São Paulo, sábado, 17 de setembro de 2011

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'Preciso de tempo para ver consistência no que escrevo'

Francisco Alvim, que lança novo livro após 11 anos, diz em entrevista que não se impõe prazo para publicar

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Sem publicar desde 2000, quando lançou "Elefante", Francisco Alvim, 72, explica que seu processo literário é lento e indisciplinado. "Preciso de tempo para perceber consistência no que escrevo", disse em entrevista à Folha, feita por escrito a seu pedido.
Poeta consagrado e diplomata aposentado, ele avalia que "O Metro Nenhum" se distingue de seus outros livros "por ter suas raízes numa etapa tardia da vida".
E o que o aproxima dos outros? "É estar imerso no fluxo do tempo, do meu tempo, presente em todos eles."
Alheio à urgência contemporânea, o tempo de Alvim é de outra ordem.
"Nunca me impus prazos. O tempo de cada publicação foi se formando naturalmente, de acordo com as circunstâncias, oportunidades e, sobretudo, com a chegada do momento em que o livro apareceu, feito e acabado."
O território livre dessa poesia não está a salvo de dísticos. Alvim continua a ser, na feliz definição do poeta Cacaso ecoada pelo crítico literário Roberto Schwarz, "o poeta dos outros".
"Meus livros acompanham de perto o que vou vivendo. Têm um forte lastro de minha experiência pessoal, o que não significa que se atenham a ela. Partem dela para chegar à do outro, para imaginar, sentir e pensar a do outro."
É também equilibrista entre lirismo e mordacidade, desesperança e prazer sacana -ou a Face Preta e a Face Amarela, como define Zuca Sardan na orelha do livro.
Não está certo de que "O Metro Nenhum" -por onde desfilam tremuras, fragilidade e ruína, mas também pilhéria da miséria miúda cotidiana, luz, sexo e evocação à poesia e a Drummond- seja uma obra desesperançosa.
"É. Mas talvez também não seja na medida em que o poema 'Através", que fecha o livro, ecoe por todo ele.
Um eco amoroso, difuso, que não discrimine nem privilegie coisa alguma e não deixe de fora a finitude e a doença. Sou, ademais, um admirador da arte dos velhos, para começar pela do meu pai, entalhador, cujos cortes na madeira foram se tornando cada vez mais apagados, uma bruma."
O poema citado, que encerra o livro, começa com os versos: "Vê se consegue outra source of supply/ Um pouco mais de tempo para conhecer-nos/ Monte Carlo em novembro (...)".
E termina assim: "Viu, lá fora?/ A gaivota!".
No fim, o clarão.

FOLHA.com
Leia a íntegra da entrevista
folha.com/no976259


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