São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

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DJs relutam em trocar vinil por CDs e MP3

DA REPORTAGEM LOCAL

O que pega melhor numa pista de dança: o som analógico do disco de vinil ou a praticidade dos CDs e arquivos digitais em MP3? Segundo quem mais entende do assunto, os DJs, nesse ambiente, as diferenças que caracterizam a sonoridade de um e outro -veja quadro- se tornam imperceptíveis. O que determina se a festa é boa ou não é o equipamento de som.
"Tudo é relativo, depende do lugar", acredita o produtor de tecno Renato Cohen. "Numa casa noturna ou numa pista grande, não acho que dê para notar a diferença de qualidade", diz ele, que toca os dois.
Mas, ainda que o equipamento seja o personagem principal no cenário dos clubes, os DJs consultados pela Folha foram unânimes: preferem discos de vinil. Os motivos vão desde o "tesão" ao segurar as bolachas, como apontou o produtor de tecno Anderson Noise, como a praticidade de manuseio.
"No vinil é muito mais fácil pular para o meio de uma música. Mas, com a tecnologia, o CD está chegando lá", descreve Cohen. Ele é um dos poucos para quem tanto faz usar CD, vinil ou MP3. "Gosto dos dois. No CD, por exemplo, dá para tocar a música numa velocidade diferente, sem alterar sua tonalidade original."
A principal vantagem, relata Cohen, é a facilidade para comprar os arquivos em MP3. "Pelo disco [importado] tenho que esperar duas semanas. Isso quando não fica parado na alfândega. O MP3 é só baixar."
Mesmo com essa funcionalidade, muitos ainda são reticentes. "Só uso mesmo quando é uma música que ainda não tenho em vinil", conta Noise.
Ele admite que, hoje, as diversidades sonoras entre CDs e discos de vinil são perceptíveis somente no estúdio ou em aparelhos caseiros. "Numa festa, com compressor, som equalizado etc., dá a impressão de ser uma coisa única. A grande diferença é o manuseio."

Radicais
Se os protagonistas da cena eletrônica trafegam com mais tranqüilidade entre esses formatos, no hip hop, cultura que celebra os malabarismos nos toca-discos, eles são radicais. "Não sou purista, não odeio o digital, mas sou analógico", diz o DJ Nuts. "Não dou valor nenhum para o CD. Acho melhor ouvir um som que tenha uma "sujeirinha"."
"95% do que toco vem de discos de vinil. Os 5% em CD são músicas que não há em vinil", conta KL Jay, DJ do grupo Racionais MCs, para quem o som dos discos é "muito mais real". "O vinil realça o som dos instrumentos. Além disso, tem o fato de tirar da capa e colocar no toca-discos. A sensação é a mesma de tocar a bola em um campo de futebol."
DJ Hum, que estourou a música "Senhorita" nas pistas graças ao fato de tê-la lançado em compacto -leia texto ao lado-, diz que as bolachas trazem "mais credibilidade ao DJ". "Se não trabalhar com vinil, você não demonstra suas qualidades técnicas", conclui DJ Hum. "O vinil ainda é a alma do disc-jóquei." (AFS e LFV)


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