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MERCADO EDITORIAL
Famílias com maior poder aquisitivo consomem de quatro a seis vezes mais esses produtos do que livros
Gasto com internet e celular afetam vendas
DA SUCURSAL DO RIO
Para os economistas Fábio Sá
Earp, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e George
Kornis, da Uerj (Universidade do
Estado do Rio de Janeiro), que
realizaram no ano passado um estudo sobre o mercado editorial
brasileiro a pedido do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), parte
da explicação do problema com
as vendas de livros está também
no fato de as famílias de maior
renda terem passado a dividir seu
orçamento com outros gastos, como telefones celulares, TV a cabo
e internet.
"Os compradores significativos
de livros são os 10% mais ricos no
Brasil. Esses tiveram queda na
renda de 1993 a 2003 e, ao mesmo
tempo, apareceram novas necessidades, como o celular e a internet, com o que estes consumidores têm um gasto de quatro a seis
vezes maior do que com bens editoriais, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE",
afirmam os economistas.
Earp e Kornis citam ainda como
empecilho o alto preço dos livros:
"Para os livros caberem no bolso
dos brasileiros, eles teriam que
custar menos de um terço do que
custam hoje".
Marino Lobello, da CBL (Câmara Brasileira do Livro), concorda,
mas diz que isso se deve também
a um problema de escala: como o
brasileiro lê pouco, as tiragens são
baixas. Sendo baixas, o preço do
livro é mais caro para justificar o
investimento. Para resolver esse
problema, ele defende um investimento maior no número de bibliotecas e livrarias.
"Se você faz um livro com 2.000
exemplares, cobra R$ 30 por ele.
Mas, se pudesse fazer 5.000, o preço cairia para R$ 20. Isso criaria,
então, um círculo virtuoso. O editor ganharia mais, a livraria ganharia mais, e o consumidor pagaria menos. O livro é um produto muito sensível à tiragem", diz.
Para aumentar o hábito de leitura, o vice-presidente da CBL sugere a criação de bibliotecas atualizadas e acessíveis à população de
baixa renda: "Países com tradição
de leitura têm várias bibliotecas
modernas, sortidas e atualizadas
que ajudam a disseminar o hábito
de leitura. Não adianta ter apenas
obras históricas. É preciso oferecer também a novidade do mercado. É por isso que, em países como os EUA, um filho de operário
lê mais do que um adolescente de
classe média no Brasil".
Jason Prado, diretor-executivo
da organização não-governamental Leia Brasil, cita ainda como
problema a formação de professores. "Nos cursos de formação
de professor, não há quase nenhuma carga horária destinada a
fazer dele um leitor. Como formar
um aluno leitor se o professor não
lê?", indaga.
(ANTÔNIO GOIS)
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