|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTES CÊNICAS
Em sua primeira atuação no Brasil, atriz oscila entre velhice e juventude em "La Señorita de Tacna", de Llosa
Norma Aleandro mira poética teatral
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Nem uma história peruana nem
argentina, mas latino-americana,
quiçá universal. É assim que a
atriz Norma Aleandro, ícone dos
palcos e do cinema na Argentina,
define "La Señorita de Tacna", peça de Mario Vargas Llosa, autor
de "A Guerra do Fim do Mundo".
É com esse espetáculo que a Fernanda Montenegro ou a Marília
Pêra dos portenhos faz sua primeira apresentação teatral no
Brasil, com sessões hoje e amanhã
no teatro São Pedro, dentro do
festival Porto Alegre em Cena.
Aleandro é conhecida do público brasileiro por atuações em filmes como "O Filho da Noiva"
(2001), de Juan José Campanella, e
"A História Oficial", de Luis
Puenzo (1985, melhor atriz no
Festival de Cannes).
Em "La Señorita de Tacna", o
desafio da intérprete é oscilar entre os papéis da jovem e sonhadora Elvira e o da velha solteirona e
virgem Mamãe.
Reconhece como uma das suas
principais "ferramentas", além
dos domínios da voz e do corpo, o
gesto com um xale de renda que
ajuda a compor verossimilhança
diante dos olhos do espectador,
pêndulo secular de juventude e
velhice, duas pontas de uma mesma vida.
"Tem a ver com uma poética
que propõe ao público uma convenção tão difícil, que é o salto no
tempo e no espaço. Isso eu agradeço à obra de Llosa", diz Aleandro, 79, durante conversa na manhã de ontem com jornalistas. O
xale não é uma rubrica do autor,
mas caminho interior descoberto
pela intérprete.
No espetáculo "La Señorita de
Tacna" percorre a vida de uma
mulher que, por um ato de orgulho, perde a oportunidade no
amor e o sublima cuidando de sua
própria família.
Entre mãe e filho
Contracena com oito atores, entre eles o filho Oscar Ferrigno, que
também assina a remontagem estreada no ano passado em Buenos
Aires. A primeira se deu em 1981,
por Emilio Alfaro. Naquela época,
Aleandro retornava para casa
após exílio de cinco anos na Espanha.
"A minha volta causou ameaças
de bombas ao teatro. Vivíamos
numa ditadura [1976-1983], e não
na atual democracia. Imperfeita,
mas que nos permite a liberdade
de dizer o que quisermos."
Comparada à montagem anterior, da qual foi assistente, Ferrigno, 43, diz que esta economiza
nos recursos, nas parafernálias.
Mira o essencial.
"Compactuamos uma visão sobre o trabalho de ator no teatro:
não há que sofrer para criar, ao
contrário", diz o diretor-ator.
A ascendência teatral fundamenta o ofício de Norma Aleandro. Os pais da atriz, ele italiano e
ela espanhola, eram artistas de
teatro, mambembavam com
Aleandro desde os três anos.
"Agradeço a Deus por ter sido
criada no teatro, um lugar no
qual, socialmente, são menores os
preconceitos; nele, são bem aceitos os homossexuais, os solteiros,
judeus, católicos, pessoas de diversas cores políticas etc. Aprendi
a ter uma mente mais ampla graças à gente do teatro", diz Aleandro.
Ela dá notícias de um "boom
cultural" que assoma a Argentina
desde o pico da crise econômica,
em 2001. "Hoje, quase toda a Argentina faz teatro, pelo menos
80% das pessoas pintam, muitas
escrevem, dançam tanto nas
ruas", afirma. Eis o desequilíbrio
social, o paradoxo: a convivência
da fome com a riqueza da expressão cultural. Vide o cinema.
O jornalista Valmir Santos viajou a convite da organização do 12º Porto Alegre em Cena
12º Porto Alegre em Cena
Quando: até 25/9
Quanto: R$ 20
Informações: tel. 0/xx/51/3253-2995 e
pelo site www.poaemcena.com.br
Texto Anterior: Rodapé: Os despojos da revolta Próximo Texto: Literatura: Editor troca de lado e estréia nas letras Índice
|