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POLÍTICA CULTURAL
Comissão interministerial traça estratégia; objetivo é ter mecanismos prontos até final do mandato
Governo quer indústria cinematográfica
DA REPORTAGEM LOCAL
O cinema nacional produz em
média 25 títulos por ano e ocupa
9% do mercado de distribuição
no país. É pouco, tanto pelo critério de relevância cultural de uma
cinematografia, quanto no aspecto de atividade econômica.
Na metade do segundo mandato, o governo federal concluiu que
ações isoladas não garantiriam alteração expressiva e resultados
permanentes ao quadro. Agora
testa o desenho de uma estratégia
que envolva não apenas o Ministério da Cultura mas também pastas relacionadas à tecnologia, à indústria e ao comércio.
"O ponto básico é que tenhamos uma indústria capaz de produzir pelo menos 30% ou 40% do
que nosso mercado consome. A
base para a consolidação de uma
indústria do cinema é conquistar
uma fatia substancial do nosso
próprio mercado", diz o ministro
da Cultura, Francisco Weffort.
Por decreto, o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, instituiu, em setembro passado, comissão interministerial
para tratar do assunto. A comissão tem prazo de seis meses para
apresentar projeto de instalação
de uma indústria do cinema no
Brasil. Além dos ministérios da
Fazenda, das Comunicações, do
Desenvolvimento, da Cultura, das
secretaria Geral da Presidência da
República, da Comunicação e da
Casa Civil, participam da equipe,
como representantes do setor cinematográfico, os cineastas Cacá
Diegues e Gustavo Dahl, o produtor Luiz Carlos Barreto, o distribuidor Rodrigo Saturnino e o vice-presidente de Relações Institucionais das Organizações Globo,
Evandro Guimarães.
Até o fim deste mês, o grupo deve realizar sua primeira reunião
de trabalho, com base em levantamentos prévios de uma subcomissão integrada pelo secretário
do Audiovisual, José Álvaro Moisés, Rodrigo Saturnino, Gustavo
Dahl mais um diretor do BNDES.
Os participantes do Grupo Executivo de Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica no Brasil, como a comissão é chamada,
evitam citar o modelo de indústria que pretendem ver aplicado.
"Não tenho nenhum modelo próprio preconcebido. Vamos encontrá-lo na soma de opiniões",
diz Luiz Carlos Barreto. "O certo é
que o cinema não pode permanecer nesses ciclos de depressão e
euforia. Uma indústria do cinema
oscila na performance, mas nunca na sua existência", acrescenta.
No entanto os primeiros números previstos para o incremento
da produção de filmes no país sugerem discordância entre membros da comissão. O secretário José Álvaro Moisés fala em alcançar,
no prazo de dois anos, média de
60 filmes produzidos anualmente
e ocupação de 20% do mercado
de distribuição. Luiz Carlos Barreto argumenta: "Nos anos 70,
chegamos a ocupar 35% do mercado e produzir cem filmes por
ano. Qualquer meta abaixo desta
me parece tímida demais".
A extinção da Embrafilme (em
1990, pelo então presidente Fernando Collor de Mello) é invariavelmente citada como grande responsável pela derrocada do cinema nacional, que teve média de
produção inferior a quatro filmes
por ano na primeira metade da
década. O ressurgimento de mecanismo semelhante ao órgão extinto é bastante provável.
"Essa proposta (de criação da
indústria) eventualmente vai implicar mudanças de lei e a criação
de novas leis e instituições. Absorver isso é uma coisa que terá de
ser feita em mais um ano. Até o
início de 2002 vamos ter de ter esses mecanismos montados", diz
Weffort. Até, portanto, o fim do
governo Fernando Henrique Cardoso.
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