São Paulo, sábado, 17 de setembro de 2005

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Renda do brasileiro sobe, mas setor negocia 1 milhão de obras a menos que no início dos anos 90

Venda de livros cai ao nível de 1991

Ana Carolina Fernandes - 12.mai.2005/Folha Imagem
Estandes da 12ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Luiz Antônio Clemente, 55, é um devorador de livros. Só em casa, tem mais de 3.000. Ele tentou passar a paixão pela leitura para seus seis filhos, mas só um herdou o gosto do pai. "Meu mais velho até que gosta, mas os outros odeiam ler", conta.
Essa paixão de Clemente pela leitura poderia ser considerada o que os matemáticos chamam de desvio estatístico. Maquinista aposentado, ele mora em Bangu, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro que tem a terceira maior população da cidade. O número de bibliotecas na região, no entanto, é zero.
Formar leitores como Clemente no Brasil é tarefa difícil. Prova disso é que o mercado editorial de livros não-didáticos teve em 2004 um desempenho em vendas igual ao verificado em 1991. Segundo a Câmara Brasileira do Livro e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, foram vendidos no ano passado 289 milhões de livros, ou 1 milhão a menos do que o montante negociado no início da década passada. Os números de 2004 até representam um avanço em relação aos do ano anterior, mas isso não é lá grande coisa, já que em 2003 o mercado viveu seu pior ano desde 1992.
Esse pífio desempenho do mercado editorial ocorreu no mesmo período em que, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), houve aumento na renda média do trabalhador brasileiro. Ela, apesar de ter oscilado após atingir seu pico em 1996 e ter voltado a cair desde então, cresceu 16,3% no período 1992 a 2003, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio.
Os indicadores de escolaridade da população, em tese, também deveriam beneficiar o setor. De 1992 a 2003, a população com mais de dez anos de idade aumentou em 29 milhões. A proporção de pessoas com mais de oito anos de estudos cresceu no período de 25,4% para 41,2%, ao mesmo tempo em que caiu a taxa de analfabetismo e a porcentagem de crianças fora da escola.
Para Marino Lobello, vice-presidente de Comunicação da CBL (Câmara Brasileira do Livro), o aumento da renda e da escolaridade pouco influem no mercado por causa de uma questão cultural. "É verdade que esse é um país de renda média baixa, mas, mesmo que a renda aumente, o livro não faz parte da cesta básica cultural do brasileiro. É por isso que o mercado fica estabilizado num patamar. Ele cresce um pouquinho, cai depois, mas continuam sendo apenas 26 milhões de brasileiros que lêem quatro livros por ano e ponto final", afirma ele.

Comparação
De fato, o índice de leitura no Brasil é muito baixo quando comparado com países desenvolvidos. De acordo com a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, de 2001, a média de livros lido per capita aqui é de 1,8. Na Inglaterra, essa média chega a 4,9. Nos Estados Unidos, é de 5,1 e, na França, atinge 7.
O gasto médio das famílias brasileiras com livros, jornais ou revistas também é muito baixo se comparado com outros produtos que poderiam ser considerados supérfluos.
A Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, realizada em 2003, mostra que, na divisão dos gastos em praticamente todas as classes sociais, esses artigos ficam atrás das despesas médias com cigarro, perfume ou cabeleireiro e manicure.


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