São Paulo, sábado, 17 de setembro de 2005

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MERCADO EDITORIAL

Famílias com maior poder aquisitivo consomem de quatro a seis vezes mais esses produtos do que livros

Gasto com internet e celular afetam vendas

DA SUCURSAL DO RIO

Para os economistas Fábio Sá Earp, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e George Kornis, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), que realizaram no ano passado um estudo sobre o mercado editorial brasileiro a pedido do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), parte da explicação do problema com as vendas de livros está também no fato de as famílias de maior renda terem passado a dividir seu orçamento com outros gastos, como telefones celulares, TV a cabo e internet.
"Os compradores significativos de livros são os 10% mais ricos no Brasil. Esses tiveram queda na renda de 1993 a 2003 e, ao mesmo tempo, apareceram novas necessidades, como o celular e a internet, com o que estes consumidores têm um gasto de quatro a seis vezes maior do que com bens editoriais, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE", afirmam os economistas.
Earp e Kornis citam ainda como empecilho o alto preço dos livros: "Para os livros caberem no bolso dos brasileiros, eles teriam que custar menos de um terço do que custam hoje".
Marino Lobello, da CBL (Câmara Brasileira do Livro), concorda, mas diz que isso se deve também a um problema de escala: como o brasileiro lê pouco, as tiragens são baixas. Sendo baixas, o preço do livro é mais caro para justificar o investimento. Para resolver esse problema, ele defende um investimento maior no número de bibliotecas e livrarias.
"Se você faz um livro com 2.000 exemplares, cobra R$ 30 por ele. Mas, se pudesse fazer 5.000, o preço cairia para R$ 20. Isso criaria, então, um círculo virtuoso. O editor ganharia mais, a livraria ganharia mais, e o consumidor pagaria menos. O livro é um produto muito sensível à tiragem", diz.
Para aumentar o hábito de leitura, o vice-presidente da CBL sugere a criação de bibliotecas atualizadas e acessíveis à população de baixa renda: "Países com tradição de leitura têm várias bibliotecas modernas, sortidas e atualizadas que ajudam a disseminar o hábito de leitura. Não adianta ter apenas obras históricas. É preciso oferecer também a novidade do mercado. É por isso que, em países como os EUA, um filho de operário lê mais do que um adolescente de classe média no Brasil".
Jason Prado, diretor-executivo da organização não-governamental Leia Brasil, cita ainda como problema a formação de professores. "Nos cursos de formação de professor, não há quase nenhuma carga horária destinada a fazer dele um leitor. Como formar um aluno leitor se o professor não lê?", indaga. (ANTÔNIO GOIS)


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