São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

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BIA ABRAMO

Olimpíada em tempo de espetáculo


Para o espectador brasileiro, de certa forma, a festa está um pouco sem graça

NA CERIMÔNIA de abertura, a China avisou ao mundo: nós inventamos o papel, a impressão, a pólvora e a bússola; depois, vivemos um século 20 ainda inexprimível, ainda intraduzível. Nós, que desafiamos a força da gravidade com facilidade, uma, duas, quantas vezes forem necessárias, mandando meninas, fadas, atletas e astronautas pelos ares, queremos, agora, que vocês nos levem a sério.
Toda cerimônia de abertura de grandes eventos esportivos é, ao mesmo tempo, cafona e grandiosa, tocante e comum.
Qualquer dos países que sedie a Copa do Mundo, Jogos Panamericanos, Olimpíada aproveita, é claro, a oportunidade para fazer do evento uma vitrine de seus feitos, da beleza e pujança de seu povo, que sirva também de cortina de fumaça de seus mal feitos.
No século 21, qual país seria tolo de desprezar 1 bilhão de espectadores do mundo inteiro? Um bilhão, na verdade, foi a estimativa mais contida; houve quem falasse em mais de dois bilhões, em três e até em quatro bilhões de telespectadores. Mesmo ficando "apenas" no um bilhão, isso corresponde a cerca de 15% da população mundial.
Depois das luzes e cores e acrobacias, vem a competição e, nesta Olimpíada, para o espectador brasileiro, de certa forma, a festa está um pouco sem graça. Talvez iludidos pela performance entusiasmante de vários esportes nos Jogos Panamericanos, ano passado, talvez levados a engano pelo jornalismo ufanista que costuma permear o noticiário esportivo, sobretudo o da TV, queríamos mais dessa Olimpíada.
Os resultados podem ser razoáveis, bons e até ótimos, do ponto de vista do lugar do Brasil no cenário esportivo mundial, mas não são muito bons como espetáculo. E, para boa parte dos telespectadores, aquela que só vê esporte na TV quando há algum grande evento, o que interessa é o espetáculo.
É certo que a participação brasileira rendeu, sim, algumas belas e emocionantes imagens.
A torcida solitária da mãe e da madrinha de Ketleyn Quadros, na final que deu a primeira medalha ao Brasil. Ketleyn, altiva, contida e de olhos secos, para desespero dos jornalistas que esperavam lágrimas. Daiane dos Santos, tanto nos seus saltos velocíssimos, dificílimos e, desta vez, bem mais precisos, como nos bastidores, animando as outras ginastas. A mulheres briguentas e habilidosas do futebol feminino.
É sempre algum espetáculo, claro. Teremos mais alguns momentos até o final. Mas ainda é pouco.

biabramo.tv@uol.com.br



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