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CRÍTICA
"Altas Horas" repete velhas fórmulas de Groisman
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Talvez porque acenem
com a possibilidade de participação do público e sejam acessíveis a quem quiser comparecer,
os programas de auditório prosperam na TV aberta. O gênero
não é novo, mas é barato e popular. A estrutura de cada exemplar
é semelhante e inclui entrevistas
com artistas que estejam promovendo trabalhos, gincanas, concursos, reportagens. O formato
parecido enfatiza conteúdos diferenciadores.
No último sábado, estreou o
programa de Sérgio Groisman na
Globo. "Altas Horas" possui o
ambiente que consagrou o apresentador desde os tempos da TV
Cultura. O auditório, composto
de jovens, é incorporado ao palco
do estúdio, para enfatizar a participação e a proximidade dos artistas convidados, um outro forte do
programa. O debate livre de questões tabu pode se tornar uma
marca poderosa.
Deslocado de seu horário vespertino para o fim da noite de sábado, Serginho procura se abrir
para todas as idades. A intenção é
explícita no quadro em que a produção levou duas senhoras a conhecer uma rave, no relato de um
pai sobre como chegou a ir comprar drogas com o filho no esforço de ajudá-lo a se livrar do vício,
ou ainda na brincadeira do filho
de Rita Lee, convidada principal
do programa de estréia.
A presença de Luiz Mott, líder
do movimento gay, antropólogo e
professor universitário baiano,
para debater o homossexualismo,
ou o depoimento de Cleber, preso
em uma cela superlotada de uma
das delegacias de polícia paulistanas sugerem abertura para assuntos e abordagens ousadas. O quadro em que Mott participou sofreu com o isolamento do auditório, condenado à escuridão, o
pouco tempo para o debate e o
primarismo dos convidados a polemizar. Vale dar mais tempo e integrar o quadro ao espírito do
programa.
Já o "Qualquer Nota" coloca o
elemento gincana confortavelmente em um estúdio a parte.
Destaques são exibidos no telão.
O júri que seleciona dois candidatos a serem apreciados pelo auditório incorpora profissionais de
fora da TV, como Lara Pinheiro,
coreógrafa e professora da PUC,
ou Marco Vettore, circense da escola Nau de Ícaro.
Ainda sem duração definida,
"Altas Horas" está sobrecarregado de quadros, o que prejudica interações improvisadas promissoras entre, por exemplo Ivete Sangalo, atuando como repórter da
noite de Salvador, e os participantes no estúdio. O excesso de atividade resulta em um ritmo geral
ansioso, que acaba prejudicando
os recursos que o próprio programa propõe.
"Altas Horas" é um misto promissor de revista de variedades
com programa de debates. O desafio é não ficar nem nas generalidades mornas que as perguntas
padronizadas sugerem, nem no
sensacionalismo melodramático
fake que satura os "programas-realidade". Basta apostar nas inovações propostas.
E-mail: ehamb@uol.com.br
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