes que se dispuseram a participar.
Com animação por computador de última geração, a missão da nave espacial não-tripulada Von Braun é um prato cheio para os aspirantes a exploradores cósmicos.
Com um final surpreendente e de certo modo violento, "Missão Espacial" quase implora por uma continuação.