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Mostra reúne diferentes facetas de June Paik
Em cartaz no Itaú Cultural, "Memória Magnética" reúne 40 vídeos do artista
Experiências em vídeo do sul-coreano influenciaram as criações audiovisuais, com performances via satélite e instalações na TV
ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Tornou-se lugar-comum ligar o nome de Nam June Paik
(1932-2006) à invenção da videoarte. De fato, o artista sul-coreano foi um dos primeiros,
no final dos anos 60, a distorcer, colorir e reverberar as imagens do vídeo, dando início a
uma série de experimentações
que caracterizariam essa vertente da arte eletrônica.
No entanto, sua importância
para o audiovisual vai muito
além disso, com intervenções
experimentais na TV, performances via satélite e pesquisa
de equipamentos eletrônicos.
Boa parte de seus registros poderá ser vista a partir de hoje,
no instituto Itaú Cultural, que
realiza a mostra "Memória
Magnética -Tributo a Nam June Paik", com 40 trabalhos de
sua autoria (e com parceiros),
realizados entre 1965 e 2000.
A exposição, que permanece
em cartaz até domingo, é a
mesma que ocupou o Centro
Cultural Telemar, no Rio. A diferença é que os paulistanos terão apenas uma sala de exibição
-e uma sessão de cada programa- para assistir aos vídeos.
"Paik fez duas coisas importantes no campo das artes", explica o crítico e pesquisador Arlindo Machado. "Primeiro, ele
"eletrificou" a imagem, dando a
ela as características da rapidez, imediaticidade, onipresença e imaterialidade que passaram a ser a marca da visualidade a partir da segunda metade
do século 20", diz.
Um exemplo dessa "eletrificação" é o clássico "Global
Groove", que será exibido no
sábado -confira programação
ao lado. Em parceria com John
Godfrey, Paik mesclou comerciais de TV, música e performances de artistas como o escritor beatnik Allen Ginsberg e
o compositor John Cage, entre
outros, criando um registro
psicodélico, no qual as imagens
parecem quase saltar da tela.
Via satélite
Paik não só tornou a imagem
vibrante, como a fez circular.
"Ele vislumbrou essa coisa da
própria internet. Desse mundo
conectado, da rede", descreve a
curadora (e fã) Solange Farkas,
responsável pelo festival internacional Videobrasil. "A contribuição dele não foi só para a
história da arte, mas para a das
comunicações contemporâneas", afirma Farkas.
Essa faceta do artista poderá
ser conferida hoje, com a apresentação de "Good Morning
Mr. Orwell". O vídeo é o registro de uma performance via satélite, realizada no Ano Novo
de 1984, na qual Paik misturou
cenas da cantora Laurie Anderson e do coreógrafo Merce
Cunningham, entre outros,
com transmissão silmutanêa
na França, Alemanha e nos Estados Unidos.
A bela montagem que Paik
fez desse material mostra que,
mesmo experimentando com
tecnologias como essa, novidades para época, o artista não
perdia de vista o conteúdo poético. "Ao mesmo tempo em que
ele rompe com os limites físicos
do aparelho de TV, essa ruptura
se descola para o plano poético
e filosófico", observa o crítico e
curador Paulo Herkenhoff.
"Para mim, o momento poético máximo dele foi o "Jardim
de TVs'", conta Herkenhoff, sobre a instalação que Nam June
Paik apresentou na Bienal de
São Paulo de 1975, quando dispôs monitores de TV no meio
de um jardim.
Por fim, Arlindo Machado
destaca que a outra contribuição de Paik foi a de levar a arte
para a rua. "Sua obra, foi feita
em primeiro lugar para rir, trazendo de volta à cena pública o
que antes estava confinado a
museus e galerias", diz ele.
A mostra traz o registro disso
em vídeos como o famoso "Topless Cellist", performance na
qual a violoncelista Charlotte
Moorman substitui os sutiãs
por monitores de TV.
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