São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2000

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POLÍTICA CULTURAL
Comissão interministerial traça estratégia; objetivo é ter mecanismos prontos até final do mandato
Governo quer indústria cinematográfica

DA REPORTAGEM LOCAL

O cinema nacional produz em média 25 títulos por ano e ocupa 9% do mercado de distribuição no país. É pouco, tanto pelo critério de relevância cultural de uma cinematografia, quanto no aspecto de atividade econômica.
Na metade do segundo mandato, o governo federal concluiu que ações isoladas não garantiriam alteração expressiva e resultados permanentes ao quadro. Agora testa o desenho de uma estratégia que envolva não apenas o Ministério da Cultura mas também pastas relacionadas à tecnologia, à indústria e ao comércio.
"O ponto básico é que tenhamos uma indústria capaz de produzir pelo menos 30% ou 40% do que nosso mercado consome. A base para a consolidação de uma indústria do cinema é conquistar uma fatia substancial do nosso próprio mercado", diz o ministro da Cultura, Francisco Weffort.
Por decreto, o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, instituiu, em setembro passado, comissão interministerial para tratar do assunto. A comissão tem prazo de seis meses para apresentar projeto de instalação de uma indústria do cinema no Brasil. Além dos ministérios da Fazenda, das Comunicações, do Desenvolvimento, da Cultura, das secretaria Geral da Presidência da República, da Comunicação e da Casa Civil, participam da equipe, como representantes do setor cinematográfico, os cineastas Cacá Diegues e Gustavo Dahl, o produtor Luiz Carlos Barreto, o distribuidor Rodrigo Saturnino e o vice-presidente de Relações Institucionais das Organizações Globo, Evandro Guimarães.
Até o fim deste mês, o grupo deve realizar sua primeira reunião de trabalho, com base em levantamentos prévios de uma subcomissão integrada pelo secretário do Audiovisual, José Álvaro Moisés, Rodrigo Saturnino, Gustavo Dahl mais um diretor do BNDES.
Os participantes do Grupo Executivo de Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica no Brasil, como a comissão é chamada, evitam citar o modelo de indústria que pretendem ver aplicado. "Não tenho nenhum modelo próprio preconcebido. Vamos encontrá-lo na soma de opiniões", diz Luiz Carlos Barreto. "O certo é que o cinema não pode permanecer nesses ciclos de depressão e euforia. Uma indústria do cinema oscila na performance, mas nunca na sua existência", acrescenta.
No entanto os primeiros números previstos para o incremento da produção de filmes no país sugerem discordância entre membros da comissão. O secretário José Álvaro Moisés fala em alcançar, no prazo de dois anos, média de 60 filmes produzidos anualmente e ocupação de 20% do mercado de distribuição. Luiz Carlos Barreto argumenta: "Nos anos 70, chegamos a ocupar 35% do mercado e produzir cem filmes por ano. Qualquer meta abaixo desta me parece tímida demais".
A extinção da Embrafilme (em 1990, pelo então presidente Fernando Collor de Mello) é invariavelmente citada como grande responsável pela derrocada do cinema nacional, que teve média de produção inferior a quatro filmes por ano na primeira metade da década. O ressurgimento de mecanismo semelhante ao órgão extinto é bastante provável.
"Essa proposta (de criação da indústria) eventualmente vai implicar mudanças de lei e a criação de novas leis e instituições. Absorver isso é uma coisa que terá de ser feita em mais um ano. Até o início de 2002 vamos ter de ter esses mecanismos montados", diz Weffort. Até, portanto, o fim do governo Fernando Henrique Cardoso.


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