|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br
Brüno, o avesso de Bündchen
Novo filme do humorista de "Borat" satiriza o circuito da moda e das celebridades com personagem fashionista
Os dois são personalidades
do mundo da moda, têm nomes
com trema e carregam títulos
em comum: Gisele Bündchen, a
übermodel e Brüno, o überfamoso fashionista austríaco.
O fashionista em questão,
um personagem encarnado pelo humorista Sacha Baron Cohen, é a estrela do filme "Brüno", que já estreou nos EUA e
chega ao Brasil em agosto. Cohen é o criador do hilário repórter que ganhou fama no documentário fake "Borat" (2006).
Em "Brüno", Cohen repete o
formato, agora numa sátira ao
sistema da moda e das celebridades- embora as religiões e as
instituições americanas também estejam no alvo.
O nome Brüno, segundo boatos e uma série de coincidências, teria ligação com o sobrenome Bündchen. A brincadeira
faz todo sentido porque, em
muitos aspectos, Brüno é o
avesso do que o fenômeno Gisele representa para a moda.
A top é descrita por fotógrafos, executivos e estilistas como
uma mulher competente, linda,
inteligente, saudável e boa praça. Bündchen e sua simpatia
rendem milhões e fazem o mercado da moda parecer um paraíso de glamour e alto-astral.
Por outro lado, Brüno, um
fashionista gay que apresenta
um programa de moda, chafurda no pior do universo fashion.
Consumista, preconceituoso e
alienado, numa das primeiras
cenas do filme ele anuncia em
seu show de TV o que está "in"
ou "aus" (fora) de moda. O
grande hit do momento, segundo ele, é o autismo.
Cenas como a da modelo dizendo que "andar para a frente"
na passarela é a parte mais difícil de seu trabalho, a comparação entre o estilista Karl Lagerfeld e Jesus Cristo e, no desfecho do filme, Brüno sendo chamado de "o Obama branco",
desdobram a ideia de "autismo
fashion" proposta por Cohen.
A sequência da modelo é interessante, porque, além de a
entrevista ser real, trata-se de
um bordão repetido por tops
em todos os cantos.
Apesar dos péssimos salários
das novatas, dos casos de transtornos alimentares, das drogas,
do afastamento da escola e da
família, dos crescentes casos de
depressão e distúrbios compulsivos ligados ao consumo, parece que a maior preocupação das
modelos é não tropeçar.
A "catequese" das agências
explica em grande parte a repetição dessa ladainha, feita sob
medida para evitar qualquer
assunto espinhoso nas entrevistas. Mas o fato de Cohen ter
escolhido essa piada entre tantas outras revela que ele está
sacando bem os segredos "podres" dos bastidores da moda.
Na trama, Brüno invade o
desfile de Agatha Ruiz de la
Prada, numa intervenção real,
na Semana de Moda de Milão.
Depois disso, o personagem
perde seu programa na TV e se
joga no mundo atrás do estrelato. Não há mais referências específicas ao circuito fashion, o
que não quer dizer que "Brüno"
pare por aí com a moda.
O fascínio exagerado do personagem fashionista pela pornografia, por exemplo, encontra ecos na indústria da moda.
Os fotógrafos David La Chapelle e Terry Richardson, queridinhos dos editoriais modernosos, adoram seios gigantes, nus
frontais e pênis em close.
"Brüno" também joga com os
estereótipos dos uniformes.
Durante um treinamento militar, ele usa um lenço e um cinto
Dolce & Gabbana, transformando o traje do exército em
fantasia gay. O elemento homoerótico aplicado a imagens
tradicionalmente heterossexuais, como grupos de policiais,
jogadores de futebol, tem sido
uma das grandes armas da
D&G em suas campanhas.
Os fashionistas podem torcer
o bico, mas Brüno é um bom
contraponto ao "lado Bündchen" da moda. E como diria o
personagem, com seu sotaque
germânico do além: "Brüno ist
in, hello!" (Brüno é "in", alô!).
com VIVIAN WHITEMAN, editora interina
Texto Anterior: Cinema 2: MoMA exibe filmes nacionais em Nova York Próximo Texto: Animação é surpresa na disputa pelo Emmy Índice
|