São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 2006

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Mostra reúne diferentes facetas de June Paik

Em cartaz no Itaú Cultural, "Memória Magnética" reúne 40 vídeos do artista

Experiências em vídeo do sul-coreano influenciaram as criações audiovisuais, com performances via satélite e instalações na TV


ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Tornou-se lugar-comum ligar o nome de Nam June Paik (1932-2006) à invenção da videoarte. De fato, o artista sul-coreano foi um dos primeiros, no final dos anos 60, a distorcer, colorir e reverberar as imagens do vídeo, dando início a uma série de experimentações que caracterizariam essa vertente da arte eletrônica.
No entanto, sua importância para o audiovisual vai muito além disso, com intervenções experimentais na TV, performances via satélite e pesquisa de equipamentos eletrônicos. Boa parte de seus registros poderá ser vista a partir de hoje, no instituto Itaú Cultural, que realiza a mostra "Memória Magnética -Tributo a Nam June Paik", com 40 trabalhos de sua autoria (e com parceiros), realizados entre 1965 e 2000.
A exposição, que permanece em cartaz até domingo, é a mesma que ocupou o Centro Cultural Telemar, no Rio. A diferença é que os paulistanos terão apenas uma sala de exibição -e uma sessão de cada programa- para assistir aos vídeos.
"Paik fez duas coisas importantes no campo das artes", explica o crítico e pesquisador Arlindo Machado. "Primeiro, ele "eletrificou" a imagem, dando a ela as características da rapidez, imediaticidade, onipresença e imaterialidade que passaram a ser a marca da visualidade a partir da segunda metade do século 20", diz.
Um exemplo dessa "eletrificação" é o clássico "Global Groove", que será exibido no sábado -confira programação ao lado. Em parceria com John Godfrey, Paik mesclou comerciais de TV, música e performances de artistas como o escritor beatnik Allen Ginsberg e o compositor John Cage, entre outros, criando um registro psicodélico, no qual as imagens parecem quase saltar da tela.

Via satélite
Paik não só tornou a imagem vibrante, como a fez circular. "Ele vislumbrou essa coisa da própria internet. Desse mundo conectado, da rede", descreve a curadora (e fã) Solange Farkas, responsável pelo festival internacional Videobrasil. "A contribuição dele não foi só para a história da arte, mas para a das comunicações contemporâneas", afirma Farkas.
Essa faceta do artista poderá ser conferida hoje, com a apresentação de "Good Morning Mr. Orwell". O vídeo é o registro de uma performance via satélite, realizada no Ano Novo de 1984, na qual Paik misturou cenas da cantora Laurie Anderson e do coreógrafo Merce Cunningham, entre outros, com transmissão silmutanêa na França, Alemanha e nos Estados Unidos.
A bela montagem que Paik fez desse material mostra que, mesmo experimentando com tecnologias como essa, novidades para época, o artista não perdia de vista o conteúdo poético. "Ao mesmo tempo em que ele rompe com os limites físicos do aparelho de TV, essa ruptura se descola para o plano poético e filosófico", observa o crítico e curador Paulo Herkenhoff.
"Para mim, o momento poético máximo dele foi o "Jardim de TVs'", conta Herkenhoff, sobre a instalação que Nam June Paik apresentou na Bienal de São Paulo de 1975, quando dispôs monitores de TV no meio de um jardim.
Por fim, Arlindo Machado destaca que a outra contribuição de Paik foi a de levar a arte para a rua. "Sua obra, foi feita em primeiro lugar para rir, trazendo de volta à cena pública o que antes estava confinado a museus e galerias", diz ele.
A mostra traz o registro disso em vídeos como o famoso "Topless Cellist", performance na qual a violoncelista Charlotte Moorman substitui os sutiãs por monitores de TV.


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