São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2007

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Última Moda

Gorbatchov é estrela da Louis Vuitton

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@folha.com.br

Divulgação
Gorbatchov passa perto do Muro de Berlim, na nova campanha publicitária da Louis Vuitton, fotografada por Annie Leibovitz


Ex-líder da URSS faz publicidade da grife; para herdeiro do grupo LVMH, "fim do comunismo foi uma coisa boa"

A foto tem tudo para se tornar um clássico da publicidade de moda: o ex-líder soviético Mikhail Gorbatchov passa pelo Muro de Berlim, numa limusine, tendo ao seu lado uma sacola Louis Vuitton.
A imagem, feita pela fotógrafa "hype" Annie Leibovitz, faz parte da nova campanha publicitária da famosa marca de luxo francesa. A atriz Catherine Deneuve e o casal de tenistas André Agassi e Steffi Graf são os outros garotos-propaganda da campanha, chamada de "Core Values" (valores essenciais).
Gorbatchov, 76, foi o último presidente da União Soviética.
Chegou ao poder em 1985 e iniciou no país a glasnost (abertura) e a perestroika (reestruturação), que acabaram levando à dissolução do regime comunista, em 1991. A derrubada do Muro de Berlim, em 1989, é o maior emblema do fim do comunismo e da Guerra Fria.
Na bela foto de Leibovitz, o mais intrigante é a sua perspectiva: o Muro de Berlim ocupa todo o fundo da imagem, sem mostrar sinais de destruição, como se continuasse inteiro, para trás e para a frente.
"Queríamos uma campanha que falasse de viagem, através de pessoas com histórias de vida extraordinárias. É uma campanha que jamais poderia ser feita com Paris Hilton", afirma Antoine Arnault, 27, diretor de comunicação da Louis Vuitton, em entrevista à Folha.
Segundo Antoine, não foi fácil convencer Gorbatchov, que acabou aceitando após decidir-se que parte do seu cachê iria para a sua fundação Cruz Verde Internacional. Deneuve e o casal Agassi-Graf também fizeram doações ao The Climate Project, de Al Gore.
A nova campanha é focada nos produtos para viagem, que estão na origem da criação da marca, em 1854. Hoje, a Louis Vuitton também faz jóias, sapatos, acessórios e uma das principais coleções de prêt-à-porter do mundo, sob os cuidados do estilista Marc Jacobs.
Antoine é um dos herdeiros de Bernard Arnault, o megapoderoso empresário francês, proprietário da LVMH (Louis Vuitton Moët Hennessy), que engloba as marcas Givenchy, Fendi, Loewe, Donna Karan, Kenzo, Emilio Pucci, Moët Chandon, Veuve Clicquot, além das lojas Sephora e Le Bon Marché, entre outras empresas. "O fim do comunismo foi uma boa coisa para a humanidade", diz Antoine a seguir.

FOLHA - Por que a Louis Vuitton escolheu Gorbatchov para a sua nova campanha publicitária?
ANTOINE ARNAULT
- Foi uma escolha natural. Queríamos uma personalidade com substância, alguém que viveu uma vida plena e mudou as coisas no mundo. É uma campanha que jamais poderia ser feita com Paris Hilton, por exemplo. Queríamos falar de viagens através de pessoas que tiveram histórias de vida extraordinárias. Ficamos espantados quando Gorbatchov aceitou fazê-la com tanta satisfação.

FOLHA - O fim do comunismo foi uma boa coisa para a humanidade?
ARNAULT
- É uma questão um pouco política. Mas, sendo eu um capitalista convicto, penso que, sim, o fim do comunismo foi uma boa coisa para a humanidade. Mas esse é um assunto que merece ser discutido mais longamente.

FOLHA - E qual a sua impressão sobre os primeiros passos do governo de Nicolas Sarkozy [novo presidente da França, de direita]?
ARNAULT
- Sustentamos completamente suas iniciativas. No momento ele está tomando uma série de medidas difíceis, mas temos confiança que conseguirá levá-las adiante, pois se trata de um governo de abertura, que inclui até homens de esquerda. Ele está empenhado em fazer coisas importantes para a França.

FOLHA - Por um levantamento da "Business Week", a Louis Vuitton é a 17ª marca mais poderosa do mundo. A que o sr. atribui esse poder?
ARNAULT
- A vários fatores. Para começar, é uma marca muito antiga, que tem 153 anos. Sua longevidade é uma garantia para nosso público. Além disso, zelamos muito pela qualidade do produto. Não fizemos nenhuma concessão a esse respeito. O "made in France" sempre foi prioridade para nós, e o fato de termos artesãos muito qualificados para produzir com extrema qualidade os produtos certamente contribui para nossa imagem excepcional.

FOLHA - Como o sr. define o luxo?
ARNAULT
- O luxo não é algo essencial, mas é indispensável.

FOLHA - O sr. vê contradição entre o luxo, com seu fundamento aristocrático, e a democracia, que visa difundir os produtos para o maior número de pessoas?
ARNAULT
- De jeito nenhum. Todos aspiramos a algo melhor. Alguns podem se oferecer isso desde já; outros, não podendo obtê-lo agora, vão sonhar com isso e conseguir realizar seu desejo mais cedo ou mais tarde. Penso que um grande número de pessoas deve ter a chance de, economizando, comprar uma peça de luxo. O esforço da Louis Vuitton é criar tanto produtos para uma população muito rica quanto produtos acessíveis para pessoas normais. É importante fazer produtos de luxo que não sejam apenas para algumas poucas pessoas.


com VIVIAN WHITEMAN

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