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Gramado tem sua noite de cafonice
Segunda noite do festival presta homenagem a Antônio Fagundes e exibe o filme "Sonhos e Desejos"
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO
O Festival de Gramado sempre tem ao menos um momento em que se entrega sem freios
à pieguice e outro em que exibe
em competição algo constrangedor. Neste ano, os dois chegaram cedo e juntos, anteontem,
na segunda noite da mostra.
O tropeço na cafonice se deu
na homenagem ao ator Antônio
Fagundes por sua carreira. O
homenageado, que foi breve e
elegante ao agradecer o troféu
Oscarito, nada tem a ver com os
escorregões, fartos nos textos
lidos e/ou improvisados pelos
apresentadores Andrea Buzato
e José de Abreu.
Em tom intimista, Abreu se
referiu a Fagundes sempre pelo
apelido de Fafá. Afirmou que
"Fafá é um colega que honra a
classe e orgulha a categoria".
Buzato exaltou primeiro o
próprio troféu -"Há 16 anos
Gramado tem seu Oscar, o Oscarito- e em seguida o agraciado, usando um jogo de palavras
com o título do último filme de
Cacá Diegues protagonizado
por Fagundes: "Se "Deus É Brasileiro", então Antônio Fagundes é um brasileiro que é deus".
Durante os aplausos ao ator,
uma voz feminina se destacou
na platéia, gritando "lindo!".
Buzato não perdeu a chance de
observar "o furor que ele causa
na mulherada, há anos".
Abreu assegurou que "quem
foi Deus nunca perde a divindade". Arrematou assim a homenagem, para passar à exibição
do longa-metragem brasileiro
concorrente da noite, "Sonhos
e Desejos", do diretor estreante
Marcelo Santiago.
Santiago também foi breve
ao apresentar seu título. E redundante. Disse que era "um
sonho" dele participar do Festival de Gramado e que seu filme
trata "de sonhos e desejos".
Mais desejos do que sonhos,
pelo que se viu na tela.
Sonho erótico
O filme começa com a estudante Clara (Mel Lisboa) ouvindo os inflamados discursos
poético-políticos de seu professor, um Felipe Camargo de barba, a cara de Buza Ferraz. Para
Clara, um "urso gostoso". Ela
tem seu primeiro sonho: os
dois transando no mato, ao lado de uma fogueira acesa.
O desejo é recíproco. Os dois
se acariciam pelos cantos das
salas, com a polícia à espreita
do lado de fora. Finalmente casam e mudam, até de nomes.
Estamos nos anos 70. Ela é
muito coquete, mas também
quer participar. De botas, minissaia e ótima maquiagem, picha o lema "abaixo a burguesia"
pelos muros da cidade.
Numa ação da guerrilha, um
"companheiro" (Sérgio Marone) é atingido na mão e se refugia no "aparelho" do casal. A recuperação demora o bastante
para a tensão sexual entre os
dois crescer até se solucionar
no chão da sala.
Diga-se em favor de "Sonhos
e Desejos" que ele é feito com
capricho. Mas carece de outras
virtudes. De quase todas.
A jornalista SILVANA ARANTES viajou a convite da organização do festival
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