São Paulo, sexta-feira, 17 de julho de 2009

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br

Brüno, o avesso de Bündchen

Novo filme do humorista de "Borat" satiriza o circuito da moda e das celebridades com personagem fashionista

Os dois são personalidades do mundo da moda, têm nomes com trema e carregam títulos em comum: Gisele Bündchen, a übermodel e Brüno, o überfamoso fashionista austríaco.
O fashionista em questão, um personagem encarnado pelo humorista Sacha Baron Cohen, é a estrela do filme "Brüno", que já estreou nos EUA e chega ao Brasil em agosto. Cohen é o criador do hilário repórter que ganhou fama no documentário fake "Borat" (2006).
Em "Brüno", Cohen repete o formato, agora numa sátira ao sistema da moda e das celebridades- embora as religiões e as instituições americanas também estejam no alvo.
O nome Brüno, segundo boatos e uma série de coincidências, teria ligação com o sobrenome Bündchen. A brincadeira faz todo sentido porque, em muitos aspectos, Brüno é o avesso do que o fenômeno Gisele representa para a moda.
A top é descrita por fotógrafos, executivos e estilistas como uma mulher competente, linda, inteligente, saudável e boa praça. Bündchen e sua simpatia rendem milhões e fazem o mercado da moda parecer um paraíso de glamour e alto-astral.
Por outro lado, Brüno, um fashionista gay que apresenta um programa de moda, chafurda no pior do universo fashion. Consumista, preconceituoso e alienado, numa das primeiras cenas do filme ele anuncia em seu show de TV o que está "in" ou "aus" (fora) de moda. O grande hit do momento, segundo ele, é o autismo.
Cenas como a da modelo dizendo que "andar para a frente" na passarela é a parte mais difícil de seu trabalho, a comparação entre o estilista Karl Lagerfeld e Jesus Cristo e, no desfecho do filme, Brüno sendo chamado de "o Obama branco", desdobram a ideia de "autismo fashion" proposta por Cohen.
A sequência da modelo é interessante, porque, além de a entrevista ser real, trata-se de um bordão repetido por tops em todos os cantos.
Apesar dos péssimos salários das novatas, dos casos de transtornos alimentares, das drogas, do afastamento da escola e da família, dos crescentes casos de depressão e distúrbios compulsivos ligados ao consumo, parece que a maior preocupação das modelos é não tropeçar.
A "catequese" das agências explica em grande parte a repetição dessa ladainha, feita sob medida para evitar qualquer assunto espinhoso nas entrevistas. Mas o fato de Cohen ter escolhido essa piada entre tantas outras revela que ele está sacando bem os segredos "podres" dos bastidores da moda.
Na trama, Brüno invade o desfile de Agatha Ruiz de la Prada, numa intervenção real, na Semana de Moda de Milão.
Depois disso, o personagem perde seu programa na TV e se joga no mundo atrás do estrelato. Não há mais referências específicas ao circuito fashion, o que não quer dizer que "Brüno" pare por aí com a moda.
O fascínio exagerado do personagem fashionista pela pornografia, por exemplo, encontra ecos na indústria da moda. Os fotógrafos David La Chapelle e Terry Richardson, queridinhos dos editoriais modernosos, adoram seios gigantes, nus frontais e pênis em close.
"Brüno" também joga com os estereótipos dos uniformes. Durante um treinamento militar, ele usa um lenço e um cinto Dolce & Gabbana, transformando o traje do exército em fantasia gay. O elemento homoerótico aplicado a imagens tradicionalmente heterossexuais, como grupos de policiais, jogadores de futebol, tem sido uma das grandes armas da D&G em suas campanhas.
Os fashionistas podem torcer o bico, mas Brüno é um bom contraponto ao "lado Bündchen" da moda. E como diria o personagem, com seu sotaque germânico do além: "Brüno ist in, hello!" (Brüno é "in", alô!).

com VIVIAN WHITEMAN, editora interina



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