São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA
"Altas Horas" repete velhas fórmulas de Groisman

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Talvez porque acenem com a possibilidade de participação do público e sejam acessíveis a quem quiser comparecer, os programas de auditório prosperam na TV aberta. O gênero não é novo, mas é barato e popular. A estrutura de cada exemplar é semelhante e inclui entrevistas com artistas que estejam promovendo trabalhos, gincanas, concursos, reportagens. O formato parecido enfatiza conteúdos diferenciadores.
No último sábado, estreou o programa de Sérgio Groisman na Globo. "Altas Horas" possui o ambiente que consagrou o apresentador desde os tempos da TV Cultura. O auditório, composto de jovens, é incorporado ao palco do estúdio, para enfatizar a participação e a proximidade dos artistas convidados, um outro forte do programa. O debate livre de questões tabu pode se tornar uma marca poderosa.
Deslocado de seu horário vespertino para o fim da noite de sábado, Serginho procura se abrir para todas as idades. A intenção é explícita no quadro em que a produção levou duas senhoras a conhecer uma rave, no relato de um pai sobre como chegou a ir comprar drogas com o filho no esforço de ajudá-lo a se livrar do vício, ou ainda na brincadeira do filho de Rita Lee, convidada principal do programa de estréia.
A presença de Luiz Mott, líder do movimento gay, antropólogo e professor universitário baiano, para debater o homossexualismo, ou o depoimento de Cleber, preso em uma cela superlotada de uma das delegacias de polícia paulistanas sugerem abertura para assuntos e abordagens ousadas. O quadro em que Mott participou sofreu com o isolamento do auditório, condenado à escuridão, o pouco tempo para o debate e o primarismo dos convidados a polemizar. Vale dar mais tempo e integrar o quadro ao espírito do programa.
Já o "Qualquer Nota" coloca o elemento gincana confortavelmente em um estúdio a parte. Destaques são exibidos no telão. O júri que seleciona dois candidatos a serem apreciados pelo auditório incorpora profissionais de fora da TV, como Lara Pinheiro, coreógrafa e professora da PUC, ou Marco Vettore, circense da escola Nau de Ícaro.
Ainda sem duração definida, "Altas Horas" está sobrecarregado de quadros, o que prejudica interações improvisadas promissoras entre, por exemplo Ivete Sangalo, atuando como repórter da noite de Salvador, e os participantes no estúdio. O excesso de atividade resulta em um ritmo geral ansioso, que acaba prejudicando os recursos que o próprio programa propõe.
"Altas Horas" é um misto promissor de revista de variedades com programa de debates. O desafio é não ficar nem nas generalidades mornas que as perguntas padronizadas sugerem, nem no sensacionalismo melodramático fake que satura os "programas-realidade". Basta apostar nas inovações propostas.

E-mail: ehamb@uol.com.br


Avaliação:    



Texto Anterior: GNT leva Mostra do Redescobrimento à TV
Próximo Texto: Cinema/crítica: Apesar do roteiro, "Bufo" revela ótimo diretor
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.