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Reggio promete uma comédia pós-trilogia
AMIR LABAKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Depois de mais de um quarto de
século de dedicação, o cineasta
americano Godfrey Reggio, 60, finalmente conclui sua trilogia sobre o mal-estar da civilização com
"Naqoyqatsi" (Vida como Guerra). Contando com outra excepcional trilha do minimalista Philip Glass, o filme radicaliza sua
crítica ao progresso tecnológico
recorrendo ao próprio veneno, ao
apostar na manipulação de imagens com novas tecnologias e retrabalhar cenas de arquivo.
"Naqoyqasti" estréia hoje na 26ª
Mostra BR de Cinema - Mostra
Internacional de Cinema em São
Paulo, às vésperas de seu lançamento nas salas comerciais americanas. O terceiro episódio da trilogia "qatsi" já tem distribuição
assegurada também por aqui.
De Nova Orleans, sul dos EUA,
Reggio falou com a Folha por telefone na tarde da última segunda-feira. Agradeceu a Steven Soderbergh ("Traffic") a viabilização do filme, falou no "terror do
mundo globalizado" e adiantou
uma radical guinada em sua carreira, prometendo uma comédia.
Leia a seguir.
Folha - Houve um intervalo de
quatro anos entre os dois primeiros
episódios da série "Qatsi" e quase
quinze anos desde então. Por que
um intervalo tão longo?
Godfrey Reggio - Não levou tanto tempo por minha causa. Demorou, sim, devido à dificuldade
para conseguir levantar o dinheiro. A indústria que controla o dinheiro resiste em financiar filmes
que não tenham atores conhecidos, estrelas, uma história tradicional. Felizmente apareceu um
anjo que viabilizou o projeto.
Folha - Quem foi ele?
Reggio - Foi Steven Soderbergh.
Ele leu uma entrevista minha ao
"New York Times" em 2000. Me
ligou e perguntou se eu aceitaria
que ele entrasse com o dinheiro.
Ele já conhecia e admirava os dois
primeiros episódios. Aceitei, assim foi feito e ele cumpriu o que
prometeu.
Folha - Em retrospecto, passadas
duas décadas, com a aceleração do
progresso tecnológico e a crescente crítica à falta de limites éticos, a
trilogia não parece até mais sintonizada com nossos tempos, com algo de profético?
Reggio - Sim, concordo que a trilogia parece mais atual. Não gosto
da idéia de profecia como uma
forma de adivinhar o futuro, mas
se se considera profético saber ler
os sinais do presente, aceito a definição. O filme mostra a guerra civilizada, algo que a gente não vê,
mas está lá. Tentei ser um "outsider" e não alguém de dentro.
Mostrar o terror do mundo globalizado. A unidade ditada pela
homogeneização tecnológica. A
"los-angelização" do planeta.
Folha - "Naqoyqatsi" apresenta
breves imagens de Bin Laden e do
presidente George W. Bush, mas
não trata diretamente dos ataques
terroristas de 11 de setembro. Por
quê?
Reggio - Bin Laden, Bush e mesmo uma rápida imagem do
World Trade Center já estavam
no filme antes daqueles terríveis
eventos. Aquilo foi tão horrível
que não quis inclui-lo, pois o filme trata do terror da vida comum
cotidiana.
Folha - Se a série "Qatsi" termina
mesmo aqui, o que virá a seguir?
Reggio - Sim, é o fim desta série.
Philip Glass está tentando me
convencer a começar uma nova.
Outra trilogia. Não tenho certeza
ainda. Não quero me repetir. Gostaria de fazer algo distinto, inclusive em estilo. Pensei numa comédia, algo bem-humorado, com
atores e com linguagem, mas não
com palavras e sim com linguagem corporal. Já comecei a escrever e pretendo me dedicar ao projeto depois de dezembro.
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