São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 2006 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Nuno Ramos apresenta filmes em SP Com um média-metragem e dois curtas, artista plástico leva à tela grande "poesia da desconstrução"
Com 11 postes de iluminação
na bagagem, três autores partiram em busca de um filme em
Minas Gerais. O resultado dessa jornada é "Iluminai os Terreiros", título com a incomum
duração de 40 minutos, que os
diretores Nuno Ramos, Eduardo Climachauska e Gustavo
Moura apresentam hoje, no Espaço Unibanco (São Paulo).
A partir de uma idéia de Ramos, na montanhosa paisagem
dos arredores de Belo Horizonte, o trio demarcava terrenos
com seus pontos de luz, instalados em círculos. Os diretores
lançavam-se então à espera da
noite e de algo (ou alguém) que
para lá convergisse, com gesto,
idéia, luz própria.
Essa entrega à possibilidade
do vazio, aliada ao dispositivo
de ser "um filme que filma a si
mesmo, não no sentido metalingüístico, mas no de documentar aquilo que ele cria", como diz Ramos, faz a narrativa
de "Iluminai os Terreiros" tender "ao poético, ao sublime".
O mesmo ocorre com os curtas-metragens "Casco" (de Ramos, Climachauska e Moura) e
"Luz Negra" (de Ramos e Climachauska), que também integram o programa desta noite.
Se "Iluminai os Terreiros"
tem na luz seu ponto de partida, "Casco" e "Luz Negra" ancoram-se na água e na terra,
respectivamente. O primeiro
filma naufrágios. O segundo, o
enterro de caixas de som.
Ramos, que se firmou como
nome incontornável das artes
plásticas brasileiras, diz esperar trazer para o cinema "a força de alguém que não conhece
bem aquilo que faz". Sua chegada à sétima arte sincroniza com
a "retomada", rótulo criado para descrever o ressurgimento
da produção de filmes, após a
debacle da primeira metade
dos anos 90, quando o presidente Fernando Collor de Mello extinguiu a Embrafilme.
Para Ramos, culpar Collor e o
fim da Embrafilme pela esterilidade dos anos 90 é "um pensamento curto". A "quebra", argumenta, já se anunciava antes
e é de natureza estética. Ocorreu "não apenas no cinema,
mas também na arquitetura,
que são as duas artes que têm a
incumbência de pensar publicamente o país". A seca corresponde, assim, à perda da capacidade "de o Brasil se pensar, de
sonhar o que quer ser".
Os filmes de Ramos compartilham um tom "poeticamente
muito negativo" e uma idéia de
desconstrução. "Num, [a idéia]
é enterrar o som, que é uma associação com a morte evidente.
Noutro, é entregar um barco ao
naufrágio, àquilo que ele nasceu para evitar. E no outro, é
iluminar lugares no meio do
nada e aquela iluminação ser
uma espécie de impedimento
ao contato natural com as coisas que estariam ali".
São todos a marca de um artista cada vez mais disposto a
pensar publicamente o país.
Ramos agora esquenta os pandeiros para filmar um longa-metragem, "Dádiva".
(SILVANA ARANTES)
ILUMINAI OS TERREIROS Direção: Nuno Ramos, Eduardo Climachauska e Gustavo Moura Quando: hoje, às 20h Onde: Espaço Unibanco (r. Augusta, 1.475, Cerqueira César, tel. 0/xx/ 11/ 3288-6780 Quanto: entrada franca (chegar com meia hora de antecedência para retirar o ingresso) Texto Anterior: Mostra reúne diferentes facetas de June Paik Próximo Texto: Análise: Quando a metáfora se torna literal Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |