São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2010

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A saga patética de Patópolis

Em novo livro, Marcelo Coelho usa o universo da Disney para satirizar mitos culturais, religiosos e políticos

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA

O escritor e jornalista Marcelo Coelho é um intelectual de fina erudição. Quem acompanha as suas colunas na Folha sabe com que desenvoltura e rigor ele passa da poesia de Valéry à música de Schoenberg, do pensamento de Adorno à literatura de Proust.
Que leitor, entretanto, imaginaria que Coelho é também um cultíssimo "connaisseur" dos quadrinhos de Pato Donald e Tio Patinhas? E que um dia mergulharia de cabeça na mitologia de Disney para tirar daí a substância de um livro inteiro, "Patópolis", que é lançado hoje?
O título é tão perverso quanto o conteúdo. Atenção! Esta não é uma obra para crianças!
É uma metralhadora giratória, que quer abater, com feroz compulsão satírica, tudo o que vê pela frente: a própria afetação erudita, os mitos culturais e políticos, o cristianismo, a publicidade, a mesquinhez da vida brasileira e, sobretudo, o persistente infantilismo de todos nós -inclusive do autor.
"A única coisa levada a sério é o Pato Donald. Parafraseando Karl Marx, é como se a história se repetisse não como farsa, mas como história em quadrinhos", afirma Coelho, que é membro do Conselho Editorial da Folha.
O livro vai mais longe ainda em seu pessimismo e sua ironia. É como se não apenas a vida social tivesse sido "achatada" até o nível dos gibis, mas a realidade, ela mesma, não passasse de uma representação bidimensional.
"É uma alucinação psicológica que me ocorre há anos, espero livrar-me dela depois deste livro", diz.

HUMOR DELIRANTE
Obra inclassificável, entre ensaio, ficção e memória, "Patópolis" é um arriscado experimento literário, que não respeita regras, cânones e nem mesmo o leitor, cuja seriedade é desafiada o tempo todo pelo humor delirante do autor.
O livro se constrói por meio de uma espécie de escrita automática, que vai liberando um enxame de reflexões, associações de ideias e citações.
A unidade do conjunto é garantida pela firmeza intelectual do projeto -e o resultado é um "divertimento" cruel até não poder mais.


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