São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

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Crítica

Em "Príncipe", a cidade cresce erroneamente

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

É incrível a solidão de Gustavo em "O Príncipe" (Canal Brasil, 18h30; não recomendado para menores de 14 anos). Voltando da Europa, onde viveu por 20 anos, ele não se reconhece em sua cidade, que mudou inteiramente.
Em São Paulo, ele viverá alguns reencontros, não apenas com a cidade, mas com amigos. Os lugares, no entanto, são fundamentais. É na praça D. José Gaspar que um amigo (Otávio Augusto) recita trechos de "A Divina Comédia" em altos brados. Essa já foi "a praça da Biblioteca", da Galeria Metrópole, do Paribar. Agora é um buraco ocupado por moradores de rua. As mudanças de São Paulo induzem à solidão. O reencontro com a antiga amada é, como de ofício, a constatação do desencontro.
E seu bairro, a bucólica Vila Madalena, virou o bairro dos bares, do trânsito e da barulheira noturna.
Esses 20 anos de distância mostram onde o filme se constrói: sobre um hiato, sobre uma brecha na qual o tempo se perde, como se a cidade ao se construir executasse um percurso errático, um labirinto em que não existe memória possível, onde as experiências se perdem como se fossem produto da imaginação.
Para combater esse filme cheio de virtudes, valia, quando estava em cartaz, usar qualquer argumento. Agora, passado o tempo, talvez ele possa ser visto sem a paixão destrutiva que tanto se usa para policiar nossos bons filmes.


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